Cronologia
Cronologia da Vida Profissional da Psicóloga Betti
Katzenstein (Schoenfeldt)
1906 - Em 27 de agosto, Betti Katzenstein nasce na cidade
de Hamburgo, Alemanha.
1926 - Ingressa no curso de Filosofia na Universidade
de Hamburgo. As cátedras, que tinham como linha de pesquisa e ensino a Psicologia,
estavam integradas a outras áreas, como Filosofia e Psicologia, Filosofia e
Pedagogia, Pedagogia e Psicologia Experimental ou Filosofia, caso da Universidade
de Hamburgo.
1927 - Betti começa a estudar sob a orientação de William
Stern, chefe da Cadeira de Filosofia, que reunia os cursos e pesquisas em Psicologia
no Instituto de Hamburgo.
1929 - Conclui o curso de Filosofia na Universidade de
Hamburgo, cujo currículo era direcionado para o campo da Psicologia. Entre as
disciplinas que ela cursou, pode-se citar Psicologia Infantil, Psicologia Experimental,
Psicologia dos Povos e Seleção Profissional. Como a maioria dos alunos que se
formavam nos cursos de Psicologia naquela época, Betti seguiu para o doutorado,
uma vez que a graduação não possibilitava exercer uma atividade profissional
fora da universidade.
1931 - Betti Katzenstein recebe o título de doutora em
Filosofia pela Univ. de Hamburgo com a tese A apreensão do caráter do trabalho
do ponto de vista da psicologia da aptidão - problemática e metodologia. De
forma geral, eram considerados como psicólogos os profissionais com cinco anos
de atuação na área ou aqueles que possuíssem um doutorado. A utilização de psicólogos
na Primeira Guerra Mundial na seleção de militares, na indústria e nas escolas
modificou a inserção acadêmica da Psicologia, com o estabelecimento de ensino
de Psicologia e Psicotécnica também em colégios técnicos. Após a guerra, com
a Alemanha em depressão e com a necessidade de recolocação profissional dos
soldados na vida civil, as áreas de aplicação direta da Psicologia e da Psicotécnica
ganharam um grande impulso. O Estado e a indústria procuravam otimizar as escolhas
e foram contratados nessa época os primeiros psicólogos. Betti interessou-se
também pela questão da Educação, da Psicologia da comunicação e pela aplicação
da Psicologia ao Direito.
1931 - Em co-autoria com William Stern, um dos dois mais
importantes psicólogos com atuação na área forense, publica o artigo "Credibilidade
diferente de irmãs gêmeas de 7 anos de idade em um processo de delito sexual".
1931/1933 - Publicou uma série de três artigos, no campo
da Pedagogia, intitulados "Psicologia da criança no filme", na Zeitschrift für
Pädagogische Psychologie, comentando os filmes de Kurt Lewin e Gessell e Vollelt.
No campo de seleção profissional, publicou os seguintes artigos: "O reconhecimento
do caráter através do trabalho pela seleção psicológica profissional", na Revista
de Psicologia Aplicada e "Seleção Profissional: Desenvolvimento profissional
e verificação da eficiência dos aprendizes de relojoaria", na Revista dos Relojoeiros.
1933 - O partido nazista toma o poder na Alemanha.
1933 - Em abril, o nazismo instituiu a "lei de restauração
do serviço profissional civil", que determinou a demissão de todos os funcionários
públicos que fossem considerados de oposição, como social-democratas e comunistas,
e os que fossem considerados de "raça inferior", conforme a eugenia nazista.
Betti Katzenstein foi demitida. William Stern foi proibido de lecionar e depois
demitido. Ele imigrou para os Estados Unidos e faleceu em 1938. Outros professores
de Psicologia do Instituto de Hamburgo foram perseguidos: Heinz Werner foi demitido
e Martha Murchow acabaria suicidando-se, em setembro de 1933. A cadeira ocupada
por Stern foi eliminada, apenas em 1941 uma nova cadeira de Psicologia foi criada
e ocupada por um professor aprovado pelos nazistas.
1933/1935 - Para sobreviver, Betti Katzenstein dá aulas
particulares em casa.
1935 - Betti é presa pela Gestapo, a polícia política
nazista, e ameaçada de ser enviada a um campo de concentração, sob a acusação
de manter relações com militantes comunistas. Após cinco semanas na prisão,
amigos e familiares conseguem salvá-la, na noite de Natal de 1935. Dois dias
depois, ela tomou a decisão de refugiar-se na Suíça, onde vivia o primo Hans
Katzenstein.
