A Psicologia Social e o Social na Psicologia: Apontamentos Históricos
Monica Musatti Cytrynowicz[1]
A Psicologia Social,
como campo específico e delimitado de conhecimento, começou a se definir em São
Paulo na década de 1930. Até este momento não se pode
considerá-la autônoma e distinta em relação à Sociologia, embora tenha sido
objeto do estudo de alguns autores, como Oliveira Viana, em Pequenos Estudos
de Psicologia Social, publicado em 1921. Como ressalta este autor, tanto a Psicologia
Social como a Sociologia foram marcadas em seu início pelo Positivismo de
Augusto Comte.
A trajetória da
Psicologia Social se deu em marcos institucionais, principalmente em faculdades
que mantinham atividades de pesquisa e de ensino, a começar pela Escola de
Sociologia e Política de São Paulo e depois na Universidade de São Paulo (USP)
e na Psicologia da Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo (PUC-SP).
Atualmente, a
Psicologia Social é um amplo campo de pesquisa e de atuação, que envolve
diferentes espaços institucionais e comunitários, exercendo atividades no
âmbito das seguintes áreas: saúde, educação, trabalho, lazer, meio-ambiente,
comunicação social, justiça, segurança e assistência social.
Raul Briquet e o
primeiro curso de Psicologia Social
Tendo sua origem
compartilhada com a Sociologia, foi na então recém-fundada Escola de Sociologia
e Política de São Paulo que foi organizado, em 1933,o primeiro curso de
Psicologia Social. Considerado como um dos marcos iniciais da área, o curso foi
ministrado pelo médico Raul Carlos Briquet, um dos fundadores da Escola e
responsável pela Aula Inaugural em 17 de julho de 1933, além de primeiro
titular da Cadeira e responsável pelo curso de Psicologia Social.[1]
A Escola de Sociologia
e Política promovia a formação em três anos e o curso de Psicologia Social era
oferecido no primeiro semestre. Outras disciplinas de Psicologia, como
Psicotécnica, foram também ministradas desde o início da Escola.
Em 1935, Raul Briquet
publicou o livro Psicologia Social, reunindo as aulas ministradas em
1933. O livro é dividido em duas partes: geral e especial. Na parte geral,
Briquet apresenta uma introdução histórica, abrangendo aspectos da Biologia, da
Psicologia e da Sociologia. Dentre os subsídios da Psicologia, Briquet expõe
quatro partes: Behaviorismo, Guestaltismo, Leis da Natureza Humana e
Aprendizagem.
Para Briquet, a
Psicologia Social – definida como ciência que estuda os aspectos sociais da
vida mental – constitui, ao lado da Biologia, da Antropologia e da História, as
bases da Sociologia: “A Psicologia Social participa assim do método sociológico
como do biológico. Não pode constituir uma ciência autônoma pelas simples razão
que não mira a problema algum cujo estudo não incumba, respectivamente, à
Biologia ou à Sociologia”.[2]
Na parte especial,
Briquet trata de temas como os fatores psíquicos que motivam o comportamento
social, os efeitos desses fatores sobre os indivíduos em sociedade e aspectos
da Psicologia coletiva: preconceito étnico, liderança, opinião pública e
revolução. “Os preconceitos resultam do etnocentrismo, segundo o qual o nosso
grupo é centro universal e unidade-padrão”, escreve Briquet no capítulo sobre
“preconceitos de raça”, acrescentando: “A doutrina errônea da inferioridade
biológica de algumas raças, com as ilações decorrentes da supremacia de outras,
é o maior impedimento à paz universal”.[3]
Conforme artigo de
Elizabeth Bomfim, lembrando os debates anti-imigração da Constituinte de 1934,
a atitude antirracista de Briquet “levou-o a um ferrenho combate ao preconceito
racial num momento histórico em que – aos preconceitos contra negros e mulatos
– eram acrescidas as barreiras à imigração japonesa. Posicionou-se, ainda,
contra a censura e defendeu a possibilidade de revolução contra um governo
injusto”.[4]
Na mesma época que
Briquet, o também médico Artur Ramos ministrou no Rio de Janeiro, em 1935, um
curso de Psicologia Social na Universidade do Distrito Federal e publicou no
ano seguinte o livro Introdução à Psicologia Social com o programa do
curso.[5]Conforme
Antônio Almeida, “com Artur Ramos encerra-se a fase de origem próxima da
Psicologia Social no Brasil”.[6]
Laboratório de
Psicologia do Instituto de Educação
Na década de 1930, na
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo
(FFCL-USP) existiam dois núcleos de ensino de Psicologia: um associado ao curso
de Pedagogia e outro ao de Filosofia. Na cátedra de Psicologia Educacional, da
Pedagogia, dirigida por Noemy Rudolfer, funcionava um Laboratório de
Psicologia, criado em 1931, que tinha a “dupla finalidade de promover a
pesquisa e oferecer serviços psicológicos à comunidade, através de convênio com
a Secretaria da Educação”.[7]
Este Laboratório desenvolvia também pesquisas em Psicologia Social, como o
coordenado pela psicóloga Betti Katzenstein, sobre a influência do ambiente
social na origem dos casos problemas, ou a desenvolvida por Judith Hallier e
Jovino Guedes Macedo sobre a relação entre a profissão dos pais e a
nacionalidade nos jogos de escolares paulistas.[8]
O Laboratório de
Psicologia era na época um dos centros mais importantes de Psicologia em São
Paulo, reunindo diversos profissionais e interessados na área e foi um dos
núcleos que deu origem depois à própria faculdade de Psicologia na USP.[9]
Foi no
Laboratório de Psicologia que Aniela Meyer-Ginsberg começou sua carreira
profissional como psicóloga em São Paulo. Aniela chegou à cidade de São Paulo
em 1936, oriunda da Polônia, com sólida formação e mestrado e doutorado
defendidos na Universidade de Varsóvia. Conforme Mônica Azevedo, foi no
Laboratório de Psicologia, da cátedra de Psicologia Educacional, que Aniela e
Betti Katzenstein
desenvolveram pesquisas e projetos em conjunto e este
encontro foi o início de uma amizade e parceria profissional que perdurou por
toda vida.[10]
Betti Katzenstein havia
concluído seu doutorado em Psicologia no Instituto de Hamburgo, em 1931, onde
trabalhou com William Stern. Refugiada do nazismo, imigrou ao Brasil em maio de 1936 e três meses depois ingressou no Laboratório
de Psicologia, a princípio como colaboradora voluntária e, depois, em março de
1937, como assistente.[11]
Nesta época, em
conjunto com Beatriz de Freitas, Betti Katzenstein pesquisou também os
interesses das crianças pelos livros (o que gostavam de ler e o que encontravam
na literatura) e pelo cinema. Além das questões psicológicas envolvidas, havia
a preocupação de influenciar as políticas educativas e relativas às crianças,
como a defesa de bibliotecas infantis e da publicação de mais e melhores livros
para as crianças. O impacto significativo do cinema demonstrado por estes
estudos levou ao interesse pela análise de anúncio de filmes, estudo de
decretos que regulavam a assistência de menores ao cinema e a observação das
crianças durante as sessões cinematográficas.[12]
A Escola Livre de
Sociologia e Política
Noemy
Rudolfer, assim como Betti Katzenstein e Aniela Meyer-Ginsberg, também
trabalhou na Escola Livre de Sociologia e Política. Na década de 1930, Noemy
assumiu as Cadeiras de Psicologia Geral e de Psicologia Social, tendo como
professora assistente Aniela, que dirigiu o Laboratório de Psicologia Social da
Escola a partir de sua criação em 1937. Segundo Noemy, este foi o primeiro – e
até 1941 o único – laboratório de pesquisa específica em Psicologia Social do Brasil.[13]
Foi neste
laboratório que Aniela desenvolveu em 1939 sua pesquisa sobre a “Psicologia do
anúncio em jornais”.[14] Desde o início, o Laboratório
promovia também trabalhos de orientação vocacional e seleção dos candidatos aos
cursos, tendo a partir dos anos 1940, após a saída de Aniela, se dedicado
principalmente às áreas de seleção e de elaboração e adaptação de testes.[15]
O curso de Donald
Pierson, na Escola Livre de Sociologia e Política, também é
um marco deste período inicial da Psicologia Social, conforme
Elizabeth Bomfim. O curso foi registrado no livro Teoria
e Pesquisa em Sociologia, uma coletânea de artigos sobre Sociologia e
Ecologia Humana. Pierson, quando o publicou em 1945, já estava há seis anos no
Brasil lecionando Sociologia, Psicologia Social e Antropologia Social. Entre
seus trabalhos técnicos, destacava-se a coordenação da coleção ‘Biblioteca de
Ciências Sociais’ e a publicação da obra Negroes in Brazil: a study of race
contact at Bahia (1942).[16]
Pierson
entendia a Psicologia Social como um subcampo tanto da Sociologia quanto da
Psicologia, posição defendida também pela revista Sociologia publicada
pela Escola de Sociologia e Política.[17]
Em 1945,
Virginia Leone Bicudo, psicóloga e professora da Escola de Sociologia e
Política, orientada por Pierson escreveu Estudo de Atitudes Raciais de
Pretos e Mulatos em São Paulo, que, conforme Alessandro Santos e outros,
foi a primeira dissertação de Mestrado sobre relações étnico-raciais defendida
em uma instituição universitária brasileira. Os autores
ressaltam que a pesquisa de Virginia trabalhava aspectos da Sociologia e da
Psicologia Social: “Essa interface entre Sociologia e
Psicologia Social ganha mais evidência no final dos anos 1940, sob os ecos do
Holocausto, que impulsiona uma agenda de pesquisa em ciências humanas no
pós-guerra voltada para o estudo de estereótipos, atitudes e caráter nacional”.[18]
Otto Klineberg na USP
Outro importante marco
na trajetória da Psicologia Social em São Paulo foi o curso oferecido pelo
norte-americano Otto Klineberg, em 1945, na Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras da Universidade de São Paulo (FFCL-USP), que se tornaria a origem do
departamento de Psicologia Social e marca o início da institucionalização desta
área de conhecimento como ciência autônoma.[19]
Professor da Columbia
University, Otto Klineberg escreveu e publicou em 1940 nos Estados Unidos o
livro Social Psychology, manual que se tornou um clássico da área.
