Monica Musatti Cytrynowicz[1]

A Psicologia Social, como campo específico e delimitado de conhecimento, começou a se definir em São Paulo na década de 1930. Até este momento não se pode considerá-la autônoma e distinta em relação à Sociologia, embora tenha sido objeto do estudo de alguns autores, como Oliveira Viana, em Pequenos Estudos de Psicologia Social, publicado em 1921. Como ressalta este autor, tanto a Psicologia Social como a Sociologia foram marcadas em seu início pelo Positivismo de Augusto Comte.

A trajetória da Psicologia Social se deu em marcos institucionais, principalmente em faculdades que mantinham atividades de pesquisa e de ensino, a começar pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo e depois na Universidade de São Paulo (USP) e na Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Atualmente, a Psicologia Social é um amplo campo de pesquisa e de atuação, que envolve diferentes espaços institucionais e comunitários, exercendo atividades no âmbito das seguintes áreas: saúde, educação, trabalho, lazer, meio-ambiente, comunicação social, justiça, segurança e assistência social.

Raul Briquet e o primeiro curso de Psicologia Social

Tendo sua origem compartilhada com a Sociologia, foi na então recém-fundada Escola de Sociologia e Política de São Paulo que foi organizado, em 1933,o primeiro curso de Psicologia Social. Considerado como um dos marcos iniciais da área, o curso foi ministrado pelo médico Raul Carlos Briquet, um dos fundadores da Escola e responsável pela Aula Inaugural em 17 de julho de 1933, além de primeiro titular da Cadeira e responsável pelo curso de Psicologia Social.[1]

A Escola de Sociologia e Política promovia a formação em três anos e o curso de Psicologia Social era oferecido no primeiro semestre. Outras disciplinas de Psicologia, como Psicotécnica, foram também ministradas desde o início da Escola.

Em 1935, Raul Briquet publicou o livro Psicologia Social, reunindo as aulas ministradas em 1933. O livro é dividido em duas partes: geral e especial. Na parte geral, Briquet apresenta uma introdução histórica, abrangendo aspectos da Biologia, da Psicologia e da Sociologia. Dentre os subsídios da Psicologia, Briquet expõe quatro partes: Behaviorismo, Guestaltismo, Leis da Natureza Humana e Aprendizagem.

Para Briquet, a Psicologia Social – definida como ciência que estuda os aspectos sociais da vida mental – constitui, ao lado da Biologia, da Antropologia e da História, as bases da Sociologia: “A Psicologia Social participa assim do método sociológico como do biológico. Não pode constituir uma ciência autônoma pelas simples razão que não mira a problema algum cujo estudo não incumba, respectivamente, à Biologia ou à Sociologia”.[2]

Na parte especial, Briquet trata de temas como os fatores psíquicos que motivam o comportamento social, os efeitos desses fatores sobre os indivíduos em sociedade e aspectos da Psicologia coletiva: preconceito étnico, liderança, opinião pública e revolução. “Os preconceitos resultam do etnocentrismo, segundo o qual o nosso grupo é centro universal e unidade-padrão”, escreve Briquet no capítulo sobre “preconceitos de raça”, acrescentando: “A doutrina errônea da inferioridade biológica de algumas raças, com as ilações decorrentes da supremacia de outras, é o maior impedimento à paz universal”.[3]

Conforme artigo de Elizabeth Bomfim, lembrando os debates anti-imigração da Constituinte de 1934, a atitude antirracista de Briquet “levou-o a um ferrenho combate ao preconceito racial num momento histórico em que – aos preconceitos contra negros e mulatos – eram acrescidas as barreiras à imigração japonesa. Posicionou-se, ainda, contra a censura e defendeu a possibilidade de revolução contra um governo injusto”.[4]

Na mesma época que Briquet, o também médico Artur Ramos ministrou no Rio de Janeiro, em 1935, um curso de Psicologia Social na Universidade do Distrito Federal e publicou no ano seguinte o livro Introdução à Psicologia Social com o programa do curso.[5]Conforme Antônio Almeida, “com Artur Ramos encerra-se a fase de origem próxima da Psicologia Social no Brasil”.[6]

Laboratório de Psicologia do Instituto de Educação

Na década de 1930, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (FFCL-USP) existiam dois núcleos de ensino de Psicologia: um associado ao curso de Pedagogia e outro ao de Filosofia. Na cátedra de Psicologia Educacional, da Pedagogia, dirigida por Noemy Rudolfer, funcionava um Laboratório de Psicologia, criado em 1931, que tinha a “dupla finalidade de promover a pesquisa e oferecer serviços psicológicos à comunidade, através de convênio com a Secretaria da Educação”.[7] Este Laboratório desenvolvia também pesquisas em Psicologia Social, como o coordenado pela psicóloga Betti Katzenstein, sobre a influência do ambiente social na origem dos casos problemas, ou a desenvolvida por Judith Hallier e Jovino Guedes Macedo sobre a relação entre a profissão dos pais e a nacionalidade nos jogos de escolares paulistas.[8]

O Laboratório de Psicologia era na época um dos centros mais importantes de Psicologia em São Paulo, reunindo diversos profissionais e interessados na área e foi um dos núcleos que deu origem depois à própria faculdade de Psicologia na USP.[9]

Foi no Laboratório de Psicologia que Aniela Meyer-Ginsberg começou sua carreira profissional como psicóloga em São Paulo. Aniela chegou à cidade de São Paulo em 1936, oriunda da Polônia, com sólida formação e mestrado e doutorado defendidos na Universidade de Varsóvia. Conforme Mônica Azevedo, foi no Laboratório de Psicologia, da cátedra de Psicologia Educacional, que Aniela e Betti Katzenstein desenvolveram pesquisas e projetos em conjunto e este encontro foi o início de uma amizade e parceria profissional que perdurou por toda vida.[10]

Betti Katzenstein havia concluído seu doutorado em Psicologia no Instituto de Hamburgo, em 1931, onde trabalhou com William Stern. Refugiada do nazismo, imigrou ao Brasil em maio de 1936 e três meses depois ingressou no Laboratório de Psicologia, a princípio como colaboradora voluntária e, depois, em março de 1937, como assistente.[11]

Nesta época, em conjunto com Beatriz de Freitas, Betti Katzenstein pesquisou também os interesses das crianças pelos livros (o que gostavam de ler e o que encontravam na literatura) e pelo cinema. Além das questões psicológicas envolvidas, havia a preocupação de influenciar as políticas educativas e relativas às crianças, como a defesa de bibliotecas infantis e da publicação de mais e melhores livros para as crianças. O impacto significativo do cinema demonstrado por estes estudos levou ao interesse pela análise de anúncio de filmes, estudo de decretos que regulavam a assistência de menores ao cinema e a observação das crianças durante as sessões cinematográficas.[12]

A Escola Livre de Sociologia e Política

Noemy Rudolfer, assim como Betti Katzenstein e Aniela Meyer-Ginsberg, também trabalhou na Escola Livre de Sociologia e Política. Na década de 1930, Noemy assumiu as Cadeiras de Psicologia Geral e de Psicologia Social, tendo como professora assistente Aniela, que dirigiu o Laboratório de Psicologia Social da Escola a partir de sua criação em 1937. Segundo Noemy, este foi o primeiro – e até 1941 o único – laboratório de pesquisa específica em Psicologia Social do Brasil.[13]

Foi neste laboratório que Aniela desenvolveu em 1939 sua pesquisa sobre a “Psicologia do anúncio em jornais”.[14] Desde o início, o Laboratório promovia também trabalhos de orientação vocacional e seleção dos candidatos aos cursos, tendo a partir dos anos 1940, após a saída de Aniela, se dedicado principalmente às áreas de seleção e de elaboração e adaptação de testes.[15]

O curso de Donald Pierson, na Escola Livre de Sociologia e Política, também é um marco deste período inicial da Psicologia Social, conforme Elizabeth Bomfim. O curso foi registrado no livro Teoria e Pesquisa em Sociologia, uma coletânea de artigos sobre Sociologia e Ecologia Humana. Pierson, quando o publicou em 1945, já estava há seis anos no Brasil lecionando Sociologia, Psicologia Social e Antropologia Social. Entre seus trabalhos técnicos, destacava-se a coordenação da coleção ‘Biblioteca de Ciências Sociais’ e a publicação da obra Negroes in Brazil: a study of race contact at Bahia (1942).[16] Pierson entendia a Psicologia Social como um subcampo tanto da Sociologia quanto da Psicologia, posição defendida também pela revista Sociologia publicada pela Escola de Sociologia e Política.[17]

Em 1945, Virginia Leone Bicudo, psicóloga e professora da Escola de Sociologia e Política, orientada por Pierson escreveu Estudo de Atitudes Raciais de Pretos e Mulatos em São Paulo, que, conforme Alessandro Santos e outros, foi a primeira dissertação de Mestrado sobre relações étnico-raciais defendida em uma instituição universitária brasileira. Os autores ressaltam que a pesquisa de Virginia trabalhava aspectos da Sociologia e da Psicologia Social: “Essa interface entre Sociologia e Psicologia Social ganha mais evidência no final dos anos 1940, sob os ecos do Holocausto, que impulsiona uma agenda de pesquisa em ciências humanas no pós-guerra voltada para o estudo de estereótipos, atitudes e caráter nacional”.[18]

Otto Klineberg na USP

Outro importante marco na trajetória da Psicologia Social em São Paulo foi o curso oferecido pelo norte-americano Otto Klineberg, em 1945, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (FFCL-USP), que se tornaria a origem do departamento de Psicologia Social e marca o início da institucionalização desta área de conhecimento como ciência autônoma.[19]

Professor da Columbia University, Otto Klineberg escreveu e publicou em 1940 nos Estados Unidos o livro Social Psychology, manual que se tornou um clássico da área. Convidado a vir ao Brasil, Klineberg assumiu a Cátedra de Psicologia do curso de Filosofia da FFCL-USP, alterando o seu enfoque e dirigindo-a mais para a Psicologia Social. O primeiro professor a ocupar a Cátedra de Psicologia fora o filósofo francês Jean Maugüé (1935 a 1944), que organizou a Cadeira seguindo o modelo francês de aulas magnas e considerando a matéria do ponto de vista da formação em Filosofia. 