1935/1936 - Betti permanece por seis semanas na Suíça
na condição de refugiada, buscando um país que a aceitasse em definitivo. Seu
irmão mais novo, Carlos, que era classificador de algodão, vivia em São Paulo,
desde 1934, como funcionário de uma empresa de comércio de algodão. Foi ele
quem possibilitou os trâmites legais para a vinda de Betti ao Brasil.
1936 - Em fevereiro, Betti chega a São Paulo e vai morar
com o irmão no bairro de Vila Mariana.
1936 - Em maio, Betti ingressa no Laboratório de Psicologia
do Instituto de Educação da USP, a princípio como colaboradora voluntária. O
Laboratório, coordenado por Noemi Silveira Rudolfer e sediado na Escola Caetano
de Campos, na Praça da República, era um lugar central na formação e pesquisa
em Psicologia em São Paulo.
1937 - Em março, torna-se assistente do Laboratório de
Psicologia do Instituto de Educação da USP, que oferecia serviços psicológicos
à comunidade, através de convênio com a Secretaria da Educação. Nessa época,
em conjunto com Beatriz de Freitas e com Judith Hallier, pesquisou os jornais
infantis e os interesses das crianças pelos livros nas recém-inauguradas bibliotecas
infantis do Departamento de Cultura. Interessava-se pelo que as crianças gostavam
de ler e o que encontravam na literatura e pelo cinema. Além das questões psicológicas
envolvidas, havia a preocupação com subsidiar as políticas educativas e relativas
às crianças, como a defesa das bibliotecas infantis e da publicação de mais
e melhores livros para as crianças. O impacto significativo do cinema demonstrado
por estes estudos levou ao interesse pela análise de anúncio de fitas, estudo
de decretos que regulam a assistência de menores ao cinema e a observação das
crianças durante as sessões cinematográficas.
1938 - Em julho, ocorre em São Paulo o 1o Congresso Paulista
de Psicologia, Neurologia, Psiquiatria, Endocrinologia, Identificação, Medicina
Legal e Criminologia no qual dra. Betti apresenta o trabalho Alguns Aspectos
do Psiquismo Infantil. Anexo ao congresso acontece o "Seminário de Mães", promovido
pela Cruzada Pró-Infância. Neste seminário participam várias pessoas ligadas
ao Laboratório de Psicologia, inclusive sua diretora, Noemy Silveira Rudolfer.
A dra. Betti participa do seminário dedicado ao estudo das crianças de zero
a seis anos. Nessa ocasião é criada uma comissão para defender a abertura de
escolas maternais e jardins de infância, composta por Pérola Biyngton, diretora
da Cruzada Pró-Infância, e pelas psicólogas Betti Katzenstein e Charlotte Hirschfeld.
1939 - Betti participa, como professora, do curso de
puericultura da Cruzada Pró-Infância. A Cruzada, fundada em 1930, era uma instituição
de assistência à mãe e à criança, que possuía, em vários bairros da cidade,
centros com serviços de higiene pré-natal, higiene infantil, higiene pré-escolar
e exame médico geral.
1939 - Betti Katzenstein oficializa sua decisão de se
estabelecer definitivamente no Brasil, naturalizando-se brasileira.
1940 - A Cruzada estabelece um programa de cooperação
com o Laboratório de Psicologia, com o apoio de Betti e Eulália A. Siqueira
que, orientando as professoras dos jardins, organizam uma "ficha individual"
do pré-escolar. Os casos em que a criança apresentava alguma "anomalia" eram
atendidos pela psicóloga. Os casos mais difíceis eram encaminhados ao Serviço
de Higiene Mental do Departamento de Saúde Escolar do qual era diretor o médico
Durval Marcondes.
1940 - Betti transfere-se por comissionamento para a
Cruzada Pró-Infância.
1940 - Betti participa ativamente da Organização Feminina
Israelita de Assistência Social - Ofidas, fundada naquele ano, para dar assistência
a mulheres e famílias de imigrantes. Além de estudos e avaliações psicológicos
de casos infantis, ela orientava encaminhamentos, conseguia vagas para as crianças
em famílias substitutas ou em lares abrigados, realizava com as mães um trabalho
de orientação vocacional e colocação no mercado de trabalho, orientava e sugeria
atividades desenvolvidas pela creche com as crianças, entre as quais uma biblioteca
infantil. Além da defesa de um pré-primário, a dra. Betti assumiu nesta época
a defesa dos egressos do primário, que encontravam poucas opções, já que não
podia ainda trabalhar e os ginásios e as escolas comerciais eram opções para
uma minoria. Também durante a década de 1950, a dra. Betti continuou colaborando
com a Ofidas, fazendo estudos individuais de maturidade escolar para as crianças
que estavam deixando o Lar e iriam entrar na escola primária. Além deste estudo,
a dra. Betti acompanhava as crianças pelo menos nos dois primeiros anos de sua
vida escolar. Betti era também ativa, como psicóloga, na Congregação Israelita
Paulista - CIP, fundada em 1936 por refugiados judeus da Alemanha. Ofidas e
CIP mantinham, cada uma, um Lar da Criança, para crianças órfãs e filhos de
famílias refugiadas. Seu irmão, Carlos Katzenstein, foi presidente da CIP.