Convidado a vir ao Brasil, Klineberg assumiu a Cátedra de Psicologia do curso
de Filosofia da FFCL-USP, alterando o seu enfoque e dirigindo-a mais para a
Psicologia Social. O primeiro professor a ocupar a Cátedra de Psicologia fora o
filósofo francês Jean Maugüé (1935 a 1944), que organizou a Cadeira seguindo o
modelo francês de aulas magnas e considerando a matéria do ponto de vista da
formação em Filosofia.
Otto Klineberg esteve à
frente da Cadeira de 1945 a 1947, passando a Cátedra para Annita de Castilho e
Marcondes Cabral. Klineberg ampliou as disciplinas de Psicologia, que passaram
a ser oferecidas em três anos. Em 1946 criou um curso de especialização em
Psicologia que incluía as disciplinas de Biologia, Fisiologia, Estatística,
Sociologia, Antropologia e Psicologia Aplicada.[20] Neste
período também organizou um manual de Psicologia – Psicologia Moderna –
com vários colaboradores que marcaram a história da Psicologia brasileira, entre
eles Annita Cabral, Durval Marcondes, Virginia Bicudo, Aniela Ginsberg e Betti
Katzenstein.[21]
Em 1946, Otto Klineberg
publicou “Introdução à Psicologia Social”, que preenche o primeiro número do Boletim
de Psicologia da FFCL-USP e que apresentava o conteúdo das aulas do curso
da Faculdade em 1945. No início do volume, Klineberg delineia o que considera o
campo da Psicologia Social: “A Psicologia tratará das atividades do indivíduo;
a Sociologia e a Etnologia lidarão com grupos ou com instituições sociais. A
Psicologia Social tratará do individuo, da maneira pela qual é ele afetado por
outros indivíduos, pelos grupos e pelas instituições sociais. Praticamente,
será difícil, se não impossível, manter sempre esta distinção. Por isto não
precisamos nos desculpar. As linhas de demarcação entre as ciências são
usualmente artificiais”.[22]
Klineberg chama a
atenção para o campo do Social no interior da Psicologia e, ao responder à
indagação se toda a Psicologia era uma Psicologia Social, ressalta que apenas
as reações fisiológicas e biológicas não são sociais: “Assim, podemos pois
dizer – que embora nem toda a Psicologia seja Psicologia Social, certamente a
maior parte dela o é; na realidade muito mais do que geralmente se pensa. No
passado, muitos psicólogos não se deram conta de que, quando falavam da
Psicologia geral ou humana, tudo o que eles realmente sabiam, em parte ou mesmo
completamente, era a Psicologia daquela espécie de gente entre a qual viviam.
Isto é, tratava-se principalmente da Psicologia do homem ocidental
‘civilizado’, de fundo europeu ou americano. Pode-se mesmo dizer que era a
Psicologia dos estudantes de colégios e universidades ocidentais, pois este
constituíam a grande maioria dos sujeitos empregados nos experimentos de
laboratório!”[23]
Caráter nacional,
questões raciais e preconceito
Os estudos do caráter
nacional, assim como as questões raciais e o preconceito, eram os temas de
interesse de Klineberg. Em “Introdução à Psicologia Social”, Klineberg ressalta
a importância do estudo científico do tema: “As crenças sobre raça têm uma
aplicação prática e um significado político que afetam a vida dos povos em todo
o mundo”. Ele questiona as várias definições das raças, especialmente as
teorias que relacionam características físicas como determinantes sociais,
refutando os argumentos pela mesma lógica com que eram defendidos. Ao responder
aos que defendem uma relação entre as características físicas e o
“desenvolvimento evolutivo”, afirma que os defensores escolhem apenas os
critérios que lhe interessam e nunca, por exemplo, o fato de que os negros têm
menos pelos que os brancos e os mongóis têm os lábios mais finos que os
brancos, o que, segundo a mesma lógica, levaria à conclusão contrária. Ao
responder aos que atribuíam a diferença ao tamanho do cérebro, lembrava que os
negros de grupos como os Kaffirs e Amoxosa têm, em média, cérebros maiores que
grupos brancos como os escoceses, o que evidenciava igualmente como a escolha
dos caracteres físicos era seletiva para demonstrar as supostas “teses raciais”.[24]
Klineberg se preocupava
especialmente com os estudos que envolviam testes de características de
personalidade ou de inteligência: “Os testes têm, entretanto, um sério
inconveniente: fornecem variações individuais e coletivas que podem seguramente
ser atribuída à hereditariedade somente se os grupos e indivíduos
tratados têm oportunidades ambientais semelhantes. Na comparação de duas
populações raciais ou nacionalmente distintas, tal grau de similitude é quase
impossível de encontrar-se, e as diferenças nos resultados dos testes poderão,
portanto, ser sujeitas a grande diferenças de interpretação”.[25] Neste
sentido, cita um estudo que analisava a relação entre QI e grupos raciais nos
EUA e, comparando a distribuição racial da população com os gastos per capita
em educação, mostrava que, na verdade, a variável mais importante era o
ambiente e não a raça – provando, inclusive, que os negros das cidades no Norte
apresentavam níveis superiores aos brancos do Sul dos Estados Unidos.
Na sessão inaugural da
Sociedade de Psicologia de São Paulo, em 12 de dezembro de 1945, Otto Klineberg
proferiu a conferência “Psicologia e Caráter Nacional”, chamou a atenção para
os estereótipos e criticou o argumento de que sempre há um ‘grão de verdade’
neles. Citou exemplos de como os chineses eram descritos na Califórnia em dois
momentos diversos: antes de 1870, quando eram necessários como mão-de-obra
(“acima de qualquer elogio”, “sóbrios”, “obedientes à lei”, “capazes para todos
os serviços”, etc.), e depois, quando não se queria mais imigrantes (“imundos”,
“repugnantes nos seus hábitos”, “perigosos”, “inferiores mental e moralmente”,
etc.). “É pouco provável que os chineses tenham mudado durante este tempo, mas
o estereótipo certamente mudou”, escreveu ele.[26]
Apesar das ressalvas, Klineberg avaliava que o estudo do caráter nacional era
um rico campo a ser explorado, não só pelos aspectos dos indivíduos, como
através das realizações culturais daquele povo, como humor, poesia, ficções,
provérbios populares, etc. E concluía a conferência destacando a complexidade
do tema e a crença no desenvolvimento de estudos.
Depois de retornar aos
Estados Unidos, Klineberg publicou em 1954 a edição revista e ampliada de Social
Psychology, que teve a primeira edição brasileira (Psicologia Social)
em 1959. Silvia Lane assim avalia a importância desta obra: “A influência
maior, na Psicologia, foi sempre a norte-americana, através dos seus centros de
estudos, para onde iam se aperfeiçoar cientistas e professores, ou de onde
vinham professores universitários, convidados para cursos em nossas faculdades,
como foi o caso do professor Otto Klineberg, que introduziu a Psicologia Social
na Universidade de São Paulo, ainda na década de 1950. E, por sinal, o primeiro
livro de Psicologia Social publicado no Brasil foi a tradução da obra de
Klineberg, em 1959 (...) Esta Psicologia Social continuou sendo ensinada, com
pequenas reformulações devido a novas pesquisas, nos cursos de Psicologia
criados a partir de 1962, sem grandes alterações”.[27]
Como
consultor da Unesco, Otto Klineberg recomendou que se realizasse uma ampla e
diversificada investigação sobre o complexo e matizado padrão de relações
raciais no Brasil. Enfatizou também a importância da inclusão nas investigações
dos aspectos psicossociais e sugeriu o nome dos possíveis pesquisadores.[28]
Assim, Virgínia Bicudo e Aniela Ginsberg foram convidadas a
participar deste importante estudo,
coordenado por Roger Bastide e Florestan Fernandes. Os resultados dos trabalhos
realizados por elas foram publicados em 1955 no livro Relações Raciais entre
Negros e Brancos em São Paulo.[29]
Aniela
pesquisou as atitudes de um grupo de 208 escolares em relação às crianças
negras. No estudo, propôs um jogo em que oferece duas bonecas (uma negra e
outra branca) e pede às crianças para vestir, escolher uma casa, uma atividade,
etc. para cada uma e comentar suas escolhas. Também oferece cartelas com
desenhos em que há crianças brancas e negras em situações que indicariam
preconceito e pede para as crianças comentarem. Já Virgínia estuda as atitudes
dos alunos em relação à cor de seus colegas.[30] Com esta pesquisa,
Virgínia Bicudo encerra seus estudos sobre atitudes raciais e passa a se
dedicar à clínica, à formação e ao ensino da Psicanálise.
Aniela Ginsberg, embora
tenha se tornado uma especialista em teste de Rorschach, continuaria
desenvolvendo trabalhos no campo da Psicologia Social, especialmente em
questões transculturais e interculturais. Em 1952, Aniela foi
convidada por Enzo Azzi para organizar e dirigir o
Centro de Orientação Psicológica do Instituto de Psicologia da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (IPPUC-SP), dedicando-se à pesquisa na área de Psicologia Social e ao
desenvolvimento de uma linha de trabalho que se tornaria inovadora da pesquisa
no País.[31]
Annita Cabral, Dante
Moreira Leite e o Caráter Nacional Brasileiro
Annita de Castilho e
Marcondes Cabral substituiu Otto Klineberg na Cátedra de Psicologia na USP e
manteve seu trabalho e o sistema de ensino criado por ele, acrescentando ao
currículo um treinamento obrigatório de testes mentais e de técnicas
projetivas, um curso de Gestalt, um de Piaget e um projeto de campo de
Psicologia Social.[32]Annita
Cabral era graduada em Filosofia pela FFCL-USP e fez especialização nos EUA,
onde foi aluna de Kurt Koffka e Max Wertheimer (Gestalt) em Nova York. Ela se
tornaria a principal responsável pelo desenvolvimento da Psicologia Social na
USP em seu início institucional.