Otto Klineberg esteve à frente da Cadeira de 1945 a 1947, passando a Cátedra para Annita de Castilho e Marcondes Cabral. Klineberg ampliou as disciplinas de Psicologia, que passaram a ser oferecidas em três anos. Em 1946 criou um curso de especialização em Psicologia que incluía as disciplinas de Biologia, Fisiologia, Estatística, Sociologia, Antropologia e Psicologia Aplicada.[20] Neste período também organizou um manual de Psicologia – Psicologia Moderna – com vários colaboradores que marcaram a história da Psicologia brasileira, entre eles Annita Cabral, Durval Marcondes, Virginia Bicudo, Aniela Ginsberg e Betti Katzenstein.[21]

Em 1946, Otto Klineberg publicou “Introdução à Psicologia Social”, que preenche o primeiro número do Boletim de Psicologia da FFCL-USP e que apresentava o conteúdo das aulas do curso da Faculdade em 1945. No início do volume, Klineberg delineia o que considera o campo da Psicologia Social: “A Psicologia tratará das atividades do indivíduo; a Sociologia e a Etnologia lidarão com grupos ou com instituições sociais. A Psicologia Social tratará do individuo, da maneira pela qual é ele afetado por outros indivíduos, pelos grupos e pelas instituições sociais. Praticamente, será difícil, se não impossível, manter sempre esta distinção. Por isto não precisamos nos desculpar. As linhas de demarcação entre as ciências são usualmente artificiais”.[22]

Klineberg chama a atenção para o campo do Social no interior da Psicologia e, ao responder à indagação se toda a Psicologia era uma Psicologia Social, ressalta que apenas as reações fisiológicas e biológicas não são sociais: “Assim, podemos pois dizer – que embora nem toda a Psicologia seja Psicologia Social, certamente a maior parte dela o é; na realidade muito mais do que geralmente se pensa. No passado, muitos psicólogos não se deram conta de que, quando falavam da Psicologia geral ou humana, tudo o que eles realmente sabiam, em parte ou mesmo completamente, era a Psicologia daquela espécie de gente entre a qual viviam. Isto é, tratava-se principalmente da Psicologia do homem ocidental ‘civilizado’, de fundo europeu ou americano. Pode-se mesmo dizer que era a Psicologia dos estudantes de colégios e universidades ocidentais, pois este constituíam a grande maioria dos sujeitos empregados nos experimentos de laboratório!”[23]

Caráter nacional, questões raciais e preconceito

Os estudos do caráter nacional, assim como as questões raciais e o preconceito, eram os temas de interesse de Klineberg. Em “Introdução à Psicologia Social”, Klineberg ressalta a importância do estudo científico do tema: “As crenças sobre raça têm uma aplicação prática e um significado político que afetam a vida dos povos em todo o mundo”. Ele questiona as várias definições das raças, especialmente as teorias que relacionam características físicas como determinantes sociais, refutando os argumentos pela mesma lógica com que eram defendidos. Ao responder aos que defendem uma relação entre as características físicas e o “desenvolvimento evolutivo”, afirma que os defensores escolhem apenas os critérios que lhe interessam e nunca, por exemplo, o fato de que os negros têm menos pelos que os brancos e os mongóis têm os lábios mais finos que os brancos, o que, segundo a mesma lógica, levaria à conclusão contrária. Ao responder aos que atribuíam a diferença ao tamanho do cérebro, lembrava que os negros de grupos como os Kaffirs e Amoxosa têm, em média, cérebros maiores que grupos brancos como os escoceses, o que evidenciava igualmente como a escolha dos caracteres físicos era seletiva para demonstrar as supostas “teses raciais”.[24]

Klineberg se preocupava especialmente com os estudos que envolviam testes de características de personalidade ou de inteligência: “Os testes têm, entretanto, um sério inconveniente: fornecem variações individuais e coletivas que podem seguramente ser atribuída à hereditariedade somente se os grupos e indivíduos tratados têm oportunidades ambientais semelhantes. Na comparação de duas populações raciais ou nacionalmente distintas, tal grau de similitude é quase impossível de encontrar-se, e as diferenças nos resultados dos testes poderão, portanto, ser sujeitas a grande diferenças de interpretação”.[25] Neste sentido, cita um estudo que analisava a relação entre QI e grupos raciais nos EUA e, comparando a distribuição racial da população com os gastos per capita em educação, mostrava que, na verdade, a variável mais importante era o ambiente e não a raça – provando, inclusive, que os negros das cidades no Norte apresentavam níveis superiores aos brancos do Sul dos Estados Unidos.

Na sessão inaugural da Sociedade de Psicologia de São Paulo, em 12 de dezembro de 1945, Otto Klineberg proferiu a conferência “Psicologia e Caráter Nacional”, chamou a atenção para os estereótipos e criticou o argumento de que sempre há um ‘grão de verdade’ neles. Citou exemplos de como os chineses eram descritos na Califórnia em dois momentos diversos: antes de 1870, quando eram necessários como mão-de-obra (“acima de qualquer elogio”, “sóbrios”, “obedientes à lei”, “capazes para todos os serviços”, etc.), e depois, quando não se queria mais imigrantes (“imundos”, “repugnantes nos seus hábitos”, “perigosos”, “inferiores mental e moralmente”, etc.). “É pouco provável que os chineses tenham mudado durante este tempo, mas o estereótipo certamente mudou”, escreveu ele.[26] Apesar das ressalvas, Klineberg avaliava que o estudo do caráter nacional era um rico campo a ser explorado, não só pelos aspectos dos indivíduos, como através das realizações culturais daquele povo, como humor, poesia, ficções, provérbios populares, etc. E concluía a conferência destacando a complexidade do tema e a crença no desenvolvimento de estudos.

Depois de retornar aos Estados Unidos, Klineberg publicou em 1954 a edição revista e ampliada de Social Psychology, que teve a primeira edição brasileira (Psicologia Social) em 1959. Silvia Lane assim avalia a importância desta obra: “A influência maior, na Psicologia, foi sempre a norte-americana, através dos seus centros de estudos, para onde iam se aperfeiçoar cientistas e professores, ou de onde vinham professores universitários, convidados para cursos em nossas faculdades, como foi o caso do professor Otto Klineberg, que introduziu a Psicologia Social na Universidade de São Paulo, ainda na década de 1950. E, por sinal, o primeiro livro de Psicologia Social publicado no Brasil foi a tradução da obra de Klineberg, em 1959 (...) Esta Psicologia Social continuou sendo ensinada, com pequenas reformulações devido a novas pesquisas, nos cursos de Psicologia criados a partir de 1962, sem grandes alterações”.[27]

Como consultor da Unesco, Otto Klineberg recomendou que se realizasse uma ampla e diversificada investigação sobre o complexo e matizado padrão de relações raciais no Brasil. Enfatizou também a importância da inclusão nas investigações dos aspectos psicossociais e sugeriu o nome dos possíveis pesquisadores.[28] Assim, Virgínia Bicudo e Aniela Ginsberg foram convidadas a participar deste importante estudo, coordenado por Roger Bastide e Florestan Fernandes. Os resultados dos trabalhos realizados por elas foram publicados em 1955 no livro Relações Raciais entre Negros e Brancos em São Paulo.[29]

Aniela pesquisou as atitudes de um grupo de 208 escolares em relação às crianças negras. No estudo, propôs um jogo em que oferece duas bonecas (uma negra e outra branca) e pede às crianças para vestir, escolher uma casa, uma atividade, etc. para cada uma e comentar suas escolhas. Também oferece cartelas com desenhos em que há crianças brancas e negras em situações que indicariam preconceito e pede para as crianças comentarem. Já Virgínia estuda as atitudes dos alunos em relação à cor de seus colegas.[30] Com esta pesquisa, Virgínia Bicudo encerra seus estudos sobre atitudes raciais e passa a se dedicar à clínica, à formação e ao ensino da Psicanálise.

Aniela Ginsberg, embora tenha se tornado uma especialista em teste de Rorschach, continuaria desenvolvendo trabalhos no campo da Psicologia Social, especialmente em questões transculturais e interculturais. Em 1952, Aniela foi convidada por Enzo Azzi para organizar e dirigir o Centro de Orientação Psicológica do Instituto de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (IPPUC-SP), dedicando-se à pesquisa na área de Psicologia Social e ao desenvolvimento de uma linha de trabalho que se tornaria inovadora da pesquisa no País.[31]

Annita Cabral, Dante Moreira Leite e o Caráter Nacional Brasileiro

Annita de Castilho e Marcondes Cabral substituiu Otto Klineberg na Cátedra de Psicologia na USP e manteve seu trabalho e o sistema de ensino criado por ele, acrescentando ao currículo um treinamento obrigatório de testes mentais e de técnicas projetivas, um curso de Gestalt, um de Piaget e um projeto de campo de Psicologia Social.[32]Annita Cabral era graduada em Filosofia pela FFCL-USP e fez especialização nos EUA, onde foi aluna de Kurt Koffka e Max Wertheimer (Gestalt) em Nova York. Ela se tornaria a principal responsável pelo desenvolvimento da Psicologia Social na USP em seu início institucional.

