Eixo III
Relações com os demais grupos profissionais.
1. Estratégias políticas de construção de parcerias e enfrentamento dos conflitos.
2. Relação do Sistema Conselhos com a Associação Brasileira de Psicoterapia (ABRAP) e outras entidades.
Por uma política de parcerias
estratégicas interprofissionais
para o campo das psicoterapias no Brasil
Henrique J. Leal F. Rodrigues(1)
Para se pensar e construir uma política de parcerias é necessário ter em mente que o campo das psicoterapias é antigo, amplo e diversificado.
Logo, tratá-lo como um bem exclusivo da Psicologia nos remete a um equívoco não apenas epistemológico, mas também de ordem política.
A Filosofia foi historicamente o primeiro saber a efetivamente refletir
sobre a natureza das coisas e dos homens. Sendo assim, a saúde dos seres vivos se tornou parte integrante de suas análises. Deste modo, mais especificamente, o funcionamento e a correlação entre o psíquico e o somático se tornam uma fonte inesgotável de debates, onde o pragmatismo do cuidar e procurar dar soluções e resoluções às enfermidades levam o ser humano a perceber melhor que sua saúde é acima de tudo uma realidade complexa que o une e o leva a dialogar com as mais diversas causas e relações da natureza que o constitui.
1.
Psicólogo, Analista Reichiano e doutorando em Epistemologia (HCTE/UFRJ).
Em diferentes culturas (helênica, chinesa, hindu etc.) se produziu uma larga e extensa literatura que objetivava a reflexão, o entendimento
e o tratamento dos diferentes comportamentos e estados patológicos no interior destas sociedades. Porém, não se pode esquecer
que foi nesse pragmatismo supracitado que o trato com a saúde marca uma nova etapa na articulação entre o conhecimento e a prática
humana para com as enfermidades, o que leva o ser humano, no decorrer dos tempos, a encontrar formas de agir sobre si e os outros.
Nessa realidade surgem novos campos de conhecimento, como a Medicina e a Iatroquímica, que se dedicam especificamente aos males do psiquismo e do comportamento humano. Mas será com o advento da Revolução Industrial que a necessidade de compor novas alianças entre o capital e o trabalho forja e faz surgir novos campos de saber que procuraram dar conta das causas e consequências do que o processo de industrialização gerou.
Os problemas sociais decorrentes de uma política pautada no lucro e geradora de desequilíbrios sociais e econômicos produziram novas doenças somáticas, psicológicas e emocionais neste novo momento da humanidade. Com o tempo, saberes como a Sociologia e a História,
dentre outros, gradativamente ocuparam os vazios que ficaram a partir da dicotomia entre o corpo do trabalho (que a medicina deveria dar conta) e o não-corpo, ou seja, a alma-psiqué (que a religião, a filosofia etc. deveriam suprir e aplacar).
Pensar a psicoterapia como um exclusividade da Psicologia é não se dar conta da realidade que se apresenta em nosso entorno. Há muito tempo, por questões de mercado ou de visões diferentes, muitos psicólogos (pelo Brasil e mundo afora) se constituem como formadores de psicoterapeutas, que na maioria dos casos não são graduados em Psicologia.
Se para se formar psicanalista, psicoterapeuta corporal, gestaltista etc não há, em muitos casos, o pré-requisito de ser psicólogo, bastando
apenas a estes candidatos serem graduados em algum curso superior (de engenheiro a sociólogo, de médico a filósofo, de pedagogo
a fisioterapeuta, e assim por diante), qual a lógica de se lutar pela exclusividade? Não seria mais correto dedicar-se ao investimento em uma formação de qualidade nas faculdades de Psicologia, ainda falho na maioria dos cursos de graduação em Psicologia? Qual a diferença entre um psicólogo que recém sai da universidade e abre um consultório
(e por vezes nem supervisão ou psicoterapia pessoal faz) e um médico com sua formação pouco afeita às querelas do inconsciente?
Na realidade, qualquer que seja a formação acadêmica ou graduação
de um psicoterapeuta, a determinação de sua qualidade profissional
se dará no investimento de um processo psicoterapêutico pessoal, associado a uma supervisão de qualidade e a um profundo e consistente estudo dos conhecimentos psicoterápicos que irão pautar
sua prática clínica.
Outro ponto é que sejam criadas formas de avaliação, fiscalização e orientação ético profissional para que se possa demarcar de forma consistente o que seja uma prática piscoterápica que cuide e não prometa a cura no decorrer do processo de tratamento do indivíduo.
É ainda fundamental que a psicoterapia seja encarada como um saber que transcende as paredes dos consultórios ou serviços de atendimento psicoterápico e seja entendida como uma práxis transformadora do sujeito. Logo, também deve ser encarada como uma práxis fundamental no campo da ação social. A psicoterapia é antes de tudo um instrumental que deve ser entendido em seu âmbito mais amplo, ou seja, como um saber importante para os cidadãos que sofrem emocional e psicologicamente com e nas contradições
da vida cotidiana.