Ainda nos anos 1950, o
trabalho de um dos orientandos de Annita Cabral, Caráter Nacional
Brasileiro: Descrições das Características Psicológicas do Brasileiro através
de Ideologias e Estereótipos, de Dante Moreira Leite, defendido em 1954, se
destacaria na produção de Psicologia Social. Nascido em 1927, licenciou-se em
Filosofia na FFCL-USP em 1950. Segundo Odair Furtado: “A tese de Leite tem esse
impacto porque retrata a superação do modelo racial, a partir de uma profunda
análise da concepção de caráter e de caráter nacional”.[33]
Sobre as influências
recebidas na graduação, Dante Moreira Leite rememorava: “A grande influência
que aí recebi foi indiscutivelmente das aulas de Annita Castilho Marcondes
Cabral, tanto nos cursos regulares de Psicologia Social e Gestalt théorie,
quanto, mais tarde em seminários de leitura”. E completava: “No campo da
Sociologia, tive cursos com Florestan Fernandes e Antonio Cândido, mais tarde
utilizados no estudo de Psicologia Social, onde um dos polos acaba sendo sempre
uma perspectiva sociológica ou, pelo menos, cultural”.[34] Dante
lecionou Psicologia na FFCL-USP entre 1951 e 1958 como assistente de Annita
Cabral, que era a chefe da Cátedra.
O estudo da Psicologia
seria um acréscimo aos seus estudos, conforme ressalta Geraldo Paiva: “Embora
licenciado em Filosofia, voltou-se cada vez mais para o estudo da Psicologia e,
nesta, adotou um enfoque fundamentalmente gestáltico, lewiniano e heideriano.
Em 1954 doutorou-se em Filosofia com a famosa tese, na área da Psicologia,
intitulada Caráter Nacional Brasileiro: Descrições das Características
Psicológicas do Brasileiro através de Ideologias e Estereótipos”.[35]
E conforme Ecléa Bosi:
“É tal a massa de traços psíquicos e morais que sai desses livros, que Dante
não poderia ter dominado matéria tão vasta senão nos termos que ela merecia:
termos de ideologia. Aí está o significado mais alto da sua contribuição à
cultura brasileira: ter ido ao fundo do problema das definições psicológicas de
um povo, submetendo-as à análise ideológica dos valores (endossados ou
rejeitados pelos seus intérpretes)”.[36]
“E de Guimarães Rosa, do seu Grande Sertão: Veredas foi que ele tirou a
epígrafe do Caráter Nacional Brasileiro: uma frase que é o maior
desmentido aos que creem que os homens são radicalmente desiguais por causa da
raça ou da religião. Aos que dizem: ‘existem brasileiros, existem ingleses,
existem negros, existem judeus’, e juram por essas diferenças, Dante, pela boca
de Riobaldo, jagunço e filósofo respondeu: ‘Existe é homem humano’, lembra
Ecléa Bosi”.[37]
Após a conclusão do
doutorado, Dante Moreira Leite foi estudar na Universidade de Kansas (EUA) e,
ao retornar, retomou o trabalho da tese, que daria origem ao livro O Caráter
Nacional Brasileiro: História de uma Ideologia, (atualmente na 7ªedição,
publicada em 2007).
Nas conclusões da
segunda edição de O Caráter Nacional Brasileiro Moreira Leite afirmava:
“Não existe qualquer prova de que um povo tenha características psicológicas
inexistentes em outro. Quando muito seria possível pensar em características
mais importantes num grupo do que em outro, mas isso só poderia ser feito
através de técnicas quantitativas e de distinção entre grupos. Mas ainda que
algum dia se chegue a esse tipo de estudo, as características psicológicas não
poderão ser entendidas como fonte de desenvolvimento histórico e social. Ao
contrário, as condições da vida social é que determinam as características
psicológicas, embora estas, depois, possam também influir na vida social”.[38] E completava:
“Portanto, as ideologias do caráter nacional brasileiro frequentemente
representam, não uma autêntica tomada de consciência de um povo, mas apenas um
obstáculo no processo pelo qual uma nação surge entre as outras, ou pelo qual
um povo livre surge na História”.[39]
Na avaliação de Odair
Furtado,
a obra de Moreira Leite estava completamente inserida na produção da mesma
época em Ciências Humanas dentro da universidade, ao mesmo tempo em que se
destaca do contexto do que era produzido no campo da Psicologia Social: “Dante
Moreira Leite abre uma senda para a constituição de uma Psicologia Social
vinculada ao estudo da realidade brasileira. Elabora seu trabalho no mesmo
momento em que se constitui a Sociologia brasileira com Florestan Fernandes e
que se renova o debate e a teoria sobre a literatura brasileira com Antônio
Cândido. No entanto, essa perspectiva não se desenvolve na Psicologia Social.
Prevalece a importação do modelo experimental norte-americano e do qual, a
partir de 1962, Aroldo Rodrigues será o maior representante”.[40] Moreira
Leite acreditava que a Psicologia Social brasileira havia surgido mais da
transposição de teorias e conhecimentos estrangeiros do que da tentativa de dar
conta de problemas de nossa vida coletiva, ressaltam Schmidt e Neves: “O que
ele buscava, em contraposição às reproduções de tais teorias e conhecimentos,
era a constituição de uma ciência enraizada na realidade social brasileira,
sem, contudo, deixar de reconhecer a importância de certas teorias e
conhecimentos europeus e norte americanos”.[41]
Preocupado com a pouca
oferta de livros de qualidade na área, Dante Moreira Leite teve também atuação
como tradutor: “Havia a necessidade, não apenas de padronização de uma
linguagem psicológica, mas também de orientação quanto a livros que deveriam
ser publicados ou traduzidos. Isto explica que, já há alguns anos, eu tenha
aceito a incumbência de participar do conselho editorial da Editora Pioneira,
e, mais recentemente, da Editora Perspectiva”.[42]
Dante foi responsável pela tradução de 47 títulos de Psicologia, publicados
entre 1960 e 1976.[43]
Entre 1959 e 1971, ele ministrou as disciplinas de Psicologia e Psicologia
Educacional na FFCL de Araraquara.[44]Em
1964 tornou-se Livre-Docente em Psicologia Educacional com a tese Psicologia
e Literatura.
Em 1957, por iniciativa
de Annita Cabral, foi oficializado, através de legislação estadual, o curso de
graduação em Psicologia da FFCL-USP, com duração de quatro anos e do qual
participavam os professores da Cadeira de Psicologia do curso de Filosofia e da
Cadeira de Psicologia da Pedagogia. O curso oferecia um diploma de bacharel em
Psicologia reconhecido no Estado de São Paulo antes mesmo da regulamentação da
profissão. Três turmas se formaram neste regime. Em 1962, com a regulamentação
da profissão, este curso foi modificado e acrescido de um quinto ano,
originando o curso de graduação atual.[45]
O curso funcionava em
vários locais que abrigavam os cursos da FFCL, como a Alameda Glete e a Rua
Maria Antonia. Na época da criação do curso, a Cadeira de Annita Cabral foi
desmembrada em Cadeira de Psicologia Social e Experimental e
Cadeira de Psicologia Clínica, esta assumida por Durval Marcondes. Segundo Zélia Chiarottino, a disciplina de Psicologia Social
ministrada por Annita Cabral tratava dos processos psicossociais básicos a
partir da teoria da Gestalt de Koffka e Wertheimer, Kurt Lewin e Asch.[46]
Estruturação de um
campo e de uma imagem profissional
Com a regulamentação
oficial da profissão em 1962 e o início dos primeiros cursos de graduação no
país, a Psicologia mudou o seu patamar de inserção e de reconhecimento
profissional e social. Em São Paulo, os primeiros cursos foram das faculdades
de Filosofia da USP, do Sedes Sapientiae e da São Bento, ambos da PUC-SP. A
partir do início dos anos 1970 ocorreu um crescimento do número de cursos e
faculdades e uma expansão do número de profissionais.
Para a Psicologia
Social, no entanto, a regulamentação da profissão teve um impacto menor que em
outras áreas, uma vez que seu campo de atuação e saber não foram reconhecidos
como exclusivos dos psicólogos. Tanto que muitos profissionais e professores da
área tiveram dificuldade de reconhecimento pelo MEC da qualificação e da
experiência profissional já exercida para a obtenção do título de psicólogo.[47]
Ao analisar a
regulamentação da profissão e dos cursos universitários de psicologia, Sylvia
Leser de Mello ressalta: “Antes de 1962, os cursos superiores de Psicologia não
eram profissionalizantes; após a regulamentação dos cursos, e da profissão,
tornaram-se estritamente profissionalizantes, de acordo, aliás, com a
própria Lei n.4.119. Entretanto, se essa profissionalização do Ensino
Superior eliminou a precariedade na formação dos técnicos e valorizou a
profissão, só o fez ao custo de uma adesão indiscriminada aos padrões
societários de culto ao profissional liberal. É verdade que muitas
irregularidades na aplicação das técnicas psicológicas foram assim sanadas. Mas
antes de se transformar num profissional liberal, isto é, antes da
regulamentação profissional, o psicólogo, bem ou mal, trabalhava nas
escolas, nas indústrias, em cargos públicos que, muitas
vezes, ajudaram a criar. Havia algo de mais urgente a realizar, que era
demonstrar, fosse como fosse, a importância social da profissão. Nessa
medida, a grande vitória da Lei n. 4.119 seria, não a regulamentação
profissional, mas a criação dos cursos superiores como a única via de acesso
à profissão”.[48]
Ao analisar a atuação
dos psicólogos, assim como suas aspirações profissionais, Sylvia é crítica em
relação ao que considera o predomínio absoluto da clínica particular: “Nossas
objeções não visavam à prática clínica da Psicologia Clínica, e sim a
orientação unidimensional da Psicologia Aplicada e a vinculação da imagem
profissional à do médico”.[49]
A este respeito analisa dois fatores negativos desta identificação, a primeira
com o profissional liberal, de limitada ação social, e a segunda com a própria
profissão: “É à ciência psicológica que o psicólogo deve os conhecimentos e as
técnicas que utiliza em seu trabalho e, portanto a imagem que deve promover é a
do psicólogo, isto é, a do profissional que está empenhado na solução
de problemas afetos ao comportamento humano onde quer que esse comportamento
ocorra, e não de um profissional empenhado na cura de doenças”.[50]
Esta formação
unidirecionada para a atuação clínica, especialmente a privada, teve
significativo impacto no enfraquecimento das outras áreas de atuação, entre as
quais a Psicologia Social, que assumiu um lugar secundário no interesse, na
formação e na atuação destes profissionais.
