Quem é o Dono da Psicoterapia?
Reflexões sobre a Complexidade, a
Psicologia e a Interdisplinaridade
Maurício S. Neubern(1)
A psicoterapia, na atualidade de nosso país, atravessa importantes dilemas.
Se, por um lado, ela se aproxima cada vez mais da realidade social, oferecendo propostas compatíveis e bem-vindas quanto a suas necessidades,
por outro, discute-se sobre quem pode ter o direito de exercer esse métier. Embora as diferentes vozes concordem sobre a complexidade do campo, algumas vozes reivindicam a abertura dele a outros profissionais, alegando razões históricas e interdisciplinares, enquanto alguns grupos de psicólogos reivindicam a exclusividade, alegando, principalmente, a pertinência e adequação de sua preparação para tanto. Sem a pretensão de trazer respostas a tais questões, este texto buscará apontar alguns caminhos para essa discussão, levantando tanto a questão da complexidade
na psicoterapia como o debate entre abertura e exclusividade.
1. Doutor em Psicologia pla Universidade de Brasília (UnB) e professor do Centro Universitário de Brasília.
Psicoterapia e Complexidade: Desafios de Uma Clínica Ampliada
A discussão epistemológica contemporânea em psicoterapia tem assistido a oposição de considerável importância, que não pode passar
despercebida ao clínico. Se, por um lado, estamos numa época em que o fundamentalismo teórico procura resguardar ferozmente seus espaços sob distintas ideologias, por outro, existe uma reflexão crítica que propõe a abertura da noção de psicoterapia quanto a pontos comumente
vistos como dogmas na formação do psicoterapeuta.
No primeiro caso, o radicalismo, mesmo que por vezes disfarçado,
mantém a perspectiva exclusivista não só em termos de teoria, como também de proposta terapêutica. Surgem propostas terapêuticas
que, além de manter o ideal obsoleto de uma psicoterapia de fato científica, isto é, condizente com o positivismo dominante na ciência moderna (STENGERS, 1995), associam-se a uma ideia salvacionista,
que, sempre aliada a uma promessa de eficácia, encontra considerável eco nos dilemas típicos do sujeito contemporâneo das sociedades globalizadas (BAUMANN, 1998). Assim, tais propostas, que compreendem abordagens psicoterápicas e medicamentosas, geralmente
são associadas a grupos de alto poderio econômico e lutam freneticamente por espaços na sociedade, enfatizando o próprio poder
técnico de que dispõem, mas sem maiores considerações quanto a questões essenciais da psicoterapia, tais como a participação do sujeito e a construção do contexto terapêutico. Na desqualificação das propostas rivais, tais propostas inserem-se ferozmente no mercado,
abrangendo desde a divulgação científica dos congressos, a mídia, o mercado editorial e os espaços de formação. Nesse sentido, vale destacar que elas, que se arvoram a uma cura a bem dizer mágica e imediata, tornam-se bem-vindas numa sociedade marcada por alta vulnerabilidade subjetiva, cujo cotidiano é perpassado pela lógica de consumo, pelo individualismo e pela fragilidade dos laços sociais (BAUMANN, 1998; LYPOVESKI, 2007).