Ainda nos anos 1950, o trabalho de um dos orientandos de Annita Cabral, Caráter Nacional Brasileiro: Descrições das Características Psicológicas do Brasileiro através de Ideologias e Estereótipos, de Dante Moreira Leite, defendido em 1954, se destacaria na produção de Psicologia Social. Nascido em 1927, licenciou-se em Filosofia na FFCL-USP em 1950. Segundo Odair Furtado: “A tese de Leite tem esse impacto porque retrata a superação do modelo racial, a partir de uma profunda análise da concepção de caráter e de caráter nacional”.[33]

Sobre as influências recebidas na graduação, Dante Moreira Leite rememorava: “A grande influência que aí recebi foi indiscutivelmente das aulas de Annita Castilho Marcondes Cabral, tanto nos cursos regulares de Psicologia Social e Gestalt théorie, quanto, mais tarde em seminários de leitura”.  E completava: “No campo da Sociologia, tive cursos com Florestan Fernandes e Antonio Cândido, mais tarde utilizados no estudo de Psicologia Social, onde um dos polos acaba sendo sempre uma perspectiva sociológica ou, pelo menos, cultural”.[34] Dante lecionou Psicologia na FFCL-USP entre 1951 e 1958 como assistente de Annita Cabral, que era a chefe da Cátedra.

O estudo da Psicologia seria um acréscimo aos seus estudos, conforme ressalta Geraldo Paiva: “Embora licenciado em Filosofia, voltou-se cada vez mais para o estudo da Psicologia e, nesta, adotou um enfoque fundamentalmente gestáltico, lewiniano e heideriano. Em 1954 doutorou-se em Filosofia com a famosa tese, na área da Psicologia, intitulada Caráter Nacional Brasileiro: Descrições das Características Psicológicas do Brasileiro através de Ideologias e Estereótipos”.[35]

E conforme Ecléa Bosi: “É tal a massa de traços psíquicos e morais que sai desses livros, que Dante não poderia ter dominado matéria tão vasta senão nos termos que ela merecia: termos de ideologia. Aí está o significado mais alto da sua contribuição à cultura brasileira: ter ido ao fundo do problema das definições psicológicas de um povo, submetendo-as à análise ideológica dos valores (endossados ou rejeitados pelos seus intérpretes)”.[36] “E de Guimarães Rosa, do seu Grande Sertão: Veredas foi que ele tirou a epígrafe do Caráter Nacional Brasileiro: uma frase que é o maior desmentido aos que creem que os homens são radicalmente desiguais por causa da raça ou da religião. Aos que dizem: ‘existem brasileiros, existem ingleses, existem negros, existem judeus’, e juram por essas diferenças, Dante, pela boca de Riobaldo, jagunço e filósofo respondeu: ‘Existe é homem humano’, lembra Ecléa Bosi”.[37]

Após a conclusão do doutorado, Dante Moreira Leite foi estudar na Universidade de Kansas (EUA) e, ao retornar, retomou o trabalho da tese, que daria origem ao livro O Caráter Nacional Brasileiro: História de uma Ideologia, (atualmente na 7ªedição, publicada em 2007).

Nas conclusões da segunda edição de O Caráter Nacional Brasileiro Moreira Leite afirmava: “Não existe qualquer prova de que um povo tenha características psicológicas inexistentes em outro. Quando muito seria possível pensar em características mais importantes num grupo do que em outro, mas isso só poderia ser feito através de técnicas quantitativas e de distinção entre grupos. Mas ainda que algum dia se chegue a esse tipo de estudo, as características psicológicas não poderão ser entendidas como fonte de desenvolvimento histórico e social. Ao contrário, as condições da vida social é que determinam as características psicológicas, embora estas, depois, possam também influir na vida social”.[38] E completava: “Portanto, as ideologias do caráter nacional brasileiro frequentemente representam, não uma autêntica tomada de consciência de um povo, mas apenas um obstáculo no processo pelo qual uma nação surge entre as outras, ou pelo qual um povo livre surge na História”.[39]

Na avaliação de Odair Furtado, a obra de Moreira Leite estava completamente inserida na produção da mesma época em Ciências Humanas dentro da universidade, ao mesmo tempo em que se destaca do contexto do que era produzido no campo da Psicologia Social: “Dante Moreira Leite abre uma senda para a constituição de uma Psicologia Social vinculada ao estudo da realidade brasileira. Elabora seu trabalho no mesmo momento em que se constitui a Sociologia brasileira com Florestan Fernandes e que se renova o debate e a teoria sobre a literatura brasileira com Antônio Cândido. No entanto, essa perspectiva não se desenvolve na Psicologia Social. Prevalece a importação do modelo experimental norte-americano e do qual, a partir de 1962, Aroldo Rodrigues será o maior representante”.[40] Moreira Leite acreditava que a Psicologia Social brasileira havia surgido mais da transposição de teorias e conhecimentos estrangeiros do que da tentativa de dar conta de problemas de nossa vida coletiva, ressaltam Schmidt e Neves: “O que ele buscava, em contraposição às reproduções de tais teorias e conhecimentos, era a constituição de uma ciência enraizada na realidade social brasileira, sem, contudo, deixar de reconhecer a importância de certas teorias e conhecimentos europeus e norte americanos”.[41]

Preocupado com a pouca oferta de livros de qualidade na área, Dante Moreira Leite teve também atuação como tradutor: “Havia a necessidade, não apenas de padronização de uma linguagem psicológica, mas também de orientação quanto a livros que deveriam ser publicados ou traduzidos. Isto explica que, já há alguns anos, eu tenha aceito a incumbência de participar do conselho editorial da Editora Pioneira, e, mais recentemente, da Editora Perspectiva”.[42] Dante foi responsável pela tradução de 47 títulos de Psicologia, publicados entre 1960 e 1976.[43] Entre 1959 e 1971, ele ministrou as disciplinas de Psicologia e Psicologia Educacional na FFCL de Araraquara.[44]Em 1964 tornou-se Livre-Docente em Psicologia Educacional com a tese Psicologia e Literatura.

Em 1957, por iniciativa de Annita Cabral, foi oficializado, através de legislação estadual, o curso de graduação em Psicologia da FFCL-USP, com duração de quatro anos e do qual participavam os professores da Cadeira de Psicologia do curso de Filosofia e da Cadeira de Psicologia da Pedagogia. O curso oferecia um diploma de bacharel em Psicologia reconhecido no Estado de São Paulo antes mesmo da regulamentação da profissão. Três turmas se formaram neste regime. Em 1962, com a regulamentação da profissão, este curso foi modificado e acrescido de um quinto ano, originando o curso de graduação atual.[45]

O curso funcionava em vários locais que abrigavam os cursos da FFCL, como a Alameda Glete e a Rua Maria Antonia. Na época da criação do curso, a Cadeira de Annita Cabral foi desmembrada em Cadeira de Psicologia Social e Experimental e Cadeira de Psicologia Clínica, esta assumida por Durval Marcondes. Segundo Zélia Chiarottino, a disciplina de Psicologia Social ministrada por Annita Cabral tratava dos processos psicossociais básicos a partir da teoria da Gestalt de Koffka e Wertheimer, Kurt Lewin e Asch.[46]

Estruturação de um campo e de uma imagem profissional

Com a regulamentação oficial da profissão em 1962 e o início dos primeiros cursos de graduação no país, a Psicologia mudou o seu patamar de inserção e de reconhecimento profissional e social. Em São Paulo, os primeiros cursos foram das faculdades de Filosofia da USP, do Sedes Sapientiae e da São Bento, ambos da PUC-SP. A partir do início dos anos 1970 ocorreu um crescimento do número de cursos e faculdades e uma expansão do número de profissionais.

Para a Psicologia Social, no entanto, a regulamentação da profissão teve um impacto menor que em outras áreas, uma vez que seu campo de atuação e saber não foram reconhecidos como exclusivos dos psicólogos. Tanto que muitos profissionais e professores da área tiveram dificuldade de reconhecimento pelo MEC da qualificação e da experiência profissional já exercida para a obtenção do título de psicólogo.[47]

Ao analisar a regulamentação da profissão e dos cursos universitários de psicologia, Sylvia Leser de Mello ressalta: “Antes de 1962, os cursos superiores de Psicologia não eram profissionalizantes; após a regulamentação dos cursos, e da profissão, tornaram-se estritamente profissionalizantes, de acordo, aliás, com a própria Lei n.4.119. Entretanto, se essa profissionalização do Ensino Superior eliminou a precariedade na formação dos técnicos e valorizou a profissão, só o fez ao custo de uma adesão indiscriminada aos padrões societários de culto ao profissional liberal. É verdade que muitas irregularidades na aplicação das técnicas psicológicas foram assim sanadas. Mas antes de se transformar num profissional liberal, isto é, antes da regulamentação profissional, o psicólogo, bem ou mal, trabalhava nas escolas, nas indústrias, em cargos públicos que, muitas vezes, ajudaram a criar. Havia algo de mais urgente a realizar, que era demonstrar, fosse como fosse, a importância social da profissão. Nessa medida, a grande vitória da Lei n. 4.119 seria, não a regulamentação profissional, mas a criação dos cursos superiores como a única via de acesso à profissão”.[48]

Ao analisar a atuação dos psicólogos, assim como suas aspirações profissionais, Sylvia é crítica em relação ao que considera o predomínio absoluto da clínica particular: “Nossas objeções não visavam à prática clínica da Psicologia Clínica, e sim a orientação unidimensional da Psicologia Aplicada e a vinculação da imagem profissional à do médico”.[49] A este respeito analisa dois fatores negativos desta identificação, a primeira com o profissional liberal, de limitada ação social, e a segunda com a própria profissão: “É à ciência psicológica que o psicólogo deve os conhecimentos e as técnicas que utiliza em seu trabalho e, portanto a imagem que deve promover é a do psicólogo, isto é, a do profissional que está empenhado na solução de problemas afetos ao comportamento humano onde quer que esse comportamento ocorra, e não de um profissional empenhado na cura de doenças”.[50]

Esta formação unidirecionada para a atuação clínica, especialmente a privada, teve significativo impacto no enfraquecimento das outras áreas de atuação, entre as quais a Psicologia Social, que assumiu um lugar secundário no interesse, na formação e na atuação destes profissionais.