1941 - Reconhecimento formal da profissão de psicólogo
na Alemanha.
1941/1951 - Betti torna-se funcionária da Cruzada Pró-Infância
em 1941, onde cria "Secção de Psicologia Infantil", trabalhando como psicóloga
nesta instituição até 1951. A seção tinha uma dupla finalidade: funcionava com
uma Clínica Infantil (Child Guidance Clinic) e como Centro de Pesquisas. A partir
deste trabalho, ela publicou diversos artigos em revistas especializadas. Estes
estudos eram para a dra. Betti tão importantes como os atendimentos individuais,
pois para ela um dos objetivos do departamento era o estudo e observações das
crianças para conhecer seu pensar e agir, a fim de aumentar o conhecimento e
orientar melhor a educação.
1941 - Betti começa a trabalhar, juntamente com Aniela
Ginsberg, no Centro de Orientação Profissional do Instituto de Organização Racional
do Trabalho, o Idort, que atendia especialmente adolescentes em orientação educacional
e profissional e funcionava também como clínica psicológica.
1942 - Passa a trabalhar no Senai, fundado neste mesmo
ano, como assistente técnica da Divisão de Seleção, trabalhando com teste de
seleção e qualificação profissional.
1943 - Betti participa, da Fundação do Lar Escola São
Francisco - instituição de assistência à criança portadora de deficiências físicas
- compondo, com quatro médicos, o Conselho Consultivo, até o ano de 1954. A
entidade foi criada por iniciativa de Maria Hecilda C. Salgado, que foi a presidente
da instituição durante cinqüenta anos. Maria Hecilda foi anteriormente voluntária
da Cruzada Pró-Infância, onde conheceu a dra. Betti.
Anos 1940 - A partir dos anos 40, atuou na área médica.
Ela se preocupava muito com as crianças doentes ou hospitalizadas e com o preparo
dos profissionais que atuavam com estas crianças: médicos, enfermeiros, fisioterapeutas,
ortopticas e dentistas. Ela defendia também que, na construção de um hospital,
um psicólogo deveria ser sempre consultado pelo arquiteto para opinar sobre
questões relativas ao bem-estar psíquico dos doentes.
1944 - A ação posterior da dra. Betti na Cruzada pauta-se
por "doze exigências" para garantir o bem estar e, com isso, a saúde mental
da criança até sete anos: centros de puericultura, cursos de puericultura, mais
jardins de infância, máximo de 20 crianças por jardineira, criação de curso
para especialistas em educação pré-escolar, reuniões e cursos para mães, observação
médica, psicológica e educacional - antes e durante a estadia no jardim -, cooperação
de educadores e famílias, possibilidade de semi-internato, meios de ajuda em
situações especiais - internato quando as mães estejam doentes, colônia de férias,
etc - e a criação de um 'post-jardim'.
1944 - Por sua iniciativa, é criado um Curso Vocacional
na Ofidas para aqueles que não estavam preparados para seguir um curso comercial
ou profissionalizante. A partir deste curso, os alunos eram encaminhados para
cursos específicos, de acordo com as suas habilidades e preferências.
1945 - É uma das fundadoras da Sociedade de Psicologia
de São Paulo em 1945. Sob a coordenação de Otto Klineberg, um grupo de profissionais
desta entidade escreve, entre 1945 e 1947, o livro Psicologia Moderna, publicado
em 1953. Faziam parte deste grupo: Anita Cabral, Frank Philips, Aníbal Silveira,
Durval Marcondes, Lourenço Filho, Aniela Ginsberg, entre outros. O capítulo
sobre Psicologia da Criança foi escrito por Betti Katzenstein.
1946/1952 - Betti é contratada para dar aulas de Psicologia
na Escola de Enfermagem da Faculdade de Medicina da USP. Nos anos de 1947 e
1948, enquanto Otto Klinenberg lecionava Desenvolvimento da Criança, a dra.
Betti lecionava Desenvolvimento Psicológico da Criança para as alunas do 2o
e do último ano. Ela lecionou na faculdade até 1952.
1947/1948 - Mantém uma coluna semanal na Folha da Manhã,
chamada "Clínica Psicológica", em que responde às questões levantadas pelos
leitores, representados por uma personagem fictícia, "dona Anastácia", com quem
mantém um diálogo. Desde o início dos anos 1940, manteve colaboração em jornais
de grande circulação como Diário Popular, O Estado de S.Paulo, Folha da Manhã
e Folha da Tarde.