Como avalia Sylvia
Leser, dez anos após o reconhecimento da profissão: “Acreditamos, assim, que
todos os dados reunidos até agora, no que respeita aos cursos de Psicologia, à
atuação dos profissionais e às aspirações dos estudantes, vêm demonstrar que o
psicólogo não possui uma imagem adequada das suas funções sociais, pois, de
fato, elas nem sequer chegam a ser percebidas como funções sociais. A limitada
extensão dos serviços que o psicólogo presta à comunidade é decorrência das
funções também limitada que ele se atribui”.[51]
Psicologia Social no
Instituto de Psicologia da USP
Em 1969, em
consequência da Reforma Universitária na USP, foi fundado o Instituto de Psicologia
e seus departamentos, entres os quais o de Psicologia Social e do Trabalho.[52] Em 1971, a
instalação deste departamento se tornou possível com a nomeação do professor
Livre-Docente Dante Moreira Leite, que assumiu sua chefia, e com o doutoramento
da professora Ecléa Bosi. O departamento deixou de ser chefiado por uma
comissão de tutela e, no ano seguinte, com a defesa de tese de Sylvia Leser de
Mello, As atividades profissionais e o
psicólogo em São Paulo, foi melhor estruturado e teve ampliada as suas
atividades de pesquisa e de ensino.[53]
Em 1972 foi publicado o
livro Cultura de Massa e Cultura Popular: Leituras de Operárias, de
Ecléa Bosi, resultado de sua tese de doutoramento defendida em 1970 e orientada
por Dante Moreira Leite. Odair Furtado considera a obra um marco da Psicologia
Social brasileira: “Nele Ecléa Bosi discute a comunicação de massa, cultura de
massa, cultura popular e cultura operária e, por fim, leituras operárias”.[54]
Ecléa assim conclui seu
livro: “Depois de descobrir carências, percebemos que elas nos comprometem. É
preciso conhecer o problema de perto, tocar nos fatos. Mas isso não basta para
que se fale em nome de alguém: devemos também enxergar de sua perspectiva a
realidade. Assumir uma visão operária do mundo é um exercício difícil, um
limite que tentamos alcançar, um caminho a percorrer”.[55]Além
do compromisso social, as obras de Ecléa se tornaram exemplos do diálogo da
Psicologia Social com outras áreas do conhecimento, como a História, a
Literatura e as Ciências Sociais. Memória e Sociedade:
lembrança de velhos, publicado em 1979, por exemplo, também
se constituiu como um marco tanto para os trabalhos de Psicologia Social como
para os estudos de História e das Ciências Sociais.
Furtado ressalta, no
entanto, que tanto o trabalho de Dante Moreira Leite quanto o de Ecléa Bosi
representavam uma exceção dentro do panorama da produção da Psicologia Social
até os anos 1970.[56]
Dante Moreira Leite
assumiu a direção do Instituto de Psicologia da USP em 1974 e faleceu em 1976,
aos 48 anos. Para seus contemporâneos, o IPUSP perdeu muito com a sua morte
prematura, pelo que ele representava em termos de posição e de atitudes
democráticas, de uma Psicologia mais abrangente, engajada, que levasse em conta
a realidade social e a história brasileira e também estabelecesse interlocuções
com diversos campos do conhecimento.[57]
Maria Margarida
Carvalho avalia que Dante enfatizou seu engajamento em pesquisas enraizadas na
realidade social brasileira como sendo um aspecto significativo para a
Psicologia: “Ele queria fazer uma Psicologia Social ativa, que fosse pesquisar
a realidade social. Ele pegou temas sociais vivos naquele momento. E essa seria
a linha que ele teria levado em frente em termos de pesquisa, em termos de
departamento. A ideia era fazer pesquisas com a comunidade, trabalhar esta
ligação comunidade-USP que, que eu sabia, parou depois por muito tempo”.[58]
Sem a presença de
Dante, a trajetória da Psicologia Social, na USP, foi marcada em seu início
pelos trabalhos de Ecléa Bosi e de Sylvia Leser de Mello. Além dos estudos
sobre a formação e a atuação dos psicólogos em São Paulo, uma das obras mais
conhecidas de Sylvia é Trabalho e Sobrevivência: Mulheres do Campo e da
Periferia, publicado na década seguinte.
Psicologia Social na
Pontifícia Universidade Católica
Em 1965, Aniela Ginsberg, que coordenava as pesquisas em Psicologia Social
desde a década anterior no IPPUC-SP, convidou Silvia Tatiana Maurer Lane para trabalhar naquela
instituição. Silvia Lane estudou Filosofia na FFCL-USP, foi aluna de Annita
Cabral, esteve como bolsista aos EUA em 1955 e no mesmo ano foi chamada para
trabalhar no Centro Regional de Pesquisas Educacionais, dirigido por Fernando
de Azevedo.[59]
Em 1965, Silvia Lane
passou a dar aulas de Psicologia Social na FFCL São Bento da PUC e a trabalhar
no laboratório de Psicologia Experimental, em ambos com Maria do Carmo Guedes,
instituições nas quais as pesquisas de Psicologia Social e Psicologia
Experimental eram realizadas em conjunto. Também na USP a Psicologia Social e Experimental
estavam inicialmente reunidas no mesmo departamento. Tanto que Carolina Bori,
importante psicóloga experimental, publicou trabalhos de Psicologia Social (na
linha de Kurt Lewin) [60].
Em 1968, Silvia Lane
participou com outros professores de um movimento de renovação dentro da PUC,
substituindo as aulas teóricas por leituras, discussões em aula e trabalho
reflexivo. Conforme Bader Sawaia, que na época cursava Sociologia na FFCL Sedes
Sapientiae, as aulas de Silvia Lane naquele período atraíam um grande número de
alunos e ela assumiu um lugar de liderança e reconhecimento político e
profissional[61].
Silvia Lane foi a primeira diretora da nova faculdade de Psicologia, de 1971 a 1974.
Com as mudanças
institucionais e preocupadas com a continuidade das pesquisas, Aniela Ginsberg
e Silvia Lane, conjuntamente com Joel Martins, criaram em 1972 o programa de
pós-graduação em Psicologia Social.[62]
Recordando este momento, Sílvia Lane
lembrava em texto de 2007: “A pesquisa, segundo o estatuto, deveria ser
desenvolvida pelos departamentos, esses departamentos eram muito envolvidos com
a graduação e teriam pouco tempo para pesquisa. Nossa intenção, Aniela e eu,
para preservar a pesquisa, era criar um curso de pós-graduação que visaria,
formalmente, a formação de pesquisadores”.[63]
Maria do Carmo Guedes
recorda que as primeiras disciplinas oferecidas na pós-graduação foram
Psicologia Social (ministrada por Karl Sheibe, contratado com bolsa Fullbrigt)
e Pesquisa Intercultural (por Aniela Ginsberg). No ano seguinte, Sílvia Lane,
já doutora, ofereceu outras duas: Psicologia da Linguagem e Pequenos Grupos.
Guedes ressalta que embora Aniela fosse uma grande especialista de Rorschach,
ela utilizava o teste na pesquisa intercultural.[64] Segundo
Bader Sawaia, para Lane a pesquisa era fundamental, pois sem ela a “Psicologia
se tornava metafísica”, mas pesquisa sem teoria se tornava apenas a descrição
do aparente e pesquisa e teoria sem prática são ingênuas e inócuas.[65]
Silvia Lane e a “crise
da Psicologia Social”
Durante a
década de 1970 o pensamento e o trabalho de Silvia Lane passaram por uma
transformação, que, por sua posição de liderança, produziram efeitos em todo o
campo da Psicologia Social. Em um primeiro momento, quando começou a lecionar
na graduação, o curso se apresentava conservador, trazendo conteúdos,
conceitos, teorias e metodologias consideradas tradicionais. Mas,
a partir da década de 1970, cresce entre Silvia e o seu grupo uma inquietação
sobre as bases teóricas e metodológicas da Psicologia Social, especialmente a cognitiva
norte-americana, que exercia uma influência importante na área. Este momento
ficaria conhecido depois como a “Crise da Psicologia Social”.[66] Entre os
questionamentos estavam o compromisso ideológico que a aparente neutralidade
produzia e a discussão sobre a necessidade de uma Psicologia Social científica
e ao mesmo tempo comprometida com as condições de vida da população.[67]
Foi especialmente em
torno do Programa de Estudos Pós-Graduados de Psicologia Social da PUC-SP que
se formou o grupo que acompanharia Silvia Lane nestes questionamentos. Maria do
Carmo Guedes lembra que, desde o início do curso, em 1973, havia um
desenvolvimento e discussão contínuos, de forma que cada novo semestre se
iniciava “com apresentação dos projetos do semestre anterior aos novos alunos,
num trabalho cumulativo crítico sobre as teorias estudadas”.[68]
Partindo da crítica ao
cognitivismo norte-americano, Silvia Lane, seus alunos e colaboradores,
procuraram novos autores e interlocutores. Marcam este período as dissertações
de Antonio Ciampa – A identidade social e suas relações com a ideologia
(1977) – e de Bader Sawaia – Ibitinga: Suas práticas econômicas e
representações sociais (1979). Carvalho e Souza ressaltam: “Cumpre notar
que caracterizar tais produções e autores como uma escola não implica afirmar
que se trate de um grupo homogêneo, em sua diversidade guarda como unidade um
aspecto fundamental: o comprometimento com a transformação social da realidade
aliado à apropriação do referencial teórico-metodológico do materialismo
histórico-dialético”.[69]
Silvia Lane foi, sem
dúvida, uma das mais importantes teóricas da Psicologia Social no País e uma
protagonista da linha da Psicologia Social engajada e crítica. Segundo Bader
Sawaia: “Com uma formação sólida em Filosofia, aliada a uma vocação ética
indestrutível e à paixão pela pesquisa, coordena um movimento de revisão
crítica da Psicologia Social que redunda na criação de um corpo
teórico-metodológico sólido e em uma práxis transformadora, conhecidos fora do
Brasil como ‘Escola de São Paulo’.”[70]
Ainda segundo Bader, Silvia Lane teve papel destacado nas décadas de 1970 e
1980, “transformando campos de estágio, a pesquisa e a teoria em espaços de
reflexão crítica, de conscientização política e de potencialização da ação
emancipadora, sem perder o rigor científico”.[71]
A Psicologia Social na
Prática Clínica
Também na graduação,
além de uma mudança gradativa nas abordagens apresentadas nas disciplinas de
Psicologia Social, Silvia Lane propôs duas disciplinas que influenciaram os
alunos da graduação. A primeira era uma optativa de “Estudos Livres”, criando a
oportunidade aos alunos do terceiro ano da Psicologia de escolherem um tema de
estudo para aprofundamento, trabalho em que o importante era a seriedade e o
rigor na pesquisa; a disciplina despertou o interesse pela pesquisa e promoveu
a aproximação dos alunos ao grupo de Lane.