Por outro lado, a reflexão crítica avançou consideravelmente no sentido de desconstruir determinados alicerces que ocupavam espaço
nada desprezível na formação como na prática do psicoterapeuta. A busca de uma teoria capaz de fazer calar as demais em termos de coerência científica e eficácia parece ter se tornado, no mínimo, um ideal distante, principalmente porque, em mais de 100 anos de psicoterapia, não foi possível ainda o estabelecimento de uma noção de progresso tal como ocorre nas ciências da natureza (STENGERS, 2001). Tanto o peso como o papel conferidos outrora à teoria também
têm passado por reformulações significativas: elas não são mais vistas como espelho da realidade (McNAMME & GERGEN, 1998), nem como um corpo transcendente, a-histórico e inquestionável sobre para o qual deveriam ser transpostas de forma linear as informações da realidade (GONZALEZ REY, 1997; ROUSTANG, 2001); pelo contrário, as teorias passam a ser vistas como um conjunto de referências que possibilitam o diálogo com a realidade, sem apresentar as respostas e soluções finais desse diálogo (GONZALEZ REY, 2007; NEUBERN, 2004). Em vez de buscar regularidades e sentidos universais, impondo-os à realidade, as teorias passam a se centrar muito mais na perspectiva de compreensão dos sentidos construídos localmente, que não são dados a priori, mas que emergem dos jogos sociais e culturais em que o sujeito toma parte em seu cotidiano (ANDERSON, 1997; GERGEN & KAYE, 1998). Tais perspectivas coincidem tanto com as possibilidades
de articulação entre propostas distintas (DELOURNE, 2001; NEUBERN,
2004; PAGÈS, 1993), como com uma maior abertura do campo da psicoterapia para a sociedade, onde ela passa a lidar com questões mais complexas do cotidiano, como a violência, a pobreza, a exclusão social e os problemas institucionais.
O que essas reflexões parecem destacar é que, cada vez mais, os problemas enfrentados pelo psicoterapeuta são problemas de complexidade.
Tomando-se como exemplo a depressão, que se constitui na atualidade como uma pandemia típica das sociedades contemporâneas (YAPKO, 2006), é necessário conceber que sua análise vai muito além de uma simples observação de sintomas ou de processos intrapsíquicos. Sua queixa se articula tanto com problemas de ordem orgânica como com uma sociedade de exigência de performance e consumo (EHRENBERG, 2000), ao mesmo tempo em que denota, vez por outra, a fragilidade dos laços sociais e o empobrecimento das trocas afetivas (BAUMANN, 2004; GALENDE, 1996). Mas, ao mesmo tempo, quem toma parte dessas negociações é um sujeito que vê seu mundo interno falir diante de tantas exigências, que paga as consequências
de um estilo de vida individualista e se sente incapacitado de criar outras opções diante de um tecido social comprometido e, frequentemente, fragmentado (GONZALEZ REY, 2007). A expressão de um sintoma como a depressão é perpassada por diferentes registros, sejam eles de ordem social, política, econômica, sejam culturais, que se articulam com a ação de um sujeito complexo que é simultaneamente
produtor e produto dessa sociedade. Em outras palavras, a fala, a construção de sentidos e emoções desse sujeito remetem a uma amplitude de processos, que não se esgotam num único foco de entendimento
(o indivíduo) nem num único aporte teórico, mas exigem a possibilidade de diálogo com a complexidade que os perpassa.
Essas considerações levam a pensar que a psicoterapia consiste num campo de atuação muito mais amplo do que a relação entre duas ou mais pessoas, vistas sob um foco de indivíduo fechado em si mesmo. Ela remete a uma possibilidade de construção do conhecimento,
como de uma relação clínica, marcada por articulações entre
diferentes dimensões que acontecem numa relação (NEUBERN, 2004), o que implica, basicamente, dois grandes desafios para o psicoterapeuta.
Primeiramente, há a necessidade de que ele esteja imbuído de espírito
de pesquisa, não no sentido de um mero aplicador de instrumentos,
mas no compromisso de dar continuidade a seus pensamentos
sem se contentar com respostas finais, substancialistas e conclusivas. Lidando com tal diversidade de processos, ele adentra a relação com o outro sem saber onde suas ideias chegarão e quais configurações
de processos ocorrerão naquele momento de encontro. Ele se depara exatamente com noções como a incerteza e o imprevisível, que demandam de si a necessidade de que se assuma como sujeito do conhecimento que não se escraviza a uma teoria, mas pode até corrompê-la diante das necessidades impostas por suas construções.
Nesse sentido, não é a confirmação da teoria que importa, mas a construção do sujeito que transforma o conhecimento (um substantivo)
em um ato de conhecer (verbo, uma ação) de maneira que este conhecer pode ser generalizado não por seus resultados, mas exatamente
por sua exemplaridade, isto é, pela forma em que seu processo ocorreu (SANTOS, 1989). A responsabilidade das construções, portanto,
não deve cair sobre um corpo impessoal como a teoria, mas sobre o psicoterapeuta enquanto sujeito, pois é ele quem toma parte na relação com o outro e faz que tomem vida as diferentes vozes teóricas
que o habitam.