Como avalia Sylvia Leser, dez anos após o reconhecimento da profissão: “Acreditamos, assim, que todos os dados reunidos até agora, no que respeita aos cursos de Psicologia, à atuação dos profissionais e às aspirações dos estudantes, vêm demonstrar que o psicólogo não possui uma imagem adequada das suas funções sociais, pois, de fato, elas nem sequer chegam a ser percebidas como funções sociais. A limitada extensão dos serviços que o psicólogo presta à comunidade é decorrência das funções também limitada que ele se atribui”.[51]

Psicologia Social no Instituto de Psicologia da USP

Em 1969, em consequência da Reforma Universitária na USP, foi fundado o Instituto de Psicologia e seus departamentos, entres os quais o de Psicologia Social e do Trabalho.[52] Em 1971, a instalação deste departamento se tornou possível com a nomeação do professor Livre-Docente Dante Moreira Leite, que assumiu sua chefia, e com o doutoramento da professora Ecléa Bosi. O departamento deixou de ser chefiado por uma comissão de tutela e, no ano seguinte, com a defesa de tese de Sylvia Leser de Mello, As atividades profissionais e o psicólogo em São Paulo, foi melhor estruturado e teve ampliada as suas atividades de pesquisa e de ensino.[53]

Em 1972 foi publicado o livro Cultura de Massa e Cultura Popular: Leituras de Operárias, de Ecléa Bosi, resultado de sua tese de doutoramento defendida em 1970 e orientada por Dante Moreira Leite. Odair Furtado considera a obra um marco da Psicologia Social brasileira: “Nele Ecléa Bosi discute a comunicação de massa, cultura de massa, cultura popular e cultura operária e, por fim, leituras operárias”.[54]

Ecléa assim conclui seu livro: “Depois de descobrir carências, percebemos que elas nos comprometem. É preciso conhecer o problema de perto, tocar nos fatos. Mas isso não basta para que se fale em nome de alguém: devemos também enxergar de sua perspectiva a realidade. Assumir uma visão operária do mundo é um exercício difícil, um limite que tentamos alcançar, um caminho a percorrer”.[55]Além do compromisso social, as obras de Ecléa se tornaram exemplos do diálogo da Psicologia Social com outras áreas do conhecimento, como a História, a Literatura e as Ciências Sociais. Memória e Sociedade: lembrança de velhos, publicado em 1979, por exemplo, também se constituiu como um marco tanto para os trabalhos de Psicologia Social como para os estudos de História e das Ciências Sociais.

Furtado ressalta, no entanto, que tanto o trabalho de Dante Moreira Leite quanto o de Ecléa Bosi representavam uma exceção dentro do panorama da produção da Psicologia Social até os anos 1970.[56]

Dante Moreira Leite assumiu a direção do Instituto de Psicologia da USP em 1974 e faleceu em 1976, aos 48 anos. Para seus contemporâneos, o IPUSP perdeu muito com a sua morte prematura, pelo que ele representava em termos de posição e de atitudes democráticas, de uma Psicologia mais abrangente, engajada, que levasse em conta a realidade social e a história brasileira e também estabelecesse interlocuções com diversos campos do conhecimento.[57]

Maria Margarida Carvalho avalia que Dante enfatizou seu engajamento em pesquisas enraizadas na realidade social brasileira como sendo um aspecto significativo para a Psicologia: “Ele queria fazer uma Psicologia Social ativa, que fosse pesquisar a realidade social. Ele pegou temas sociais vivos naquele momento. E essa seria a linha que ele teria levado em frente em termos de pesquisa, em termos de departamento. A ideia era fazer pesquisas com a comunidade, trabalhar esta ligação comunidade-USP que, que eu sabia, parou depois por muito tempo”.[58]

Sem a presença de Dante, a trajetória da Psicologia Social, na USP, foi marcada em seu início pelos trabalhos de Ecléa Bosi e de Sylvia Leser de Mello. Além dos estudos sobre a formação e a atuação dos psicólogos em São Paulo, uma das obras mais conhecidas de Sylvia é Trabalho e Sobrevivência: Mulheres do Campo e da Periferia, publicado na década seguinte.

Psicologia Social na Pontifícia Universidade Católica

Em 1965, Aniela Ginsberg, que coordenava as pesquisas em Psicologia Social desde a década anterior no IPPUC-SP, convidou Silvia Tatiana Maurer Lane para trabalhar naquela instituição. Silvia Lane estudou Filosofia na FFCL-USP, foi aluna de Annita Cabral, esteve como bolsista aos EUA em 1955 e no mesmo ano foi chamada para trabalhar no Centro Regional de Pesquisas Educacionais, dirigido por Fernando de Azevedo.[59]

Em 1965, Silvia Lane passou a dar aulas de Psicologia Social na FFCL São Bento da PUC e a trabalhar no laboratório de Psicologia Experimental, em ambos com Maria do Carmo Guedes, instituições nas quais as pesquisas de Psicologia Social e Psicologia Experimental eram realizadas em conjunto. Também na USP a Psicologia Social e Experimental estavam inicialmente reunidas no mesmo departamento. Tanto que Carolina Bori, importante psicóloga experimental, publicou trabalhos de Psicologia Social (na linha de Kurt Lewin) [60].

Em 1968, Silvia Lane participou com outros professores de um movimento de renovação dentro da PUC, substituindo as aulas teóricas por leituras, discussões em aula e trabalho reflexivo. Conforme Bader Sawaia, que na época cursava Sociologia na FFCL Sedes Sapientiae, as aulas de Silvia Lane naquele período atraíam um grande número de alunos e ela assumiu um lugar de liderança e reconhecimento político e profissional[61]. Silvia Lane foi a primeira diretora da nova faculdade de Psicologia, de 1971 a 1974.

Com as mudanças institucionais e preocupadas com a continuidade das pesquisas, Aniela Ginsberg e Silvia Lane, conjuntamente com Joel Martins, criaram em 1972 o programa de pós-graduação em Psicologia Social.[62] Recordando este momento, Sílvia Lane lembrava em texto de 2007: “A pesquisa, segundo o estatuto, deveria ser desenvolvida pelos departamentos, esses departamentos eram muito envolvidos com a graduação e teriam pouco tempo para pesquisa. Nossa intenção, Aniela e eu, para preservar a pesquisa, era criar um curso de pós-graduação que visaria, formalmente, a formação de pesquisadores”.[63]

Maria do Carmo Guedes recorda que as primeiras disciplinas oferecidas na pós-graduação foram Psicologia Social (ministrada por Karl Sheibe, contratado com bolsa Fullbrigt) e Pesquisa Intercultural (por Aniela Ginsberg). No ano seguinte, Sílvia Lane, já doutora, ofereceu outras duas: Psicologia da Linguagem e Pequenos Grupos. Guedes ressalta que embora Aniela fosse uma grande especialista de Rorschach, ela utilizava o teste na pesquisa intercultural.[64] Segundo Bader Sawaia, para Lane a pesquisa era fundamental, pois sem ela a “Psicologia se tornava metafísica”, mas pesquisa sem teoria se tornava apenas a descrição do aparente e pesquisa e teoria sem prática são ingênuas e inócuas.[65]

Silvia Lane e a “crise da Psicologia Social”

Durante a década de 1970 o pensamento e o trabalho de Silvia Lane passaram por uma transformação, que, por sua posição de liderança, produziram efeitos em todo o campo da Psicologia Social. Em um primeiro momento, quando começou a lecionar na graduação, o curso se apresentava conservador, trazendo conteúdos, conceitos, teorias e metodologias consideradas tradicionais. Mas, a partir da década de 1970, cresce entre Silvia e o seu grupo uma inquietação sobre as bases teóricas e metodológicas da Psicologia Social, especialmente a cognitiva norte-americana, que exercia uma influência importante na área. Este momento ficaria conhecido depois como a “Crise da Psicologia Social”.[66] Entre os questionamentos estavam o compromisso ideológico que a aparente neutralidade produzia e a discussão sobre a necessidade de uma Psicologia Social científica e ao mesmo tempo comprometida com as condições de vida da população.[67]

Foi especialmente em torno do Programa de Estudos Pós-Graduados de Psicologia Social da PUC-SP que se formou o grupo que acompanharia Silvia Lane nestes questionamentos. Maria do Carmo Guedes lembra que, desde o início do curso, em 1973, havia um desenvolvimento e discussão contínuos, de forma que cada novo semestre se iniciava “com apresentação dos projetos do semestre anterior aos novos alunos, num trabalho cumulativo crítico sobre as teorias estudadas”.[68]

Partindo da crítica ao cognitivismo norte-americano, Silvia Lane, seus alunos e colaboradores, procuraram novos autores e interlocutores. Marcam este período as dissertações de Antonio Ciampa – A identidade social e suas relações com a ideologia (1977) – e de Bader Sawaia – Ibitinga: Suas práticas econômicas e representações sociais (1979). Carvalho e Souza ressaltam: “Cumpre notar que caracterizar tais produções e autores como uma escola não implica afirmar que se trate de um grupo homogêneo, em sua diversidade guarda como unidade um aspecto fundamental: o comprometimento com a transformação social da realidade aliado à apropriação do referencial teórico-metodológico do materialismo histórico-dialético”.[69]

Silvia Lane foi, sem dúvida, uma das mais importantes teóricas da Psicologia Social no País e uma protagonista da linha da Psicologia Social engajada e crítica. Segundo Bader Sawaia: “Com uma formação sólida em Filosofia, aliada a uma vocação ética indestrutível e à paixão pela pesquisa, coordena um movimento de revisão crítica da Psicologia Social que redunda na criação de um corpo teórico-metodológico sólido e em uma práxis transformadora, conhecidos fora do Brasil como ‘Escola de São Paulo’.”[70] Ainda segundo Bader, Silvia Lane teve papel destacado nas décadas de 1970 e 1980, “transformando campos de estágio, a pesquisa e a teoria em espaços de reflexão crítica, de conscientização política e de potencialização da ação emancipadora, sem perder o rigor científico”.[71]

A Psicologia Social na Prática Clínica

Também na graduação, além de uma mudança gradativa nas abordagens apresentadas nas disciplinas de Psicologia Social, Silvia Lane propôs duas disciplinas que influenciaram os alunos da graduação. A primeira era uma optativa de “Estudos Livres”, criando a oportunidade aos alunos do terceiro ano da Psicologia de escolherem um tema de estudo para aprofundamento, trabalho em que o importante era a seriedade e o rigor na pesquisa; a disciplina despertou o interesse pela pesquisa e promoveu a aproximação dos alunos ao grupo de Lane.