1949 - Torna-se integrante do Comitê Diretor da Sociedade
Internacional de Psicologia Aplicada até 1971.
1950/1953 - Betti assume a chefia da Divisão de Educação
Pré-Primária do Departamento de Educação de São Paulo, onde desenvolve trabalho
de pesquisa e de orientação de professores.
1952 - Fundação da Sociedade Pestalozzi, para atender
às crianças excepcionais; a dra. Betti atuou como colaboradora. Atuou também
na Fundação Dorina Nowill, criada como Fundação Para o Livro do Cego do Brasil.
1953/1962 - Betti leciona Psicologia na Escola Livre
de Sociologia e Política de São Paulo.
1956/1958 - Mantém uma coluna sobre psicologia na revista
feminina Lady.
1958 - Betti casa-se com Huberto Schoenfeldt.
1961 - Em abril de 1961, a Apae de São Paulo é fundada
por um grupo de pais de crianças excepcionais e profissionais que atuavam neste
campo, entre os quais a professora Olívia Pereira, o diretor do Instituto de
Psicologia da PUC, Enzo Azzi, e a Dra Betti, considerada na época uma das maiores
especialistas em retardo mental.
1974 - Foi uma das primeiras a se inscrever no Conselho
Regional de Psicologia de São Paulo, criado no dia 27 de agosto de 1974. Seu
CRP é número 27.
1940/1980 - Durante mais de 40 anos, a dra. Betti atendeu
em seu consultório, que funcionou em sua residência. Ela atendia pais, crianças
e adolescentes em estudos de caso, diagnóstico e orientação. Seu estudo envolvia
a aplicação de testes e de entrevistas, pesquisa de álbuns de fotografia, diários
e material escolar e também a observação da criança nas situações reais em que
ela vivia, seja em casa, seja na escola ou em atividades livres. Os testes psicológicos
eram considerados instrumentos muito importantes para a Dra. Betti. Ela traduziu,
adaptou, estabeleceu normas para avaliação em nosso meio de testes estrangeiros
e produziu vários trabalhos discutindo resultados comparativos de testes como
Rorschach e Mosaico de Lowenfeldt. Mas foram os testes coletivos, especialmente
de maturidade escolar, que a ocuparam mais.
1960 - Elabora o teste "Becasse Atitudes Sócio-Emocionais",
partindo da experiência acumulada entre 1949 e 1959 com estudos de maturidade
escolar. É um teste projetivo, de aplicação coletiva, com a finalidade de obter
indicações quanto à maturidade e à adaptabilidade social e emocional e que permite
obter dados quanto ao nível mental das crianças. O nome Becasse deriva das iniciais
do seu nome de casada: Betti Katzenstein Schoenfeld.
1961 - Betti apresenta um novo e mais completo teste:
"Becasse: Teste Coletivo de Maturidade Escolar". Este teste incorporava não
só o Becasse Atitudes, mas também tarefas adaptadas de outros testes, como Goodenough,
ABC de Lourenço Filho, Decroly-Bruyse e Hetzer-Tem.
1964 - Publica Grafologia - História, Teoria e Aplicação
(São Paulo, Freitas Bastos, 1964), após especialização nesta área na Universidade
de Frieburg, na Alemanha.
1976 - É contratada como professora do Departamento de
Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Assis, no bojo de
uma grande reestruturação, com a sua incorporação à recém-criada Universidade
Estadual Paulista, a Unesp. Foi chefe de departamento e coordenadora da Clínica
Psicológica. Dra. Betti iniciou uma série de projetos extra-curriculares no
período em que esteve na coordenação do departamento.
1978 - Renovado por dois anos o contrato de Betti na
Unesp de Assis, ao final dos quais não foi renovado por razões burocráticas.
1978 - Publica Auto-Identificação desenho e assinatura
da criança: estudo de 120 crianças, do pré até a 2a série. Série Pesquisa (depois
republicado: São Paulo, Editora Psico-Pedagógica Vetor, 1999).
1979 - Publica com seus alunos do curso de especialização
o livro Psicologia Clínica. São Paulo, Editora Psico-Pedagógica Vetor/Depto.
de Psicologia do ILHP de Assis/Universidade Estadual Paulista, 1979.
1980 - Betti retorna a São Paulo e retoma o consultório.
1981 - Em 25 de julho, sete meses depois de retornar
a São Paulo, a dra. Betti morreu de parada cardíaca, pouco antes de completar
75 anos. Por seu desejo testamentário, para garantir o sigilo das milhares de
fichas individuais de pacientes que mantinha, o seu arquivo profissional foi
incinerado.