Em segundo lugar, há o problema da diversidade. Conforme já levantado,
a demanda dos sujeitos que acorrem à psicoterapia hoje é perpassada por uma grande diversidade de dimensões que extrapolam
em muito a visão de uma única abordagem teórica. A construção de sentidos, de processos simbólicos, de formas de relação de diferentes
sujeitos e contextos encontram possibilidades de articulação que não têm como ser antecipadas por um arcabouço específico. O problema torna-se maior nesse sentido, uma vez que a tradição do conhecimento científico, inclusive a psicoterapia, tem sido a de simplificação,
a da redução de focos e ideias e não a da articulação (MORIN,
1990). No entanto, em vez de afirmar a impossibilidade de tal empreitada, é possível proceder, sem qualquer garantia de solução, à eleição de campos, onde tais articulações sejam possíveis. No caso da psicoterapia, a noção de subjetividade(2) torna-se promissora, uma vez que é a partir dela que se desenvolveu a possibilidade de construção das ciências humanas (MORIN, 1991; SANTOS, 1987) como também do campo da psicoterapia (NEUBERN, 2005). De certa maneira, é nela que se encontram as diferentes abordagens psicoterápicas, como também os diversos campos de estudo das ciências humanas e de outros campos, como as artes e a filosofia. Porém, como se trata de uma noção marginalizada ainda no interior do próprio paradigma científico, não é possível prever quais as implicações de que seja tomada
como uma noção fundamental não só no que se refere a uma forma de fazer ciência, como também de promover tais possibilidades de articulação. De qualquer forma, o problema está aberto e a psicoterapia,
em meio a tantos dilemas atuais, não tem como deixar de se deparar com ele.
2. Subjetividade é compreendida aqui como um dos polos que compõem o paradigma dominante ocidental (MORIN, 1991; NEUBERN, 2004; SANTOS, 1987; 1989). Além da noção de psique, nela pode haver outros objetos de estudo ou especulação de outros saberes, como Deus, o destino, as relações humanas, a estética e disciplinas como a filosofia,
as artes, a teologia, o direito.
Psicoterapia e Psicologia: Exclusividade ou Abertura?
O exposto acima permite considerar que, sendo a psicoterapia ligada
a um campo complexo como a subjetividade, dificilmente ela pode se constituir como campo exclusivo de uma única disciplina, como a Psicologia. A própria história da psicoterapia mostra um conjunto
de influências diversas que vale a pena recapitular de forma breve. Entre os precursores do magnetismo animal francês, Alexandre Bertrand (citado em NEUBERN, 2006), ainda em 1823, antecipava o problema, ao se colocar como um médico filósofo, destacando que a Medicina organicista de sua época não seria capaz de explicar os intrincados fenômenos do sonambulismo, enquanto seu contemporâneo,
o Marquês de Puységur (CARROY, 2000; MÉHEUST, 1999), que lançou as primeiras sementes da psicoterapia na modernidade, embora
não utilizasse esse termo, possuía formação militar.
Algumas décadas mais tarde, a Medicina torna-se dominante no campo e o termo “psicoterapia”, em 1872, é utilizado pelo médico inglês Tuke (citado em ROUDINESCO 2005), referindo-se à cura pela fala. Na França, o termo é amplamente divulgado pelo médico e hipnotista
Hyppolite Bernheim (1891/1995) e também ganha significativas
contribuições de seu colaborador e filósofo belga Joseph Delboeuf (1885/1993). O século XX é marcado por uma série de contribuições oriundas de médicos, até mesmo porque a Psicologia ainda se mantinha
restrita aos espaços acadêmicos em sua cruzada pelo reconhecimento
científico. Desde o criador da Psicanálise a nomes ilustres como Jung, Perls, Moreno, Erickson, Frankl, as contribuições parecem marcar essa tendência, embora um movimento significativo da segunda metade
do século – a terapia familiar – tenha se inspirado amplamente no trabalho de Bateson, antropólogo, e aberto o campo a profissionais de outras formações, como os psicólogos. Vale lembrar, ainda, que no Brasil a hegemonia médica se manteve e apenas por volta dos anos 60 os psicólogos obtiveram o direito reconhecido de praticar a psicoterapia.