Como ressaltado
anteriormente, a Psicologia Clínica era, durante os anos 1970, a área
hegemônica de atuação e interesse entre psicólogos e estudantes. Reconhecendo
esta realidade, Silvia Lane propôs em 1977 uma disciplina de graduação junto
com Odette Godoy Pinheiro e Alberto Abib Andery (que mantinha militância ligada
à esquerda católica e ao movimento operário) intitulada “A Psicologia Social na
Prática Clínica”. O curso tinha o objetivo de “preparar o aluno para uma práxis
clínica integradora dos aspectos sociais”. Segundo Furtado: “A temática era um
achado, na medida em que a maioria esmagadora dos alunos da Faculdade de
Psicologia da PUC-SP se especializava na área clínica. Esta área, mesmo com o
tipo de ensino crítico ministrado ali, apresentava um forte viés
individualista. Apesar do compromisso político de boa parte dos professores, o
instrumental teórico era voltado para o atendimento nos consultórios privados e
a ideologia reproduzida por este modelo de atendimento era a do psicólogo como
profissional liberal”.[72]
Abib recorda: “Esse núcleo visava a aproximação entre os
futuros profissionais psicólogos e a população operária e proletária nos extremos
da periferia da grande São Paulo. Os estágios eram desenvolvidos no Jardim
Santo Antônio, em Osasco, com a ajuda de uma equipe multiprofissional. Contamos
também com a colaboração da colega e professora Odette Pinheiro. Sílvia Lane,
na chefia do Departamento de Psicologia Social e depois diretora do Centro de
Ciências Humanas, deu apoio entusiasmado e críticas construtivas ao projeto,
enquanto ele durou”.[73]
Em 1984, Abib comentava
que, com este trabalho multidisciplinar e psicossocial, “estamos chegando a uma
redefinição da saúde mental como a participação do indivíduo e do seu grupo
social na melhoria das condições de vida e não apenas como episódio individual
aleatório e puramente hereditário”.[74]
A Psicologia Social na
América Latina
Em termos associativos,
a Psicologia Social acompanhou os questionamentos vividos na universidade ao
longo da década de 1970. Em muitos países da América Latina começou um
movimento de questionamento e de crítica à Alapso – Associação Latino Americana
de Psicologia Social, à época predominantemente cognitivista, e várias
associações começaram a surgir, identificadas com uma nova proposta de
Psicologia Social. Os críticos consideravam a Psicologia Social então
hegemônica como cientificista, trabalhando os temas de forma descontextualizada,
simplificadora e superficial em suas análises, individualizadora do social e
sem preocupação política com as relações sociais no País.[75]
Silvia Lane relembra
este processo: “Na América Latina, Terceiro Mundo, dependente econômica e culturalmente,
a Psicologia Social oscila entre o pragmatismo norte-americano e a visão
abrangente de um homem que só era compreendido filosófica ou sociologicamente,
ou seja, um homem abstrato. Os congressos interamericanos de Psicologia são
excelentes termômetros dessa oscilação e culminam em 1976 (Miami) com críticas
mais sistematizadas e novas propostas, principalmente pelo grupo da Venezuela,
que se organiza numa Associação Venezuelana de Psicologia Social (Avepso)
coexistindo com a Associação Latino-Americana de Psicologia Social (Alapso).
Nesta ocasião, psicólogos brasileiros também faziam suas críticas, procurando
novos rumos para uma Psicologia Social que atendesse a nossa realidade”.[76]
Aroldo Rodrigues era o
presidente da Alapso desde 1973. Psicólogo do Rio de Janeiro, com mestrado na
Universidade de Kansas e doutorado na Universidade da Califórnia, Aroldo
Rodrigues foi o mais expressivo representante da corrente cognitivista
norte-americana e assumiu uma posição de polarização com a Psicologia Social Crítica.
Seu livro, Psicologia Social – publicado pela primeira vez em 1972 e
atualmente na 29ª edição[77]
– foi a obra de autor brasileiro mais utilizado nos cursos de Psicologia Social
das faculdades durante um período expressivo.
Aroldo Rodrigues
considerava que os trabalhos desenvolvidos pela Psicologia Social Crítica eram
pouco científicos e muito políticos. Ele defendia que a ciência deveria ser
“neutra” e não “ideológica”: “Nenhum biólogo, em sua atividade científica,
inventou os micróbios utilizados numa possível guerra biológica; o que ele fez
foi descobrir a sua existência e as suas condições de vida; de posse de tal
conhecimento, o tecnólogo pode empregá-lo na construção de um artefato para
fins de ataque ao inimigo. Nenhum psicólogo social, em sua atividade
científica, utilizou determinado tipo de persuasão para transformar os valores
ou as atitudes de uma pessoa. O que ele fez foi descobrir os fatores que
facilitam ou dificultam a eficácia de uma comunicação persuasiva; o uso destes
conhecimentos para modificar as pessoas compete ao tecnólogo social ou ao
profissional aplicado que os utiliza para obtenção de determinados fins. É
devido a esta distinção tão clara e tão óbvia entre os objetivos das ciências e
os as atividades práticas, que o autor deste livro sempre defendeu a posição de
que a ciência é neutra, não tendenciosa e não ideológica”.[78]
Assim, para Aroldo
Rodrigues, as críticas não se justificavam e eram políticas e não técnicas:
“Dependendo do extremismo e da exaltação de cada crítico, os que atacaram o
status quo variavam desde uma mera preocupação com a necessidade de tornarem-se
os conhecimentos psicológicos mais orientados para as necessidades sociais até
um virulento e destrutivo libelo contra toda a atividade desenvolvida pelos
psicólogos sociais até então”.[79]
Silvia Lane relata que,
no congresso da Sociedade Interamericana de Psicologia em1976, em Miami, foram
levantadas algumas críticas metodológicas e teóricas, porém sem contribuir com
qualquer proposta concreta para a superação dos impasses: “No Congresso
seguinte, em 1979, ocorrido em Lima, Peru, a situação se apresentou outra – as
críticas eram mais precisas e novas propostas surgiram, visando uma redefinição
da Psicologia Social. (...) No final do Simpósio ressaltamos esta coincidência,
chamando a atenção do seu significado para o que deveria ser uma Psicologia
Social voltada para as condições próprias de cada país latino-americano, e
descobrimos que muitos outros psicólogos sociais se identificavam conosco”.[80]
I Encontro Brasileiro
de Psicologia Social e a fundação da Abrapso
Após o congresso da
Sociedade Interamericana de Psicologia, no Peru, um grupo de psicólogos
resolveu promover um encontro sobre problemas urbanos e grupos de trabalho
sobre temas pesquisados. Assim, em outubro de 1979 foi realizado na PUC de São
Paulo o I Encontro Brasileiro de Psicologia Social. Este evento permitiu a
interlocução de psicólogos sociais que atuavam em diversos campos e
instituições. Propiciou também o encontro dos psicólogos sociais da PUC, como Silvia
Lane, Maria do Carmo Guedes, Bronia Liebesny, A. Abib Andery e Suely Rolnik, e
da USP, entre as quais Ecléa Bosi e Sylvia Leser de Mello, cujas trajetórias
parecem ter corrido em paralelo durante a década de 1970 e sem uma relação
efetiva entre os dois grupos.
Foi durante os debates
deste I Encontro que começou a surgir a proposta de se criar uma Associação
Brasileira de Psicologia Social. Susana Molón lembra: “Esse seminário é
extremamente significativo na história da Psicologia Social no Brasil, pois
proporcionou um espaço fecundo para reflexões e debates, tanto nas
mesas-redondas quanto nos grupos de trabalho, propiciando uma oportunidade de
intercâmbio de experiências e uma surpreendente concordância em relação à
postura crítica quanto ao papel da ciência”.[81]
Neste contexto foi
fundada a Abrapso – Associação Brasileira de Psicologia Social, “cujo documento
de proposta de criação expressa a preocupação do grupo brasileiro em redefinir
o campo da Psicologia Social, descobrir novos recursos metodológicos, propor
práticas sociais e construir um referencial teórico inscrito em princípios
epistemológicos diferentes dos até então vigentes”.[82]A Abrapso
foi criada oficialmente em julho de 1980 durante a 32ª Reunião Anual da SBPC,
no Rio de Janeiro e “constitui-se em um marco importante para a construção de
uma Psicologia Social crítica, histórica e comprometida com a realidade
concreta da população”.[83]
O documento de fundação
da Abrapso afirmava: “Os próprios profissionais de Psicologia, especialistas em
outras áreas, ignoram o papel possível do psicólogo social, definindo-o como um
acadêmico, interessado em pesquisas sociais. Não obstante, dadas as condições
em que vive a maioria da população brasileira, sem oportunidade de acesso ao
atendimento psicológico oferecido à pequena elite, cabe justamente ao psicólogo
social a implantação de uma assistência psicológica em larga escala, através da
aplicação de seus conhecimentos junto a grupos e organizações populares”.[84]Avaliando
que a Psicologia Social encontrava-se limitada ao ambiente acadêmico, o
documento defende uma atuação mais ampla, ressaltando a importância da formação
teórica e da pesquisa rigorosa, assim como o imprescindível contato com outros
cientistas sociais, tradicionalmente comprometidos com o estudo dessa realidade
A Psicologia Crítica na
América Latina
Silvia Lane sempre
defendeu a integração da Psicologia Social brasileira com a América Latina.