Como ressaltado anteriormente, a Psicologia Clínica era, durante os anos 1970, a área hegemônica de atuação e interesse entre psicólogos e estudantes. Reconhecendo esta realidade, Silvia Lane propôs em 1977 uma disciplina de graduação junto com Odette Godoy Pinheiro e Alberto Abib Andery (que mantinha militância ligada à esquerda católica e ao movimento operário) intitulada “A Psicologia Social na Prática Clínica”. O curso tinha o objetivo de “preparar o aluno para uma práxis clínica integradora dos aspectos sociais”. Segundo Furtado: “A temática era um achado, na medida em que a maioria esmagadora dos alunos da Faculdade de Psicologia da PUC-SP se especializava na área clínica. Esta área, mesmo com o tipo de ensino crítico ministrado ali, apresentava um forte viés individualista. Apesar do compromisso político de boa parte dos professores, o instrumental teórico era voltado para o atendimento nos consultórios privados e a ideologia reproduzida por este modelo de atendimento era a do psicólogo como profissional liberal”.[72]

Abib recorda: “Esse núcleo visava a aproximação entre os futuros profissionais psicólogos e a população operária e proletária nos extremos da periferia da grande São Paulo. Os estágios eram desenvolvidos no Jardim Santo Antônio, em Osasco, com a ajuda de uma equipe multiprofissional. Contamos também com a colaboração da colega e professora Odette Pinheiro. Sílvia Lane, na chefia do Departamento de Psicologia Social e depois diretora do Centro de Ciências Humanas, deu apoio entusiasmado e críticas construtivas ao projeto, enquanto ele durou”.[73]

Em 1984, Abib comentava que, com este trabalho multidisciplinar e psicossocial, “estamos chegando a uma redefinição da saúde mental como a participação do indivíduo e do seu grupo social na melhoria das condições de vida e não apenas como episódio individual aleatório e puramente hereditário”.[74]

A Psicologia Social na América Latina

Em termos associativos, a Psicologia Social acompanhou os questionamentos vividos na universidade ao longo da década de 1970. Em muitos países da América Latina começou um movimento de questionamento e de crítica à Alapso – Associação Latino Americana de Psicologia Social, à época predominantemente cognitivista, e várias associações começaram a surgir, identificadas com uma nova proposta de Psicologia Social. Os críticos consideravam a Psicologia Social então hegemônica como cientificista, trabalhando os temas de forma descontextualizada, simplificadora e superficial em suas análises, individualizadora do social e sem preocupação política com as relações sociais no País.[75]

Silvia Lane relembra este processo: “Na América Latina, Terceiro Mundo, dependente econômica e culturalmente, a Psicologia Social oscila entre o pragmatismo norte-americano e a visão abrangente de um homem que só era compreendido filosófica ou sociologicamente, ou seja, um homem abstrato. Os congressos interamericanos de Psicologia são excelentes termômetros dessa oscilação e culminam em 1976 (Miami) com críticas mais sistematizadas e novas propostas, principalmente pelo grupo da Venezuela, que se organiza numa Associação Venezuelana de Psicologia Social (Avepso) coexistindo com a Associação Latino-Americana de Psicologia Social (Alapso). Nesta ocasião, psicólogos brasileiros também faziam suas críticas, procurando novos rumos para uma Psicologia Social que atendesse a nossa realidade”.[76]

Aroldo Rodrigues era o presidente da Alapso desde 1973. Psicólogo do Rio de Janeiro, com mestrado na Universidade de Kansas e doutorado na Universidade da Califórnia, Aroldo Rodrigues foi o mais expressivo representante da corrente cognitivista norte-americana e assumiu uma posição de polarização com a Psicologia Social Crítica. Seu livro, Psicologia Social – publicado pela primeira vez em 1972 e atualmente na 29ª edição[77] – foi a obra de autor brasileiro mais utilizado nos cursos de Psicologia Social das faculdades durante um período expressivo.

Aroldo Rodrigues considerava que os trabalhos desenvolvidos pela Psicologia Social Crítica eram pouco científicos e muito políticos. Ele defendia que a ciência deveria ser “neutra” e não “ideológica”: “Nenhum biólogo, em sua atividade científica, inventou os micróbios utilizados numa possível guerra biológica; o que ele fez foi descobrir a sua existência e as suas condições de vida; de posse de tal conhecimento, o tecnólogo pode empregá-lo na construção de um artefato para fins de ataque ao inimigo. Nenhum psicólogo social, em sua atividade científica, utilizou determinado tipo de persuasão para transformar os valores ou as atitudes de uma pessoa. O que ele fez foi descobrir os fatores que facilitam ou dificultam a eficácia de uma comunicação persuasiva; o uso destes conhecimentos para modificar as pessoas compete ao tecnólogo social ou ao profissional aplicado que os utiliza para obtenção de determinados fins. É devido a esta distinção tão clara e tão óbvia entre os objetivos das ciências e os as atividades práticas, que o autor deste livro sempre defendeu a posição de que a ciência é neutra, não tendenciosa e não ideológica”.[78]

Assim, para Aroldo Rodrigues, as críticas não se justificavam e eram políticas e não técnicas: “Dependendo do extremismo e da exaltação de cada crítico, os que atacaram o status quo variavam desde uma mera preocupação com a necessidade de tornarem-se os conhecimentos psicológicos mais orientados para as necessidades sociais até um virulento e destrutivo libelo contra toda a atividade desenvolvida pelos psicólogos sociais até então”.[79]

Silvia Lane relata que, no congresso da Sociedade Interamericana de Psicologia em1976, em Miami, foram levantadas algumas críticas metodológicas e teóricas, porém sem contribuir com qualquer proposta concreta para a superação dos impasses: “No Congresso seguinte, em 1979, ocorrido em Lima, Peru, a situação se apresentou outra – as críticas eram mais precisas e novas propostas surgiram, visando uma redefinição da Psicologia Social. (...) No final do Simpósio ressaltamos esta coincidência, chamando a atenção do seu significado para o que deveria ser uma Psicologia Social voltada para as condições próprias de cada país latino-americano, e descobrimos que muitos outros psicólogos sociais se identificavam conosco”.[80]

I Encontro Brasileiro de Psicologia Social e a fundação da Abrapso

Após o congresso da Sociedade Interamericana de Psicologia, no Peru, um grupo de psicólogos resolveu promover um encontro sobre problemas urbanos e grupos de trabalho sobre temas pesquisados. Assim, em outubro de 1979 foi realizado na PUC de São Paulo o I Encontro Brasileiro de Psicologia Social. Este evento permitiu a interlocução de psicólogos sociais que atuavam em diversos campos e instituições. Propiciou também o encontro dos psicólogos sociais da PUC, como Silvia Lane, Maria do Carmo Guedes, Bronia Liebesny, A. Abib Andery e Suely Rolnik, e da USP, entre as quais Ecléa Bosi e Sylvia Leser de Mello, cujas trajetórias parecem ter corrido em paralelo durante a década de 1970 e sem uma relação efetiva entre os dois grupos.

Foi durante os debates deste I Encontro que começou a surgir a proposta de se criar uma Associação Brasileira de Psicologia Social. Susana Molón lembra: “Esse seminário é extremamente significativo na história da Psicologia Social no Brasil, pois proporcionou um espaço fecundo para reflexões e debates, tanto nas mesas-redondas quanto nos grupos de trabalho, propiciando uma oportunidade de intercâmbio de experiências e uma surpreendente concordância em relação à postura crítica quanto ao papel da ciência”.[81]

Neste contexto foi fundada a Abrapso – Associação Brasileira de Psicologia Social, “cujo documento de proposta de criação expressa a preocupação do grupo brasileiro em redefinir o campo da Psicologia Social, descobrir novos recursos metodológicos, propor práticas sociais e construir um referencial teórico inscrito em princípios epistemológicos diferentes dos até então vigentes”.[82]A Abrapso foi criada oficialmente em julho de 1980 durante a 32ª Reunião Anual da SBPC, no Rio de Janeiro e “constitui-se em um marco importante para a construção de uma Psicologia Social crítica, histórica e comprometida com a realidade concreta da população”.[83]

O documento de fundação da Abrapso afirmava: “Os próprios profissionais de Psicologia, especialistas em outras áreas, ignoram o papel possível do psicólogo social, definindo-o como um acadêmico, interessado em pesquisas sociais. Não obstante, dadas as condições em que vive a maioria da população brasileira, sem oportunidade de acesso ao atendimento psicológico oferecido à pequena elite, cabe justamente ao psicólogo social a implantação de uma assistência psicológica em larga escala, através da aplicação de seus conhecimentos junto a grupos e organizações populares”.[84]Avaliando que a Psicologia Social encontrava-se limitada ao ambiente acadêmico, o documento defende uma atuação mais ampla, ressaltando a importância da formação teórica e da pesquisa rigorosa, assim como o imprescindível contato com outros cientistas sociais, tradicionalmente comprometidos com o estudo dessa realidade

A Psicologia Crítica na América Latina

Silvia Lane sempre defendeu a integração da Psicologia Social brasileira com a América Latina. Assim, Silvia Lane e Maria do Carmo Guedes decidiram realizar, no início dos anos 1980, uma viagem pela América Latina para conhecer melhor o que estava sendo realizado em diversos países. A escolha atendia tanto ao interesse das psicólogas como às possibilidades de financiamento do CNPq, que exigia convites oficiais das universidades. Maria do Carmo ressalta a importância da pesquisa rigorosa e da intervenção crítica para Lane. Convidadas por universidades locais, as duas professoras passaram dois meses no início de 1982 viajando e conhecendo as experiências que estavam sendo realizadas na Venezuela, na Colômbia, no México, no Equador e no Peru. Intencionalmente evitaram países que viviam, como o Brasil, sob ditadura militar, como era o caso do Chile e da Argentina e, embora não estivesse previsto no projeto, foram também a Cuba.