Não é sem razão que a crítica contra o corporativismo dos psicólogos pode, facilmente, argumentar que o fechamento do campo a uma única disciplina poderia favorecer a um considerável enrijecimento
capaz de empobrecer práticas e reflexões teóricas.
Entretanto, antes que o apelo de exclusividade dos psicólogos seja considerado puro corporativismo, principalmente após considerações
históricas importantes como estas, é necessário que a discussão seja aprofundada em torno do termo “formação”. Isto porque mais importante que o título em si é o percurso traçado por tais personagens
que, compreendendo a complexidade da subjetividade como um campo de estudo, extrapolaram seus próprios limites disciplinares buscando articulações entre disciplinas diferentes. Era necessária a busca de relações de certa forma proibidas para que novas possibilidades
explicativas surgissem de modo mais fértil diante de processos que iam muito além dos muros e guetos de um único saber. É assim a que Bertrand busca socorro na Filosofia, Freud no estudo clássico, Jung na Mitologia, Moreno no teatro e no hassidismo, Erickson na Antropologia, entre outros, a fim de traçarem novas reflexões sobre suas práticas e poderem estabelecer relação mais próxima com as pessoas. Não foi sem razões que a psicoterapia se tornou tão diversificada
e que diferentes influências filosóficas e disciplinares vieram a compor seu campo (ELLENBERGER, 1970).
É nessa perspectiva que consideramos a importância de que o tema da exclusividade ou abertura seja tratado não em termos da pura origem acadêmica, mas de um “savoir-faire” necessário para a construção do papel de psicoterapeuta. Acrescentamos ainda que o grito exclusivista dos psicólogos seja lido de outra forma, pois suas contribuições não podem ser esquecidas neste momento, já que são bastante significativas em termos desse “savoir-faire”. Por um lado, a própria construção da Psicologia no século XX tem sido marcada por uma diversidade nada desprezível de escolas teóricas e disciplinas, de modo muito semelhante ao que ocorreu com a psicoterapia. Nesse sentido, embora os psicólogos necessitem de uma reflexão epistemológica
mais profunda, principalmente por sua tendência a se fechar radicalmente em guetos teóricos que não permitem o diálogo com a diferença, a formação em psicologia é talvez a mais diversificada e próxima das necessidades de formação em psicoterapia: além de lidar com diferentes escolas teóricas, o psicólogo se depara com disciplinas
ligadas a desenvolvimento, aprendizagem, cognição, psicopatologia,
psicologia familiar, psicologia social, sem contar a interface com outros campos, como iniciação à ciência, Antropologia, Sociologia, Filosofia, psicofarmacologia e neurociências. Desse modo, não são apenas os autores clínicos que influem na forma de pensar, tanto em termos da construção de procedimentos técnicos, como no que se refere à sensibilidade teórica que se desenvolve quanto a processos específicos da subjetividade. É assim que surgem propostas oriundas de outros campos e autores, como Skinner, Vigotsky (GONZALEZ REY, 2007) e da Psicologia Social (GERGEN, 1996). Vale mesmo destacar que essas construções remetem a uma dependência estreita entre psicoterapia e psicologia, na qual boa parte dos sistemas teóricos desta última foram originados ou guardam intensas relações com as contribuições de psicoterapeutas.
