Apresentação
Desde a instituição do GT Psicologia e Povos Indígenas (PSIND), ocorrida em 2008, o Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (CRPSP) atua junto a segmentos populacionais de racionalidades distintas das que fundamentam a ciência psicológica. Ao longo de três gestões (2008-2013) o CRPSP promoveu eventos, produziu vídeos e realizou publicações que, além de refletirem o acúmulo de conhecimentos adquiridos, criaram referências e subsídios, sobretudo, para a reflexão sobre direitos humanos, foco central do projeto ético-político da categoria. Tais ações culminaram na fundação do Núcleo de Produção do Conhecimento Psicologia e Povos Indígenas (NPC 17) na União Latino-americana das Entidades da Psicologia (ULAPSI), ocorrida no início de 2012. Com a criação desse Núcleo foi dado um importante passo rumo à constituição de uma Psicologia desvinculada dos grilhões colonialistas de uma ciência excessivamente centrada nas perspectivas euro-estadunidenses.
Tais ações do CRPSP fizeram-se acompanhar de outras, que tiveram por finalidade lidar com questões epistemológicas relativas a fenômenos próprios das fronteiras do saber psicológico com saberes tradicionais. No ano de 2011 o CRPSP promoveu a realização do Seminário Práticas Integrativas e Complementares e Racionalidades Profissionais que, por meio do Conselho Federal de Psicologia, alinhou-se aos propósitos do Congresso Nacional da Psicologia (VII CNP). Nesse lugar - fronteiras entre saberes - há oportunidades e ameaças.
As oportunidades acham-se latentes no potencial, tantas vezes demonstrado pela Psicologia, de dialogar com outras racionalidades, entre as quais a Medicina Tradicional Chinesa - Acupuntura, por exemplo. Haja vista que aos profissionais da Psicologia foi facultado, em 2002, o direito de atuarem como acupunturistas, ou seja, de utilizarem esse recurso complementar em sua prática profissional.
Quanto às ameaças, identificáveis principalmente no campo profissional, é possível classificá-las, grosso modo, em duas categorias - externas e internas. As ameaças "externas" advêm da disputa de mercado promovida principalmente pela Medicina que, por meio do
"Ato Médico" procura restringir a atuação de psicólogos (e outros profissionais da Saúde) ao privá-los do direito de uso da acupuntura. As ameaças "internas" acham-se presentes no próprio coletivo de psicólogas(os) que, despreocupados ou despreparados para reconhecer as fronteiras entre, de um lado, conhecimentos que constituem a ciência psicológica e, de outro lado, conhecimentos acumulados por tradições culturais e religiosas, ultrapassam tais fronteiras, realizando um inconsequente vai-e-vem entre a Psicologia e a Religião.
Esse trânsito inaceitável se dá por meio da cooptação de profissionais cujas práticas associam dogmas religiosos a conhecimentos psicológicos, de forma acrítica e em franca violação do Código de Ética Profissional. Por adotarem discursos fundamentalistas ou, simplesmente, por uma formação profissional deficitária, esses psicólogos transgridem regras da ética profissional, por vezes sem dar-se conta disso.
Incluindo entre seus objetivos o de contribuir para sanar tais irregularidades, organizações profissionais da Psicologia, capitaneadas pelo CRP SP, constituíram um Coletivo de Organizações e Movimentos no início de 2013. Desde então esse Coletivo vem realizando reuniões regulares para discutir questões próprias das fronteiras do saber psicológico com saberes tradicionais. Dos eventos resultantes dessas reuniões merece destaque o Seminário Diversidade Epistemológica da Psicologia em Diálogo com Saberes Tradicionais e Políticas Públicas de Atenção à Saúde, realizado ainda em 2013, como ação preparatória para o Congresso Regional da Psicologia (VIII COREP).
As organizações integrantes do referido Coletivo elegeram delegados que as representassem no VIII COREP e no VIII CNP e estes, em parceria com representantes de outros Conselhos, pautaram a temática que veio a materializar-se nas diretrizes constantes do Caderno de Deliberações do VIII CNP e em duas Moções, que autorizam a Psicologia brasileira a debater essa temática durante a presente gestão (2013-2016).
Contemplados pelo atual Plenário do CRPSP (XIVo), tais quesitos vieram a integrar o Planejamento Estratégico desse Conselho de Psicologia, e é no esteio das articulações aqui descritas que surge o Grupo de Trabalho Diversidade Epistemológica Não-hegemônica em Psicologia, Laicidade e Diálogo com Saberes Tradicionais (DIVERPSI), alocado no Núcleo de Métodos e Práticas Psicológicas do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo.