A psicoterapia deve ser reconhecida em sua amplitude social e de direitos da população em usufruir desta ferramenta.
Logo, deve ser colocada dentro de uma perspectiva política fundamental
para se construir uma sociedade com maior qualidade de vida individual e coletiva.
A psicoterapia deve ser inserida na luta social de direitos da população.
Logo, deve ser considerada dentro do que denominamos de Políticas Públicas e Sociais.
Ao se pensar dentro desta perspectiva, a psicoterapia não pode ser reduzida a um lugar específico ou de apêndice de um determinado
saber, seja o psicológico, seja o médico. A psicoterapia, por seu espectro de cores, pertence a uma articulação de saberes, e assim deve ser e será mais interessante e consistente para este campo ora se forjando.
O Sistema Conselhos, ao se dedicar ao tema neste ano de 2009, procurou trazer a baila uma temática que se apresenta como um dado de realidade na sociedade. As diferentes psicoterapias, terapias da mente, da psicanálise etc. estão no dia-a-dia da sociedade. Instituições
e entidades formadoras a cada instante colocam no mercado, em diferentes linhas de pensamento ou práticas clínicas, inúmeros profissionais qualificados ou não que irão atender a população. Como agir se o campo não é exclusivo?
Acima de tudo, deve-se valorizar a formação psicoterápica do psicólogo
e continuar a orientar e fiscalizar sua ação ética, o que irá reforçar mais ainda o nosso lugar como profissionais da psicoterapia,
aumentando ainda mais o reconhecimento da sociedade sobre a qualidade de nossos serviços. É necessário que os pacientes sempre tenham como acessar os Conselhos Regionais para dirimir dúvidas, serem orientados sobre o papel e a qualidade dos atendimentos e poderem ser protegidos dos maus profissionais.
A partir deste lugar de qualidade reconhecida, a Psicologia pode e deve continuar a luta por uma psicoterapia de qualidade para a população brasileira. Logo, tem como dever social e ético trazer para a discussão os outros saberes que se outorgam campos para prática psicoterápica.
Se é impossível impedir, tanto epistemologicamente quanto politicamente,
o acesso de outros saberes ao campo da psicoterapia, cabe à Psicologia reforçar a luta pela qualidade do atendimento e, para isto, além de ser exemplo na prática, na formação, na orientação e fiscalização dos seus, impõe ampliar e discutir, com sua experiência (nas faculdades, Conselhos Regionais, instituições ou entidades) de longa data, as referências mínimas para que outros saberes possam produzir uma psicoterapia de qualidade.
Para tal, encontrar parcerias é não apenas fundamental, mas necessário
para o aprofundamento e regulação do campo da psicoterapia.
Portanto o Eixo III proposto pelo Sistema Conselhos é de importância
imensa para o futuro de nossos debates e para a regulação democrática do campo das psicoterapias.
EIXO III: Relações com os demais grupos profissionais
a. Estratégias políticas de construção de parcerias e enfrentamento dos conflitos
b. Relação do Sistema Conselhos com a Associação Brasileira de Psicoterapia (ABRAP) e outras entidades
Para a Psicologia, encontrar parceiros que se disponham a dialogar
e aprofundar o tema é fundamental. Isso faz coro a uma imensa quantidade de psicólogos que se encontram ávidos pela discussão deste ponto, seja a favor ou contra a ampliação do campo das psicterapias
a outros saberes. O debate, no entanto, é inevitável.
Já existe, não só no Brasil, mas em diversos países da Europa e da América Latina, um tendência e, muitas vezes, um movimento pela regulação do campo das psicoterapias como além do saber psicológico. No Brasil já há, como foi mencionado no início do texto, um grande número de curso de formação abertos a graduados de áreas diferentes da psicologia, incluso com psicólogos que oferecem formação aberta a outras graduações. O que fazer? Fechar os olhos e ir em frente como se nada estivesse acontecendo? Impedir (e como?) o funcionamento destas formações? Impedir (e como?) estes profissionais
não psicólogos de trabalharem? Enfim, como agir?
O EIXO III não dá ou impõe respostas, mas aponta para a necessidade
urgente de ampliar a discussão e criar um amplo debate em torno da regulação do campo. Logo, por que não trazer para este debate a Associação Brasileira de Psiquiatria (com seu departamento de psicoterapia), a Associação Brasileira de Psicoterapia (ABRAP) , as Sociedades Formadoras de Psicoterapeutas (de diferentes abordagens),
as Faculdades de Psicologia, os diferentes profissionais?
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