Assim, Silvia Lane e Maria do Carmo Guedes decidiram realizar, no início dos
anos 1980, uma viagem pela América Latina para conhecer melhor o que estava
sendo realizado em diversos países. A escolha atendia tanto ao interesse das
psicólogas como às possibilidades de financiamento do CNPq, que exigia convites
oficiais das universidades. Maria do Carmo ressalta a importância da pesquisa
rigorosa e da intervenção crítica para Lane. Convidadas por universidades
locais, as duas professoras passaram dois meses no início de 1982 viajando e
conhecendo as experiências que estavam sendo realizadas na Venezuela, na
Colômbia, no México, no Equador e no Peru. Intencionalmente evitaram países que
viviam, como o Brasil, sob ditadura militar, como era o caso do Chile e da
Argentina e, embora não estivesse previsto no projeto, foram também a Cuba.
Relembrando a viagem,
Maria do Carmo Guedes conta que naquele momento havia uma inquietação do grupo
de professores, especialmente de Sílvia
Lane, de procurar novas estratégias metodológicas e conhecer novas
experiências: “Fizemos um grande levantamento e lemos muito sobre as diversas
posições relativas a saídas para a chamada ‘crise da Psicologia Social’;
conhecemos as então chamadas ‘alternativas’ metodológicas ou de procedimento
propostas nas Ciências Sociais principalmente a observação participante, a
pesquisa participativa e a história oral como método. Tudo isso se devia à
compreensão de que era importante não deixar prevalecer a motivação política
sobre a investigação, por exemplo, sobre a coleta sistemática de dados
empíricos; ou sobre o uso de dados apenas para ilustrar teses já aceitas”.[85]
Maria do Carmo avalia
que a experiência teve forte impacto: “Foi um momento importante para
avaliarmos a experiência e organizarmos o material trazido. Mas a principal
preocupação nesse momento era pensar a programação de nossas disciplinas, as
atividades do Laboratório de Psicologia Social, nosso trabalho como
orientadoras – de modo a melhor repartir com os estudantes o que pudemos
aprender com a viagem. Referências bibliográficas em teses e dissertações que
se seguiram podem talvez dizer de um possível aproveitamento do material.”[86]
Atividades associativas
e papel social
Nos anos seguintes,
Silvia Lane, presidente da Abrapso, e Aroldo Rodrigues, da Alapso,
protagonizariam um confronto e mantiveram controvérsias sobre temas tais como o
modelo de homem e de sociedade, a neutralidade do pesquisador em Psicologia
Social e o status de ciência deste campo.
O mesmo conflito
aparecia em outras instâncias, como as agências de fomento e financiamento de
pós-graduação. Sylvia Leser de Mello recorda que durante muitos anos havia
forte oposição na Capes, na qual a Psicologia Social era mal avaliada por que
não atendia aos cânones estabelecidos do que deveria ser uma psicologia
científica. “Já tínhamos um grande número de mestres e doutores e nenhum curso
de pós-graduação reconhecido pela Capes”, recorda.
É importante ressaltar
que a criação da Abrapso está inserida em um movimento maior da sociedade e do
campo profissional. A Psicologia como um todo passou por uma transformação na
virada dos anos 1970 para os 1980, no contexto da redemocratização do país. A
própria atuação dos órgãos representativos e das associações de psicólogos
reflete esta mudança, conforme avalia Mitsuko Antunes: “A defesa da Psicologia
como ciência e profissão foi gradativamente ganhando contornos que superavam o
corporativismo, buscando uma ampla participação da categoria na discussão dos
problemas que a envolviam, mas que não poderiam ser limitados à mera defesa de
interesses intrínseco a ela. Sua compreensão implicava uma articulação com a
realidade social como um todo e, fundamentalmente, com o estabelecimento de um
compromisso radical com ela.(...) Nesse aspecto, há que se considerar as
mudanças ocorridas nas orientações dos Conselhos Regionais de Psicologia – CRP,
Conselho Federal de Psicologia – CFP, Sindicatos de Psicólogos e, mais tarde,
já produto dessas mudanças, a criação da Federação Nacional dos Psicólogos –
Fenapsi”.[87]
E acrescenta: “Impunha-se a necessidade de construção e reconstrução de uma
Psicologia enraizada e comprometida com sua realidade. Para isso, era
necessário também produzir novos conhecimentos e novas formas de intervenção,
difundi-los e torná-los parte da formação do psicólogo”.[88]
Muitos dos psicólogos
que assumiram o protagonismo neste processo, inclusive com cargos
representativos da categoria, eram ligados à Psicologia Social. Como ressalta
Bonfim: “Inúmeras outras experiências, realizadas por todo o país na década de
1970, incluindo os trabalhos dos psicólogos sociais em comunidades, nos postos
de saúde pública, nas militâncias sociais (grupos feministas, raciais,
sindicatos, etc.) e políticas (partidos, associações, movimentos sociais, etc.)
foram responsáveis pela emergência de novas práticas na área. Tais práticas
criaram, aos poucos, novos referenciais metodológicos (...) e novos campos de
atuação”.[89]
Psicologia
Social: o Homem em Movimento
Em 1981, Silvia Lane
publicou o livro O que é Psicologia Social pela Coleção Primeiros Passos
da editora Brasiliense. Depois de introduzir os temas gerais da Psicologia
Social – a coleção era uma introdução para jovens –, Silvia apresenta sua
trajetória e concepções em “Psicologia Social no Brasil” e “Indicações para
leitura”. O livro se tornou um sucesso editorial e uma referência em sua área,
chegando à 15ª edição no final da década de 1980.
Mas o livro mais
significativo do período foi publicado em 1984, como resultado do
desenvolvimento da Psicologia Social Crítica e como síntese do pensamento deste
grupo: Psicologia Social: o Homem em Movimento. Com textos de Silvia
Lane e reunindo vários alunos e colaboradores, Psicologia Social: o Homem em
Movimento se tornou, desde então, um marco referencial na Psicologia Social
brasileira.[90]
Nesta obra, Lane explicita que “Toda Psicologia é Social. Esta afirmação não
significa reduzir as áreas específicas da Psicologia à Psicologia Social, mas
sim cada uma assumir dentro de sua especificidade a natureza histórico-social
do ser humano. Desde o desenvolvimento infantil até as patologias e as técnicas
de intervenção, características do psicólogo, devem ser analisadas criticamente
à luz dessa concepção do ser humano – é a clareza de que não se pode conhecer
qualquer comportamento humano, isolando-o ou fragmentando-o, como se existisse
em si e por si”.[91]
E acrescenta: “Também
com essa afirmativa não negamos a especificidade da Psicologia Social – ela
continua tendo por objetivo conhecer o indivíduo no conjunto de suas relações
sociais, tanto naquilo que lhe é específico como naquilo em que ele é
manifestação grupal e social. Porém, agora a Psicologia Social poderá responder
à questão de como o homem é sujeito da história e transformador de sua própria
vida e da sua sociedade, assim como qualquer outra área da Psicologia”.[92]
Anos depois, em 1995,
Silvia Lane afirmaria: “Costuma-se dizer que toda Psicologia é Psicologia
Social. (...) Toda a Psicologia que estuda o ser humano é, por natureza,
histórica: o essencial do homem é social. Muitas vezes, inclusive na Abrapso,
tem sido levantada essa questão: ‘então, vamos acabar com essa subdivisão da
Psicologia ‘Social’? Eu digo não. Ela tem uma função histórica que é a de
estimular a reflexão crítica da prática do psicólogo, seja onde for: seja
psicólogo do desenvolvimento, no trabalho com crianças, seja o psicólogo
clínico que trabalha em consultório, seja o psicólogo do trabalho dentro da
empresa...” E completa: “Acho que é função da Psicologia Social (e não abro mão
do ‘social’, por enquanto, por isso) estimular a reflexão crítica das práticas
da Psicologia e das teorias psicológicas e suas consequências”.[93]
A publicação de Psicologia
Social: o Homem em Movimento – conjuntamente com O que é Psicologia
Social, de Lane, e A estória de Severino e a história da Severina,
de A. C. Ciampa – tiveram expressivo impacto na bibliografia utilizada nas
faculdades de Psicologia nas disciplinas de Psicologia Social. Comparando a
bibliografia utilizada nos cursos em dois momentos, 1983 e 1993, Sergio Ozella,
encontrou uma inversão nas obras e autores mais utilizados: em 1983 o livro Psicologia
Social, de A. Rodrigues, era o título mais citado e O que é Psicologia
Social de Lane apenas o quinto; já em 1993, embora Rodrigues fosse o
segundo mais citado (36 programas), os livros de Lane e Ciampa somavam 109
referências.[94]
O que indica, ao mesmo tempo, um crescimento da bibliografia de autores
brasileiros e a maior inserção da Psicologia Social crítica na formação dos
novos psicólogos.
