Manifesto do Fórum Permanente de Educação Inclusiva Em homenagem ao dia nacional em defesa da educação inclusiva
NÓS NÃO QUEREMOS MIGALHAS
Nós, que estamos envolvidos em um movimento que busca
a inclusão, temos como perspectiva atuar na direção da construção de uma sociedade
que não se contenta em aceitar as migalhas do poder, mas luta para que o produto
social seja dividido igualitariamente com todos. Dessa forma:
- Não queremos o favor do transporte público gratuito,
queremos ônibus, trens e metrôs que sejam acessíveis a todos.
- Não queremos isenção de impostos, queremos uma
distribuição de renda mais justa que permita todos participarem do mercado
de consumo.
- Não queremos cotas que nos concedam vagas em universidades,
queremos uma educação de qualidade que nos dê as mesmas chances e oportunidades
que as classes privilegiadas.
- Não queremos cotas que obriguem as empresas a nos empregar (coitadinhos
de nós...), queremos formação profissional para nos candidatar de forma
digna aos empregos.
- Não queremos filas especiais, queremos atendimento decente para todos.
- Não queremos educação especial que segregue aqueles que a sociedade prefere
fingir que não vê. Queremos uma educação que seja especialmente qualificada
para atender cada ser humano.
- Não queremos beneficência. Queremos respeito e acesso aos bens e serviços.
Manter um discurso de comiseração tem feito com que uma
grande parte da sociedade continue a rogar por migalhas e uma minoria venha
se sentindo cumpridora de seu dever cívico ao concedê-las. A ideologia subjacente
a essa relação rejeita sistematicamente a diversidade como valor humano e reforça
a perpetuação das diferenças entre cidadãos de primeira e segunda classes, ressaltando,
de forma determinista, que suas diferenças são insuperáveis e, ainda que dividam
o mesmo ônibus, a mesma mesa e a mesma cadeira, seguem caminhos diferentes e,
às vezes, opostos, pois têm papéis sociais distintos.
Nós do Fórum Permanente de Educação Inclusiva trabalhamos
na luta por uma sociedade que sempre pode aprimorar o acolhimento a todos seus
cidadãos sem a preocupação de estabelecer quantos e quais são os desviantes
e os ideais de acordo com os padrões ditos hegemônicos. Nossa meta é não deixar
ninguém fora de qualquer atividade humana, seja na escola, seja no trabalho,
ou em qualquer outro espaço de convívio social onde os diretos individuais são
materializados.
Atuamos sob a égide do respeito incondicional a todos
os seres humanos, pois esse não deveria estar atrelado à mobilidade, falta de
visão ou audição, tão pouco do tônus muscular, ou de competência cognitiva de
cada um. Respeitamos o fato de todos aprenderem e construírem conhecimento das
mais diversas maneiras - em congruência com o potencial de cada ser humano,
de suas capacidades e de suas limitações - que não podem nunca estarem catalogadas
ou padronizadas em receituários e normatizações.
O que queremos é poder daqui a algum tempo não precisar
mais usar palavras como inclusão e exclusão quando nos referirmos à pessoas
e para atingir esse objetivo lutamos por uma utopia social onde todos sejam
protagonistas.