Relembrando a viagem, Maria do Carmo Guedes conta que naquele momento havia uma inquietação do grupo de professores, especialmente de Sílvia Lane, de procurar novas estratégias metodológicas e conhecer novas experiências: “Fizemos um grande levantamento e lemos muito sobre as diversas posições relativas a saídas para a chamada ‘crise da Psicologia Social’; conhecemos as então chamadas ‘alternativas’ metodológicas ou de procedimento propostas nas Ciências Sociais principalmente a observação participante, a pesquisa participativa e a história oral como método. Tudo isso se devia à compreensão de que era importante não deixar prevalecer a motivação política sobre a investigação, por exemplo, sobre a coleta sistemática de dados empíricos; ou sobre o uso de dados apenas para ilustrar teses já aceitas”.[85]

Maria do Carmo avalia que a experiência teve forte impacto: “Foi um momento importante para avaliarmos a experiência e organizarmos o material trazido. Mas a principal preocupação nesse momento era pensar a programação de nossas disciplinas, as atividades do Laboratório de Psicologia Social, nosso trabalho como orientadoras – de modo a melhor repartir com os estudantes o que pudemos aprender com a viagem. Referências bibliográficas em teses e dissertações que se seguiram podem talvez dizer de um possível aproveitamento do material.[86]

Atividades associativas e papel social

Nos anos seguintes, Silvia Lane, presidente da Abrapso, e Aroldo Rodrigues, da Alapso, protagonizariam um confronto e mantiveram controvérsias sobre temas tais como o modelo de homem e de sociedade, a neutralidade do pesquisador em Psicologia Social e o status de ciência deste campo.

O mesmo conflito aparecia em outras instâncias, como as agências de fomento e financiamento de pós-graduação. Sylvia Leser de Mello recorda que durante muitos anos havia forte oposição na Capes, na qual a Psicologia Social era mal avaliada por que não atendia aos cânones estabelecidos do que deveria ser uma psicologia científica. “Já tínhamos um grande número de mestres e doutores e nenhum curso de pós-graduação reconhecido pela Capes”, recorda.

É importante ressaltar que a criação da Abrapso está inserida em um movimento maior da sociedade e do campo profissional. A Psicologia como um todo passou por  uma transformação na virada dos anos 1970 para os 1980, no contexto da redemocratização do país. A própria atuação dos órgãos representativos e das associações de psicólogos reflete esta mudança, conforme avalia Mitsuko Antunes: “A defesa da Psicologia como ciência e profissão foi gradativamente ganhando contornos que superavam o corporativismo, buscando uma ampla participação da categoria na discussão dos problemas que a envolviam, mas que não poderiam ser limitados à mera defesa de interesses intrínseco a ela. Sua compreensão implicava uma articulação com a realidade social como um todo e, fundamentalmente, com o estabelecimento de um compromisso radical com ela.(...) Nesse aspecto, há que se considerar as mudanças ocorridas nas orientações dos Conselhos Regionais de Psicologia – CRP, Conselho Federal de Psicologia – CFP, Sindicatos de Psicólogos e, mais tarde, já produto dessas mudanças, a criação da Federação Nacional dos Psicólogos – Fenapsi”.[87] E acrescenta: “Impunha-se a necessidade de construção e reconstrução de uma Psicologia enraizada e comprometida com sua realidade. Para isso, era necessário também produzir novos conhecimentos e novas formas de intervenção, difundi-los e torná-los parte da formação do psicólogo”.[88]

Muitos dos psicólogos que assumiram o protagonismo neste processo, inclusive com cargos representativos da categoria, eram ligados à Psicologia Social. Como ressalta Bonfim: “Inúmeras outras experiências, realizadas por todo o país na década de 1970, incluindo os trabalhos dos psicólogos sociais em comunidades, nos postos de saúde pública, nas militâncias sociais (grupos feministas, raciais, sindicatos, etc.) e políticas (partidos, associações, movimentos sociais, etc.) foram responsáveis pela emergência de novas práticas na área. Tais práticas criaram, aos poucos, novos referenciais metodológicos (...) e novos campos de atuação”.[89]

Psicologia Social: o Homem em Movimento

Em 1981, Silvia Lane publicou o livro O que é Psicologia Social pela Coleção Primeiros Passos da editora Brasiliense. Depois de introduzir os temas gerais da Psicologia Social – a coleção era uma introdução para jovens –, Silvia apresenta sua trajetória e concepções em “Psicologia Social no Brasil” e “Indicações para leitura”. O livro se tornou um sucesso editorial e uma referência em sua área, chegando à 15ª edição no final da década de 1980.

Mas o livro mais significativo do período foi publicado em 1984, como resultado do desenvolvimento da Psicologia Social Crítica e como síntese do pensamento deste grupo: Psicologia Social: o Homem em Movimento. Com textos de Silvia Lane e reunindo vários alunos e colaboradores, Psicologia Social: o Homem em Movimento se tornou, desde então, um marco referencial na Psicologia Social brasileira.[90] Nesta obra, Lane explicita que “Toda Psicologia é Social. Esta afirmação não significa reduzir as áreas específicas da Psicologia à Psicologia Social, mas sim cada uma assumir dentro de sua especificidade a natureza histórico-social do ser humano. Desde o desenvolvimento infantil até as patologias e as técnicas de intervenção, características do psicólogo, devem ser analisadas criticamente à luz dessa concepção do ser humano – é a clareza de que não se pode conhecer qualquer comportamento humano, isolando-o ou fragmentando-o, como se existisse em si e por si”.[91]

E acrescenta: “Também com essa afirmativa não negamos a especificidade da Psicologia Social – ela continua tendo por objetivo conhecer o indivíduo no conjunto de suas relações sociais, tanto naquilo que lhe é específico como naquilo em que ele é manifestação grupal e social. Porém, agora a Psicologia Social poderá responder à questão de como o homem é sujeito da história e transformador de sua própria vida e da sua sociedade, assim como qualquer outra área da Psicologia”.[92]

Anos depois, em 1995, Silvia Lane afirmaria: “Costuma-se dizer que toda Psicologia é Psicologia Social. (...) Toda a Psicologia que estuda o ser humano é, por natureza, histórica: o essencial do homem é social. Muitas vezes, inclusive na Abrapso, tem sido levantada essa questão: ‘então, vamos acabar com essa subdivisão da Psicologia ‘Social’? Eu digo não. Ela tem uma função histórica que é a de estimular a reflexão crítica da prática do psicólogo, seja onde for: seja psicólogo do desenvolvimento, no trabalho com crianças, seja o psicólogo clínico que trabalha em consultório, seja o psicólogo do trabalho dentro da empresa...” E completa: “Acho que é função da Psicologia Social (e não abro mão do ‘social’, por enquanto, por isso) estimular a reflexão crítica das práticas da Psicologia e das teorias psicológicas e suas consequências”.[93]

A publicação de Psicologia Social: o Homem em Movimento – conjuntamente com O que é Psicologia Social, de Lane, e A estória de Severino e a história da Severina, de A. C. Ciampa – tiveram expressivo impacto na bibliografia utilizada nas faculdades de Psicologia nas disciplinas de Psicologia Social. Comparando a bibliografia utilizada nos cursos em dois momentos, 1983 e 1993, Sergio Ozella, encontrou uma inversão nas obras e autores mais utilizados: em 1983 o livro Psicologia Social, de A. Rodrigues, era o título mais citado e O que é Psicologia Social de Lane apenas o quinto; já em 1993, embora Rodrigues fosse o segundo mais citado (36 programas), os livros de Lane e Ciampa somavam 109 referências.[94] O que indica, ao mesmo tempo, um crescimento da bibliografia de autores brasileiros e a maior inserção da Psicologia Social crítica na formação dos novos psicólogos.   

Conforme Carvalho e Souza: “Os anos que se seguem à publicação de Psicologia social: o homem em movimento foram marcados pela revisão de certos pressupostos e categorias fundamentais do materialismo histórico-dialético, bem como por uma substantiva mudança naquilo que se concebia como ‘transformação social’. Tal mudança encontra sua síntese na publicação de Novas Veredas da Psicologia Social’, livro organizado por Silvia Lane e Bader Sawaia e publicado em 1994”.[95]

Outras publicações tiveram influência significativa na circulação das pesquisas desenvolvidas. A Abrapso teve papel importante na organização de encontros e na publicação de artigos, inicialmente no seu boletim e, a partir de 1986, na revista Psicologia & Sociedade. Em sua primeira fase, Psicologia & Sociedade se apresenta como uma espécie de anais, em geral com trabalhos completos de encontros regionais e nacionais – especialmente da própria Abrapso, mas também de outras entidades como SBPC e SBP – o que permitiu a divulgação das discussões destes eventos. Após um intervalo em que não foi publicada, a revista foi retomada em 1996, “quando assume o formato tradicional dos periódicos científicos, ou seja, os trabalhos publicados agora são artigos submetidos ao processo editorial de avaliação cega por pares”.[96]