Conforme Carvalho e
Souza: “Os anos que se seguem à publicação de Psicologia social: o homem em
movimento foram marcados pela revisão de certos pressupostos e categorias
fundamentais do materialismo histórico-dialético, bem como por uma substantiva
mudança naquilo que se concebia como ‘transformação social’. Tal mudança
encontra sua síntese na publicação de Novas Veredas da Psicologia Social’,
livro organizado por Silvia Lane e Bader Sawaia e publicado em 1994”.[95]
Outras publicações
tiveram influência significativa na circulação das pesquisas desenvolvidas. A
Abrapso teve papel importante na organização de encontros e na publicação de
artigos, inicialmente no seu boletim e, a partir de 1986, na revista Psicologia
& Sociedade. Em sua primeira fase, Psicologia & Sociedade se
apresenta como uma espécie de anais, em geral com trabalhos completos de
encontros regionais e nacionais – especialmente da própria Abrapso, mas também
de outras entidades como SBPC e SBP – o que permitiu a divulgação das
discussões destes eventos. Após um intervalo em que não foi publicada, a
revista foi retomada em 1996, “quando assume o formato tradicional dos
periódicos científicos, ou seja, os trabalhos publicados agora são artigos
submetidos ao processo editorial de avaliação cega por pares”.[96]
Ainda nos anos 1980
outras publicações marcam a área da Psicologia Social, como Trabalho
e Sobrevivência: Mulheres do Campo e da Periferia,
de Sylvia Leser de Mello. Ao comentar o trabalho de Sylvia, Maria Helena Patto
enfatiza a sua visão crítica e conscientemente política: “Trabalho e Sobrevivência, obra-prima publicada em 1988, é exemplo
disso: não fosse a transformação nela contida dos tradicionais ‘objetos da
pesquisa’ em sujeitos na produção de saber, seria impossível conhecer a substância da vida de mulheres do campo e da
periferia de São Paulo, conhecimento esse inacessível a um discurso sobre elas e só possível a ouvidos atentos ao
discurso delas.(...) O artigo Classes populares, família e
preconceito (1992) é outro
exemplo de linguagem direta, solidez teórica e claro compromisso político com
os oprimidos, agora a serviço da desconstrução do mito da família dos pobres
como ‘família desorganizada’, de trágicas consequências para a vida de seus
membros”.[97]
Psicologia Social e o
Social na Psicologia
As transformações
ocorridas no interior da Psicologia Social repercutiram no campo da Psicologia
como um todo, influenciando as outras áreas de trabalho e de conhecimento.
Dentro dos cursos de graduação, a Psicologia Social vem se tornando referência
para a construção de novos referenciais na Psicologia, elaborando a relação
entre a subjetividade e o social. Como ressalta José Moura Gonsalves Filho: “A
Psicologia Social ajudar a perceber o caráter fronteiriço dos fenômenos, que
não se definirem inteiramente do lado dos indivíduos ou do lado da sociedade,
mas numa área intermediária, que é o mesmo tempo feita de determinações sociais
e da ação dos indivíduos. Então, não podemos achar que o fenômeno foi resultado
mecânico de processos sociais nem tão pouco pura manifestação da liberdade
criadora dos indivíduos.”[98]
Bomfim chama a atenção
para as transformações geradas também nas áreas de atuação do psicólogo: “Se,
por um lado, as práticas políticas dos movimentos sociais geraram
transformações nas instituições brasileiras, exigindo a consolidação de
práticas psicossociais junto a populações que não tinham até então acesso a
este tipo de serviço e demandando novas formas de trabalho, por outro lado, a
própria atuação dos psicólogos sociais contribuiu na busca de transformação das
instituições”.[99]
Atualmente, a
Psicologia Social tem como marca a diversidade teórica e um variado leque de
possibilidades profissionais e interfaces de atuação. Conforme
Susana Molón, a Psicologia Social a partir de 1990 se caracteriza
“fundamentalmente pela diversidade de temas e pela pluralidade e diferenciação
de enfoques teórico-metodológicos. Dentro disso, ocorre a proliferação de
encontros nacionais e regionais, a intensificação das publicações, as quais
oportunizam o surgimento de novas veredas e novos horizontes, e,
simultaneamente, constituem novos modos e espaços de atuação e pesquisas em
Psicologia Social norteados por pressupostos epistemológicos, ontológicos e
metodológicos semelhantes, orientados pela preocupação ética, ou seja,
comprometidos social e politicamente com a transformação da sociedade e com uma
vida mais digna para a maioria da população brasileira”.[100]
Ao ressaltar a
ampliação das áreas de atuação do psicólogo social, Elizabeth de Melo Bomfim avalia:
“Uma visão do sujeito histórico que estabelece relações políticas e ideológicas
atravessa todo o trabalho do psicólogo social. Tentando entrar ainda mais no
campo de ação do psicólogo social, é possível delinear alguns dos principais
trabalhos através das atividades de ensino, pesquisa e extensão universitária;
das práticas com grupos, organizações, instituições e comunidade [como
trabalhos com mulheres, pessoas marginalizadas economicamente, terceira idade
etc.]; dos trabalhos junto à saúde pública; das assessorias e consultorias aos
movimentos sociais e/ou partidários, que governamentais, quer
não-governamentais; e das análises e atuações em questões ambientais e de
desenvolvimento cultural”.[101]
Conforme R. N. Cruz e
C. J. Van Stralen: “No contexto brasileiro, o surgimento da Associação
Brasileira de Psicologia Social (Abrapso), em 1980, como organização contrária
a essa forma de produção científica, é um dos principais marcos da história
recente da Psicologia Social brasileira. Desde então, o número crescente de
disciplinas, cursos de pós-graduação e publicações nacionais caracterizam o
desenvolvimento de uma nova perspectiva em Psicologia Social no Brasil. Também
como uma das consequências dessa mudança, a Psicologia Social no Brasil passa a
desenvolver, nessas últimas três décadas, uma pluralidade de concepções
metodológicas, epistemológicas, políticas e éticas que influenciam diretamente
a formação, atuação e produção científica do psicólogo social”.[102]
[1] Monica Musatti
Cytrynowicz é psicóloga pelo Instituto de Psicologia da USP, com Formação em
Psicanálise pelo Sedes Sapientiae. É diretora de pesquisa histórica da
Narrativa Um - Projetos e Pesquisas de História e autora, entre outros,
de Criança-Enface: uma trajetória de Psiquiatria Infantil e História
do Departamento de Psicanálise, e coordenadora dos seguintes vídeos da
série História e Memória da Psicologia do CRP-SP: “Betti Katzenstein: uma
psicóloga do século XX”; “Uma Questão de Saúde: trajetória da Psicologia
Hospitalar em São Paulo”; “Entre o Direito e a Lei: uma História da Psicologia
Jurídica em São Paulo” e “Percursos da Psicologia Clínica em São Paulo”.
[1] Bomfim, Elizabeth de Melo. Raul Carlos Briquet, (série
Pioneiros da Psicologia Brasileira), Rio de Janeiro/Brasília, Imago/Conselho
Federal de Psicologia, 2002, pp.39-41.
[2]Briquet, Raul. Psicologia Social,
São Paulo, Livraria Francisco Alves, 1935, p.2.
[4]Bomfim, Elizabeth de Melo. “Históricos
cursos de Psicologia Social no Brasil”, Psicologia & Sociedade, v.16 n.2 Porto
Alegre maio/ago. 2004.
[5] Ramos, Artur. Introdução à Psicologia Social, Rio de
Janeiro, Casa do Estudante do Brasil (3ª. Edição), 1952.
[6] Almeida, Antônio Ribeiro. “Tendências da Psicologia Social no
Brasil”, Síntese, n.47, set./dez., 1989, p.56.
[7]Mello, Sylvia Leser. Psicologia e
profissão em São Paulo, São Paulo, Ática, 1975, p.37.
[8]Rudolfer, Noemy S. “A Psicologia Social
Contemporânea (até 1934)", Sociologia, vol.3, n.2, maio, 1941,
p.102.
[9]Cabral, Annita C. M. “A Psicologia no
Brasil”. Boletim-Psicologia, n.3. FFCL-USP, 1950, pp.11-51.
[10]Azevedo, Mônica Leopardi B. “Herança de
Aniela Meyer-Ginsberg: promovendo a Psicologia no Brasil”, CRP-SP, 2003.
[11]Cytrynowicz,
Monica M. E Cytrynowicz, Roney, “Betti Katzenstein,
uma psicóloga do século XX”, História e Memória da Psicologia em SP, CRP-SP,
2003.
[12]Katzenstein, Betti e Freitas, Beatriz “Algo de que crianças gostam de ler”,
Revista do Arquivo Municipal, vol.77, jun/jul 1941, pp. 5-95 e Katzenstein, Betti e Freitas, Beatriz, “O cinema e o mundo
infantil”, Boletim Bibliográfico, Biblioteca Pública Municipal de São
Paulo, vol. 12, 1949, pp.13-53.
[13]Rudolfer, Noemy S. op. cit.,
p.102.
[14] Anuário da ESPSP, 1940.
[15] Prospecto Geral da ESPSP, 1950.
[16] Bomfim, Elizabeth de Melo. “Históricos
cursos de Psicologia Social no Brasil”, Psicologia & Sociedade, v.16 n.2 Porto
Alegre maio/ago. 2004.
[17] A revista Sociologia trazia
em seus números iniciais (1939 e 1940) vários artigos gerais sobre o tema, e
defendia que a Psicologia Social podia tanto ser considerada como parte da
Sociologia como da Psicologia.
[18]SANTOS, Alessandro
O.; SCHUCMAN, Lia V.; MARTINS, Hildeberto V. “Breve histórico do pensamento
psicológico brasileiro sobre relações étnico-raciais”. Psicologia: Ciência e
Profissão, Brasília, v. 32, n. esp., 2012
[19] Almeida, Antônio Ribeiro. op. cit., p.56.
[20]Baptista, Marisa T. D. “A constituição da
identidade de alguns profissionais que atuaram com psicólogos antes de 1962 em
São Paulo”, História da Psicologia no Brasil: Novos Estudos. São Paulo,
Cortez/Educ, 2004, pp.183-184.
[21] Almeida, Antônio Ribeiro. op. cit., p.57.
[22]Klineberg, Otto. “Introdução à Psicologia
Social”, Boletim FFCL – Psicologia, n.1, USP, 1946, p.11.
[26]Klineberg, Otto. “Psicologia e Caráter
Nacional”, Boletim de Psicologia, n.1, ano 1, SPSP, 1949, p.8.
[27] Lane, Silvia T. M. O que é Psicologia Social (Coleção
Primeiros Passos), São Paulo, (13ª.ed.), 1987, p.80.
[28] Maio, Marco Chor. “Educação sanitária, estudos de atitudes
raciais e psicanálise na trajetória de Virgínia Leone Bicudo”, cadernos pagu
(35), julho-dezembro de 2010:309-355.
[29]SANTOS, Alessandro
O.; SCHUCMAN, Lia V.; MARTINS, Hildeberto V. op. cit.