Devemos ainda destacar que a questão do savoir-faire não se restringe
apenas a questões históricas e de formação curricular: ele remete
principalmente a um conjunto de práticas sociais voltadas para a construção do papel do psicoterapeuta. No Brasil, particularmente, existe a instituição do estágio na universidade, em que o estudante é inserido em um conjunto de práticas específicas que o auxiliam a se posicionar diante dos dilemas cotidianos da prática clínica. Além de leituras teóricas e seus debates, ele conta com duas práticas da mais alta importância: o atendimento clínico e a supervisão. Enquanto no primeiro ele vivencia as questões cotidianas da realidade social e da subjetividade das pessoas, no segundo ele desenvolve a possibilidade de uma práxis que o leva não só ao desenvolvimento de habilidades
técnicas, mas também a uma articulação com a teoria de forma orgânica, rica e dinâmica, que dificilmente poderia ser atingida pela simples leitura de sala de aula. Em outras palavras, essas práticas permitem
um diferencial considerável, pois não se restringem à transmissão
técnica, mas a uma articulação com as tradições teóricas que remetem não só a um acurado potencial explicativo, como também à dimensão política da Psicologia como ciência. Não é, portanto, qualquer
narrativa ou explicação que pode ganhar legitimidade na prática psicoterápica, uma vez que as próprias teorias que as sustentam apresentam
um papel de grande importância nesse sentido.
Dito isto, consideramos que a construção de soluções entre a abertura
ou exclusividade do campo da psicoterapia não deve consistir na simples decisão por um ou outro lado. Ao mesmo tempo em que as vozes favoráveis à abertura alertam para as raízes históricas de uma clínica complexa e para os riscos de enrijecimento do campo, a reivindicação dos psicólogos possui certa pertinência, apesar do corporativismo,
uma vez que remete a uma formação diversa e a todo um savoir-faire já desenvolvido de forma muito significativa. Se as vozes favoráveis à abertura acenam com a possibilidade da renovação, da multiplicidade e da injeção do novo, os psicólogos se posicionam com a autoridade de um trabalho já desenvolvido que, de certa forma, lhes coloca numa posição central. Estamos, portanto, num momento de diálogo e é de suma importância que as diferentes vozes sejam ouvidas
no que possuem de pertinente e que os contextos de negociação sejam construídos para que a participação dos diferentes permita a construção de soluções capazes de dialogar com a complexidade da práxis psicoterápica.
Duas Palavras de Conclusão
No que se refere à ideia de uma clínica ampliada devido à sua complexidade, consideramos que seja necessário o resgate do espírito
de pesquisa na psicoterapia. Como já levantado, não a pesquisa mecânica e sem vida, limitada à aplicação de instrumentos, mas a pesquisa que se faz pelo espírito do sujeito que busca a inovação e a possibilidade de perguntar sempre a partir das respostas que surgirem
(BACHELARD, 1996). Assim, é importante que o psicoterapeuta desenvolva a possibilidade de se reinventar, no sentido de aprender a dialogar e questionar suas próprias teorias, e não simplesmente se submeter a elas como um escravo. É necessário que aprenda a assumir sua condição de sujeito. Parafraseando Bachelard (1996) no espírito científico é possível venerar o mestre, criticando-o. O espírito de escola tem sido um dos principais motivos para o fechamento dos guetos teóricos e para a barreira que impede o diálogo entre pensamentos
distintos (ROUSTANG, 2001).
Já no tocante ao problema da exclusividade, consideramos fundamental
que os argumentos sejam aprofundados e que os psicotera peutas coloquem em prática a habilidade do diálogo, indo além das aparências de títulos e diplomas que alimentam um cabo-de-guerra improdutivo. Ambas as vozes possuem argumentos pertinentes, como já levantado, e podem contribuir significativamente para a construção de soluções condizentes com a complexidade do campo da psicoterapia.
No entanto, é necessário que essa discussão permita uma reflexividade,
em que seus interlocutores possam colocar em pauta as questões que os perpassam, principalmente em termos de suas próprias instituições,
práticas sociais e de um tema que, apesar de sua potência, pouco tem surgido no debate – o mercado. Dialogar sobre tais temas é uma questão não só de maturidade, mas de condição para a construção da abertura de reflexão necessária para a psicoterapia. Afinal, como diria Morin (1991) se nos recusamos a conversar com os demônios que nos habitam, eles podem nos possuir e até nos devorar.
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