Ainda nos anos 1980 outras publicações marcam a área da Psicologia Social, como Trabalho e Sobrevivência: Mulheres do Campo e da Periferia, de Sylvia Leser de Mello. Ao comentar o trabalho de Sylvia, Maria Helena Patto enfatiza a sua visão crítica e conscientemente política: “Trabalho e Sobrevivência, obra-prima publicada em 1988, é exemplo disso: não fosse a transformação nela contida dos tradicionais ‘objetos da pesquisa’ em sujeitos na produção de saber, seria impossível conhecer a substância da vida de mulheres do campo e da periferia de São Paulo, conhecimento esse inacessível a um discurso sobre elas e só possível a ouvidos atentos ao discurso delas.(...) O artigo Classes populares, família e preconceito (1992) é outro exemplo de linguagem direta, solidez teórica e claro compromisso político com os oprimidos, agora a serviço da desconstrução do mito da família dos pobres como ‘família desorganizada’, de trágicas consequências para a vida de seus membros”.[97]

Psicologia Social e o Social na Psicologia

As transformações ocorridas no interior da Psicologia Social repercutiram no campo da Psicologia como um todo, influenciando as outras áreas de trabalho e de conhecimento. Dentro dos cursos de graduação, a Psicologia Social vem se tornando referência para a construção de novos referenciais na Psicologia, elaborando a relação entre a subjetividade e o social. Como ressalta José Moura Gonsalves Filho: “A Psicologia Social ajudar a perceber o caráter fronteiriço dos fenômenos, que não se definirem inteiramente do lado dos indivíduos ou do lado da sociedade, mas numa área intermediária, que é o mesmo tempo feita de determinações sociais e da ação dos indivíduos. Então, não podemos achar que o fenômeno foi resultado mecânico de processos sociais nem tão pouco pura manifestação da liberdade criadora dos indivíduos.”[98]

Bomfim chama a atenção para as transformações geradas também nas áreas de atuação do psicólogo: “Se, por um lado, as práticas políticas dos movimentos sociais geraram transformações nas instituições brasileiras, exigindo a consolidação de práticas psicossociais junto a populações que não tinham até então acesso a este tipo de serviço e demandando novas formas de trabalho, por outro lado, a própria atuação dos psicólogos sociais contribuiu na busca de transformação das instituições”.[99]

Atualmente, a Psicologia Social tem como marca a diversidade teórica e um variado leque de possibilidades profissionais e interfaces de atuação. Conforme Susana Molón, a Psicologia Social a partir de 1990 se caracteriza “fundamentalmente pela diversidade de temas e pela pluralidade e diferenciação de enfoques teórico-metodológicos. Dentro disso, ocorre a proliferação de encontros nacionais e regionais, a intensificação das publicações, as quais oportunizam o surgimento de novas veredas e novos horizontes, e, simultaneamente, constituem novos modos e espaços de atuação e pesquisas em Psicologia Social norteados por pressupostos epistemológicos, ontológicos e metodológicos semelhantes, orientados pela preocupação ética, ou seja, comprometidos social e politicamente com a transformação da sociedade e com uma vida mais digna para a maioria da população brasileira”.[100]

Ao ressaltar a ampliação das áreas de atuação do psicólogo social, Elizabeth de Melo Bomfim avalia: “Uma visão do sujeito histórico que estabelece relações políticas e ideológicas atravessa todo o trabalho do psicólogo social. Tentando entrar ainda mais no campo de ação do psicólogo social, é possível delinear alguns dos principais trabalhos através das atividades de ensino, pesquisa e extensão universitária; das práticas com grupos, organizações, instituições e comunidade [como trabalhos com mulheres, pessoas marginalizadas economicamente, terceira idade etc.]; dos trabalhos junto à saúde pública; das assessorias e consultorias aos movimentos sociais e/ou partidários, que governamentais, quer não-governamentais; e das análises e atuações em questões ambientais e de desenvolvimento cultural”.[101]

Conforme R. N. Cruz e C. J. Van Stralen: “No contexto brasileiro, o surgimento da Associação Brasileira de Psicologia Social (Abrapso), em 1980, como organização contrária a essa forma de produção científica, é um dos principais marcos da história recente da Psicologia Social brasileira. Desde então, o número crescente de disciplinas, cursos de pós-graduação e publicações nacionais caracterizam o desenvolvimento de uma nova perspectiva em Psicologia Social no Brasil. Também como uma das consequências dessa mudança, a Psicologia Social no Brasil passa a desenvolver, nessas últimas três décadas, uma pluralidade de concepções metodológicas, epistemológicas, políticas e éticas que influenciam diretamente a formação, atuação e produção científica do psicólogo social”.[102]


[1] Monica Musatti Cytrynowicz é psicóloga pelo Instituto de Psicologia da USP, com Formação em Psicanálise pelo Sedes Sapientiae. É diretora de pesquisa histórica da Narrativa Um - Projetos e Pesquisas de História e  autora, entre outros, de Criança-Enface: uma trajetória de Psiquiatria Infantil e História do Departamento de Psicanálise, e coordenadora dos seguintes vídeos da série História e Memória da Psicologia do CRP-SP: “Betti Katzenstein: uma psicóloga do século XX”; “Uma Questão de Saúde: trajetória da Psicologia Hospitalar em São Paulo”; “Entre o Direito e a Lei: uma História da Psicologia Jurídica em São Paulo” e “Percursos da Psicologia Clínica em São Paulo”.

[1] Bomfim, Elizabeth de Melo. Raul Carlos Briquet, (série Pioneiros da Psicologia Brasileira), Rio de Janeiro/Brasília, Imago/Conselho Federal de Psicologia, 2002, pp.39-41.

[2]Briquet, Raul. Psicologia Social, São Paulo, Livraria Francisco Alves, 1935, p.2.

[3] Idem., p.205.

[4]Bomfim, Elizabeth de Melo. “Históricos cursos de Psicologia Social no Brasil”, Psicologia & Sociedade, v.16 n.2 Porto Alegre maio/ago. 2004.

[5] Ramos, Artur. Introdução à Psicologia Social, Rio de Janeiro, Casa do Estudante do Brasil (3ª. Edição), 1952.

[6] Almeida, Antônio Ribeiro. “Tendências da Psicologia Social no Brasil”, Síntese, n.47, set./dez., 1989, p.56.

[7]Mello, Sylvia Leser. Psicologia e profissão em São Paulo, São Paulo, Ática, 1975, p.37.

[8]Rudolfer, Noemy S. “A Psicologia Social Contemporânea (até 1934)", Sociologia, vol.3, n.2, maio, 1941, p.102.

[9]Cabral, Annita C. M. “A Psicologia no Brasil”. Boletim-Psicologia, n.3. FFCL-USP, 1950, pp.11-51.

[10]Azevedo, Mônica Leopardi B. “Herança de Aniela Meyer-Ginsberg: promovendo a Psicologia no Brasil”, CRP-SP, 2003.

[11]Cytrynowicz, Monica M. E Cytrynowicz, Roney, “Betti Katzenstein, uma psicóloga do século XX”, História e Memória da Psicologia em SP, CRP-SP, 2003.

[12]Katzenstein, Betti e Freitas, Beatriz “Algo de que crianças gostam de ler”, Revista do Arquivo Municipal, vol.77, jun/jul 1941, pp. 5-95 e Katzenstein, Betti e Freitas, Beatriz, “O cinema e o mundo infantil”, Boletim Bibliográfico, Biblioteca Pública Municipal de São Paulo, vol. 12, 1949, pp.13-53.

[13]Rudolfer, Noemy S. op. cit., p.102.

[14] Anuário da ESPSP, 1940.

[15] Prospecto Geral da ESPSP, 1950.

[16] Bomfim, Elizabeth de Melo. “Históricos cursos de Psicologia Social no Brasil”, Psicologia & Sociedade, v.16 n.2 Porto Alegre maio/ago. 2004.

[17] A revista Sociologia trazia em seus números iniciais (1939 e 1940) vários artigos gerais sobre o tema, e defendia que a Psicologia Social podia tanto ser considerada como parte da Sociologia como da Psicologia.

[18]SANTOS, Alessandro O.; SCHUCMAN, Lia V.; MARTINS, Hildeberto V. “Breve histórico do pensamento psicológico brasileiro sobre relações étnico-raciais”. Psicologia: Ciência e Profissão,  Brasília,  v. 32,  n. esp.,   2012

[19] Almeida, Antônio Ribeiro. op. cit., p.56.

[20]Baptista, Marisa T. D. “A constituição da identidade de alguns profissionais que atuaram com psicólogos antes de 1962 em São Paulo”, História da Psicologia no Brasil: Novos Estudos. São Paulo, Cortez/Educ, 2004, pp.183-184.

[21] Almeida, Antônio Ribeiro. op. cit., p.57.

[22]Klineberg, Otto. “Introdução à Psicologia Social”, Boletim FFCL – Psicologia, n.1, USP, 1946, p.11.

[23] Idem, p.10.

[24]Idem, pp.81-86.

[25]Idem, p.89.

[26]Klineberg, Otto. “Psicologia e Caráter Nacional”, Boletim de Psicologia, n.1, ano 1, SPSP, 1949, p.8.

[27] Lane, Silvia T. M. O que é Psicologia Social (Coleção Primeiros Passos), São Paulo, (13ª.ed.), 1987, p.80.

[28] Maio, Marco Chor. “Educação sanitária, estudos de atitudes raciais e psicanálise na trajetória de Virgínia Leone Bicudo”, cadernos pagu (35), julho-dezembro de 2010:309-355.

[29]SANTOS, Alessandro O.; SCHUCMAN, Lia V.; MARTINS, Hildeberto V. op. cit.

[30]Ginsberg, Aniela “Pesquisa sobre as atitudes de um grupo de escolares em São Paulo em relação com as crianças de cor” e Bicudo, Virgínia L. “Atitudes dos alunos dos grupos escolares em relação com a cor dos seus colegas” in Bastide, R. e Fernandes, F. Relações Raciais entre Negros e Brancos em São Paulo, São Paulo: Unesco/Anhembi, 1955.

[31]Azevedo, Mônica Leopardi Bosco. “Herança de Aniela Meyer-Ginsberg: promovendo a Psicologia no Brasil”, CRP-SP, 2003. Disponível em http://www.crpsp.org.br/memoria/aniela/artigo.aspx

[32] CABRAL, Annita C. M. op. cit.,, p.46.