[30]Ginsberg, Aniela “Pesquisa sobre as atitudes
de um grupo de escolares em São Paulo em relação com as crianças de cor” e
Bicudo, Virgínia L. “Atitudes dos alunos dos grupos escolares em relação com a
cor dos seus colegas” in Bastide, R. e Fernandes, F. Relações Raciais entre Negros e Brancos em São Paulo, São Paulo: Unesco/Anhembi, 1955.
[32] CABRAL, Annita C. M. op. cit.,,
p.46.
[33] Furtado, Odair. Dimensões Subjetivas da Realidade: Um
estudo da subjetividade social no Brasil. Doutorado, PUC-SP, 1998, p.151.
[34] Leite, Dante Moreira. “Memorial para concurso de Professor
Titular”, IPUSP, M25, 1973, p.3.
[35] Paiva, Geraldo P. “Dante Moreira Leite: um Pioneiro da
Psicologia Social no Brasil”, Psicologia USP, vol.11, n.2, 2000, p.26.
[36] Bosi, Ecléa. “Dante Moreira Leite: Mestre da Psicologia
Social”, Psicologia USP, vol.11, n.2, 2000, p.22.
[38] Leite, Dante M. O Caráter Nacional Brasileiro: História de
uma Ideologia, 2ª ed., São Paulo, Pioneira, 1968, p.328.
[40] Furtado, Odair. op. cit., p.154.
[41]Schmidt, Maria Luisa S. e Neves, Tatiana F.S. Dante Moreira
Leite (série Pioneiros da Psicologia Brasileira),Rio de Janeiro/Brasília,
Imago/Conselho Federal de Psicologia, 2002, p.38.
[42] Leite, Dante Moreira. “Memorial para concurso de Professor
Titular”, IPUSP, M25, 1973, p.9.
[43] Site do Centro de Memória do
Instituto de Psicologia da USP, consultado em fev. 2013.
[44]Schmidt, Maria Luisa S. e Neves, Tatiana F.S. op. cit..
[45]Baptista, Marisa T. D. “Constituição da
identidade de alguns profissionais que atuaram como psicólogos antes de 1962 em
S. Paulo” in Massimi, M e Guedes, M. C. (org.). Historia da
Psicologia no Brasil: Novos Estudos, São Paulo, Educ/Cortez, 2004, p.188.
[46] “Apresentação do Departamento de
Psicologia Social e do Trabalho” escrito por Zélia
Ramozzi-Chiarottino, site do Instituto
de Psicologia da USP, consultado em fev. 2013.
[47] “Maria do Carmo Guedes –
Homenagem”, Psicologia: Ciência e Profissão, v.29, n.2, 2009.
[48]Mello, Sylvia Leser. op.
cit., pp.41-42.
[52] Relatório Anual de Atividades do
IPUSP, 1970.
[53] Relatório Anual de Atividades do
IPUSP, 1971 e 1972.
[54] Furtado, Odair. op. cit., p.155.
[55] Bosi, Ecléa. Cultura de Massa e Cultura Popular: Leituras
Operárias, Petrópolis: Vozes, 1981 (5ª.ed. Ampliada), p.179.
[56]Furtado, Odair. op. cit., p.155.
[57] Schmidt, Maria Luisa S. e Neves, Tatiana F.S. op. cit.,
pp.72-74.
[58] Schmidt, Maria Luisa S. e Neves, Tatiana F.S. op. cit.,
p.71.
[59]Sawaia, Bader. Sílvia Lane
(série Pioneiros da Psicologia Brasileira),Rio de Janeiro/Brasília,
Imago/Conselho Federal de Psicologia, 2002, pp. 27-30.
[60]Molón, Susana I. “A Psicologia Social
Abrapsiana: Apontamentos históricos”, Interações, vol.6, n.12, pp.41-68,
jul./dez., 2001.
[61] Depoimento de Bader Sawaia para
este trabalho.
[62]Sawaia, Bader. op. cit..
[63]Coelho, Maria Helena de
Mendonça. Sílvia por ela mesma. Psicologia e Sociedade, Porto Alegre, v.
19, n. esp.2, 2007, p.11.
[64]Guedes, Maria do Carmo. “Memórias da
Pós-graduação em Psicologia no Brasil: a Psicologia Social da PUCSP”, Memorandum,
n.14, abril/2008.
[65]Sawaia, Bader. op. cit.,
pp.16-17.
[66] Entre outros: Lima, Renato S. “História da Psicologia
Social no Rio de Janeiro”, Fractal: Revista de Psicologia, v. 21 – n. 2,
p. 409-424, Maio/Ago. 2009, Bernardes,
Jefferson de Souza. “Pressupostos – História” In Jacques, Graça Correa et
alli. Psicologia Social Contemporânea, Petrópolis, Vozes, (8ª.ed.),
1998, p.30.
[67] Furtado, Odair op. cit., p.167.
[68]Guedes, Maria do Carmo. “Memórias da
Pós-graduação em Psicologia no Brasil: a Psicologia Social da PUCSP”, Memorandum,
n.14, abril/2008, p.108.
[69] Carvalho, Bruno P. e Souza,
Terezinha M. S. “A ‘Escola de São Paulo’ de Psicologia Social: Apontamentos
Históricos”, Psicologia em Estudo, Maringá, v. 15, n. 4,out./dez. 2010,
p.714.
[70]Sawaia, Bader. op. cit.,
p. 13.
[71]Sawaia, Bader. op. cit.,
pp.16-17.
[72] Furtado, Odair. op. cit., p.181.
[73]Andery, Alberto Abib. “Liderança
política e intelectual”. Psicologia
e Sociedade, Porto Alegre, v. 19, n. esp.2, 39-45, 2007,
p 28.
[74]Andery, Alberto Abib “Trabalhos em
Comunidade: seu significado para produção de novos conhecimentos científicos”. Psicologia,
Ciência e Profissão, vol.4, n.1,
1984, p.31.
[75]Bernardes, Jefferson de Souza.
“Pressupostos – História” In Jacques, Graça Correa. Psicologia Social
Contemporânea, Petrópolis, Vozes, (8ª.ed.), 1998, p.31.
[76]Lane, Silvia T. M. “Psicologia Social
e uma nova concepção do homem para a Psicologia” In Lane, Silvia T.M. e Codo,
Wanderley (orgs). Psicologia Social: O homem em movimento, São Paulo,
Brasiliense, 1984, p.11.
[77]Rodrigues, A., Assmar, E. e Jablonski,
B. Psicologia Social (29ª edição), Petrópolis, Vozes, 2012.
[78] Rodrigues, Aroldo. Aplicações da Psicologia Social,
Petrópolis, Vozes, 1983, p.48.
[80] Lane, Silvia T. M. O que é Psicologia Social (Coleção
Primeiros Passos), São Paulo, (13ª.ed.), 1987, pp.78-79.
[81]Molón, Susana I. op.
cit.,, p.51.
[82] Jacques, Graça Correa. Psicologia Social Contemporânea,
Petrópolis, Vozes, (8ª.ed.), 1998, p.14.
[83] Freitas, Mª de Fátima Q. “Contribuições da Psicologia Social
e Psicologia Política ao desenvolvimento da Psicologia Social Comunitária”. Psicologia
& Sociedade, 1(8), jan./jun., 1996, p.68.
[84] Anais do I Encontro Nacional de
Psicologia Social apud Lane, Silvia T. M. O que é Psicologia Social
(Coleção Primeiros Passos), São Paulo, (13ª.ed.), 1987.
[85]Guedes, Maria do Carmo. “A
viagem histórica pela América Latina”. Psicologia e Sociedade, Porto Alegre, v.
19, n. esp.2, 2007, p.40.
[87]Antunes, Mitsuko A. M. “A Psicologia no
Brasil no século XX”, História da Psicologia no Brasil: Novos Estudos.
São Paulo, Cortez/Educ, 2004, p.145.
[89]Bomfim, Elizabeth de Melo. “Psicologia
Social, Psicologia do Esporte e Psicologia Jurídica”, Psicólogo Brasileiro:
práticas emergentes e desafios para a formação, São Paulo: Casa do
Psicólogo, 1994, p.253.
[90]Jacques, Graça Correa. op. cit.,
p.15.
[91]Lane, Silvia. “A Psicologia Social e
uma nova concepção de homem para a Psicologia” In Lane, Silvia e Codo,
Wanderley (orgs.) Psicologia Social: o homem em movimento. São Paulo,
Brasiliense, 1984, p.19.
[93] Lane, Sílvia T. M. “Parar para pensar... e depois fazer –
Entrevista com Silvia T. M Lane”. Psicologia & Sociedade, 1(8):
3-15, jan./jun.1996.
[94]Ozella, Sergio. “Os cursos de
Psicologia e os programas de Psicologia Social: alguns dados do Brasil e da
América Latina”, Psicologia & Sociedade, v.8, n.1, jan.-jun., 1996,
p.136.
[95]Carvalho, Bruno P. e Souza, Terezinha M. S. op. cit.,
p.720.
[96]Cruz, R. N. e van Stralen, C. J. “A produção do conhecimento na psicologia
social brasileira: um estudo descritivo a partir da revista Psicologia &
Sociedade – 1986-1992”, Psicologia & Sociedade; 24 (1), 2012, p.229.
[97]Patto, Maria Helena Souza. “O sentido de uma obra: sobre Sylvia Leser de Mello”. Psicologia USP, Set 2006,
vol.17, no.3, p.11-17.
[98] Depoimento de José Moura
Gonçalves Filho para este trabalho.
[99]Bomfim, Elizabeth de Melo. “Psicologia
Social, Psicologia do Esporte e Psicologia Jurídica”, Psicólogo Brasileiro:
práticas emergentes e desafios para a formação, São Paulo: Casa do
Psicólogo, 1994, p.253.
[100]Molón, Susana I. op.
cit., p.61.
[101]Bomfim, Elizabeth de Melo. “Psicologia
Social, Psicologia do Esporte e Psicologia Jurídica”, Psicólogo Brasileiro:
práticas emergentes e desafios para a formação, São Paulo: Casa do
Psicólogo, 1994, p.258.
[102]
Cruz,
R. N. e van Stralen, C. J. op.
cit., p.228.