[33] Furtado, Odair. Dimensões Subjetivas da Realidade: Um estudo da subjetividade social no Brasil. Doutorado, PUC-SP, 1998, p.151.

[34] Leite, Dante Moreira. “Memorial para concurso de Professor Titular”, IPUSP, M25, 1973, p.3. 

[35] Paiva, Geraldo P. “Dante Moreira Leite: um Pioneiro da Psicologia Social no Brasil”, Psicologia USP, vol.11, n.2, 2000, p.26.

[36] Bosi, Ecléa. “Dante Moreira Leite: Mestre da Psicologia Social”, Psicologia USP, vol.11, n.2, 2000, p.22.

[37] Idem, p.23.

[38] Leite, Dante M. O Caráter Nacional Brasileiro: História de uma Ideologia, 2ª ed., São Paulo, Pioneira, 1968, p.328.

[39] Idem, p.329.

[40] Furtado, Odair. op. cit., p.154.

[41]Schmidt, Maria Luisa S. e Neves, Tatiana F.S. Dante Moreira Leite (série Pioneiros da Psicologia Brasileira),Rio de Janeiro/Brasília, Imago/Conselho Federal de Psicologia, 2002, p.38.

[42] Leite, Dante Moreira. “Memorial para concurso de Professor Titular”, IPUSP, M25, 1973, p.9.

[43] Site do Centro de Memória do Instituto de Psicologia da USP, consultado em fev. 2013.

[44]Schmidt, Maria Luisa S. e Neves, Tatiana F.S. op. cit..

[45]Baptista, Marisa T. D. “Constituição da identidade de alguns profissionais que atuaram como psicólogos antes de 1962 em S. Paulo” in Massimi, M e Guedes, M. C. (org.). Historia da Psicologia no Brasil: Novos Estudos, São Paulo, Educ/Cortez, 2004, p.188.

[46] “Apresentação do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho” escrito por Zélia Ramozzi-Chiarottino, site do Instituto de Psicologia da USP, consultado em fev. 2013.

[47] “Maria do Carmo Guedes – Homenagem”, Psicologia: Ciência e Profissão, v.29, n.2, 2009.

[48]Mello, Sylvia Leser. op. cit., pp.41-42.

[49]Idem, p.77.

[50]Idem, pp.71-72.

[51]Idem, p.71.

[52] Relatório Anual de Atividades do IPUSP, 1970.

[53] Relatório Anual de Atividades do IPUSP, 1971 e 1972.

[54] Furtado, Odair. op. cit., p.155.

[55] Bosi, Ecléa. Cultura de Massa e Cultura Popular: Leituras Operárias, Petrópolis: Vozes, 1981 (5ª.ed. Ampliada), p.179.

[56]Furtado, Odair. op. cit., p.155.

[57] Schmidt, Maria Luisa S. e Neves, Tatiana F.S. op. cit., pp.72-74.

[58] Schmidt, Maria Luisa S. e Neves, Tatiana F.S. op. cit., p.71.

[59]Sawaia, Bader. Sílvia Lane (série Pioneiros da Psicologia Brasileira),Rio de Janeiro/Brasília, Imago/Conselho Federal de Psicologia, 2002, pp. 27-30.

[60]Molón, Susana I. “A Psicologia Social Abrapsiana: Apontamentos históricos”, Interações, vol.6, n.12, pp.41-68, jul./dez., 2001. 

[61] Depoimento de Bader Sawaia para este trabalho.

[62]Sawaia, Bader. op. cit..

[63]Coelho, Maria Helena de Mendonça. Sílvia por ela mesma. Psicologia e Sociedade,  Porto Alegre,  v. 19,  n. esp.2, 2007, p.11.

[64]Guedes, Maria do Carmo. “Memórias da Pós-graduação em Psicologia no Brasil: a Psicologia Social da PUCSP”, Memorandum, n.14, abril/2008.

[65]Sawaia, Bader. op. cit., pp.16-17.

[66] Entre outros: Lima, Renato S. “História da Psicologia Social no Rio de Janeiro”, Fractal: Revista de Psicologia, v. 21 – n. 2, p. 409-424, Maio/Ago. 2009, Bernardes, Jefferson de Souza. “Pressupostos – História” In Jacques, Graça Correa et alliPsicologia Social Contemporânea, Petrópolis, Vozes, (8ª.ed.), 1998, p.30.

[67] Furtado, Odair op. cit., p.167.

[68]Guedes, Maria do Carmo. “Memórias da Pós-graduação em Psicologia no Brasil: a Psicologia Social da PUCSP”, Memorandum, n.14, abril/2008, p.108.

[69] Carvalho, Bruno P. e Souza, Terezinha M. S. “A ‘Escola de São Paulo’ de Psicologia Social: Apontamentos Históricos”, Psicologia em Estudo, Maringá, v. 15, n. 4,out./dez. 2010, p.714.

[70]Sawaia, Bader. op. cit., p. 13.

[71]Sawaia, Bader. op. cit., pp.16-17.

[72] Furtado, Odair. op. cit., p.181.

[73]Andery, Alberto Abib. “Liderança política e intelectual”. Psicologia e Sociedade,  Porto Alegre,  v. 19,  n. esp.2, 39-45, 2007, p 28.

[74]Andery, Alberto Abib “Trabalhos em Comunidade: seu significado para produção de novos conhecimentos científicos”. Psicologia, Ciência e Profissão, vol.4, n.1, 1984, p.31.

[75]Bernardes, Jefferson de Souza. “Pressupostos – História” In Jacques, Graça Correa.  Psicologia Social Contemporânea, Petrópolis, Vozes, (8ª.ed.), 1998, p.31.

[76]Lane, Silvia T. M. “Psicologia Social e uma nova concepção do homem para a Psicologia” In Lane, Silvia T.M. e Codo, Wanderley (orgs). Psicologia Social: O homem em movimento, São Paulo, Brasiliense, 1984, p.11.

[77]Rodrigues, A., Assmar, E. e Jablonski, B.  Psicologia Social (29ª edição), Petrópolis, Vozes, 2012.

[78] Rodrigues, Aroldo. Aplicações da Psicologia Social, Petrópolis, Vozes, 1983, p.48.

[79] Idem, p.20.

[80] Lane, Silvia T. M. O que é Psicologia Social (Coleção Primeiros Passos), São Paulo, (13ª.ed.), 1987, pp.78-79.

[81]Molón, Susana I. op. cit.,, p.51.

[82] Jacques, Graça Correa.  Psicologia Social Contemporânea, Petrópolis, Vozes, (8ª.ed.), 1998, p.14.

[83] Freitas, Mª de Fátima Q. “Contribuições da Psicologia Social e Psicologia Política ao desenvolvimento da Psicologia Social Comunitária”. Psicologia & Sociedade, 1(8), jan./jun., 1996, p.68.

[84] Anais do I Encontro Nacional de Psicologia Social apud Lane, Silvia T. M. O que é Psicologia Social (Coleção Primeiros Passos), São Paulo, (13ª.ed.), 1987.

[85]Guedes, Maria do Carmo. “A viagem histórica pela América Latina”. Psicologia e Sociedade,  Porto Alegre,  v. 19,  n. esp.2, 2007, p.40.

[86]Idem, p.44.

[87]Antunes, Mitsuko A. M. “A Psicologia no Brasil no século XX”, História da Psicologia no Brasil: Novos Estudos. São Paulo, Cortez/Educ, 2004, p.145.

[88]Idem, p.146.

[89]Bomfim, Elizabeth de Melo. “Psicologia Social, Psicologia do Esporte e Psicologia Jurídica”, Psicólogo Brasileiro: práticas emergentes e desafios para a formação, São Paulo: Casa do Psicólogo, 1994, p.253.

[90]Jacques, Graça Correa.  op. cit., p.15.

[91]Lane, Silvia. “A Psicologia Social e uma nova concepção de homem para a Psicologia” In Lane, Silvia e Codo, Wanderley (orgs.) Psicologia Social: o homem em movimento. São Paulo, Brasiliense, 1984, p.19.

[92]Idem, p.19.

[93] Lane, Sílvia T. M. “Parar para pensar... e depois fazer – Entrevista com Silvia T. M Lane”. Psicologia & Sociedade, 1(8): 3-15, jan./jun.1996.

[94]Ozella, Sergio. “Os cursos de Psicologia e os programas de Psicologia Social: alguns dados do Brasil e da América Latina”, Psicologia & Sociedade, v.8, n.1, jan.-jun., 1996, p.136.

[95]Carvalho, Bruno P. e Souza, Terezinha M. S. op. cit., p.720.

[96]Cruz, R. N. e van Stralen, C. J. “A produção do conhecimento na psicologia social brasileira: um estudo descritivo a partir da revista Psicologia & Sociedade – 1986-1992”, Psicologia & Sociedade; 24 (1), 2012, p.229.

[97]Patto, Maria Helena Souza. “O sentido de uma obra: sobre Sylvia Leser de Mello”. Psicologia USP, Set 2006, vol.17, no.3, p.11-17.

[98] Depoimento de José Moura Gonçalves Filho para este trabalho.

[99]Bomfim, Elizabeth de Melo. “Psicologia Social, Psicologia do Esporte e Psicologia Jurídica”, Psicólogo Brasileiro: práticas emergentes e desafios para a formação, São Paulo: Casa do Psicólogo, 1994, p.253.

[100]Molón, Susana I. op. cit., p.61.

[101]Bomfim, Elizabeth de Melo. “Psicologia Social, Psicologia do Esporte e Psicologia Jurídica”, Psicólogo Brasileiro: práticas emergentes e desafios para a formação, São Paulo: Casa do Psicólogo, 1994, p.258.

[102] Cruz, R. N. e van Stralen, C. J. op. cit., p.228.